Cap. 2

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Os olhos de Enid estavam turvos, como se uma neblina invisível houvesse tomado conta de sua visão. A tristeza a envolvia, uma manta pesada que a fazia sentir-se perdida em um labirinto sem saída. A ideia de ligar para Yoko e dar a "maravilhosa" e repetitiva notícia de que mais uma vez não havia dado certo a deixava com um bolo na garganta.

Ao chegar à cafeteria, o cheiro de café e a sensação de conforto a envolviam. Desde pequena, ela amava aquele lugar, onde sua mãe a levava para escolher seu doce favorito após a aula. Passavam horas conversando sobre tudo, especialmente sobre roupas, moda e estilistas. Eram bons tempos que, infelizmente, não voltariam mais.

Perdida em seus pensamentos, Enid abriu a porta da cafeteria automaticamente e não percebeu que, na mesma hora, esbarrara em alguém. A pessoa, com roupas escuras e um aroma doce misturado com um amadeirado suave, desapareceu rapidamente, como se quisesse evitar qualquer interação. Algo a intrigou: a silhueta misteriosa usava um longo casaco preto com capuz, e isso despertou sua curiosidade.

Ignorando o breve momento de distração, Enid finalmente entrou e se dirigiu a uma mesa no canto, seu "cantinho do aconchego" desde os 10 anos. Era um espaço confortável e discreto, ideal para ler, trabalhar ou apenas refletir.

Logo, um atendente simpático se aproximou. Ele era um garoto moreno de óculos, com cabelos encaracolados que batiam um pouco acima dos ombros.

— Bom dia, senhorita! Algum pedido em mente?

— Ah, eu... eu vou querer uma fatia de bolo de chocolate e um café expresso, por favor!

— É pra já, moça bonita! Ótima escolha, nosso bolo de chocolate é famosíssimo! Não vai se arrepender!

Enid parou para observar o atendente. Ele parecia novo, já que ela frequentava a cafeteria praticamente toda semana e o "famoso bolo de chocolate" era sua marca registrada.

— Sei que não vou! — disse, com um sorriso amigável. — Já comi várias vezes e é realmente o melhor bolo que já comi! Eu amo!

— Ah! Agora tudo faz sentido! É uma cliente "diária", já né? Comecei a trabalhar aqui no final da semana passada, então ainda não conheço muito os rostos dos clientes, mas com certeza me lembrarei do seu a partir de hoje! — comentou de maneira suave e divertida.

— Pois pelo visto, agora tenho mais uma pessoa que é apaixonada pelos bolos de chocolate daqui. Que droga! Mais uma competidora na parada! — continuou o garoto, fingindo revolta.

Sinclair riu do jeito descontraído e brincalhão do atendente. Pelo menos ele conseguiu animar uma parte de sua manhã frustrada.

— A propósito, prazer, me chamo Eugene! Vou pegar seu pedido e logo logo estou de volta! — comentou, indo em direção ao balcão.

Ela respondeu com um aceno de cabeça, ainda envolta em uma mistura de pensamentos sobre qual área tentaria seguir a partir de então. Foram aproximadamente cinco anos na estrada da moda, e nada parecia ter mudado. O tempo estava se tornando cansativo.

Sentia falta de se sentir apaixonada, de se sentir completa. Mais do que tudo, sentia falta de sua mãe, Esther Sinclair. Uma mulher apaixonante e genial, que havia plantado a semente da moda em seu coração. Embora não fosse uma estilista famosa, Esther era talentosa e acreditava que seus desenhos um dia estariam nas vitrines de lojas chiques em Londres, Paris ou qualquer outro lugar.

Enid havia escolhido a faculdade de moda determinada a fazer com que não apenas seus desenhos, mas também os de sua mãe, fossem reconhecidos. Agora, esse sonho parecia distante.

O chamado de Eugene a despertou de seus devaneios.

— Falei que eu não demorava! Aqui está! Um bolo de chocolate e um expresso no capricho para a loirinha perdida nos seus pensamentos! — disse, brincando.

The Mysterious Boss - (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora