Playing With My Boss || Delena

Testando sua paciência

Nova York
Quinta-feira, 07:35 PM

Damon

— Eu não vou falar sobre esse assunto agora, Lillian. — Minha voz reverbera em alto tom, carregada de irritação enquanto respondo à insistência da mulher do outro lado da linha. — Já deixei claro várias vezes que estou ocupado com meu trabalho, não retorne mais hoje. — Com a paciência esgotada, decido encerrar a chamada de forma abrupta, depositando o celular com força sobre a mesa. O som do impacto ecoa pela sala, e num instante, percebo as consequências do meu estresse ao presenciar uma rachadura na tela do aparelho. Sinto um arrepio de remorso percorrer meu corpo e me atordoar por minha própria falta de controle. Respiro fundo, tentando recuperar a calma, enquanto o silêncio toma conta do ambiente ao meu redor.

Minha mãe – a mulher em que eu conversava segundos atrás – dominava a arte de me tirar do sério. Eu perdi as contas de quantas ligações dela já havia recebido hoje, e estava com os nervos à flor da pele por ter que discutir novamente o mesmo assunto que ela vinha insistindo em abordar nos últimos meses, parecia que estávamos presos em um looping interminável de discussões e desentendimentos.

"Você já tem trinta e dois anos Damon, precisa arranjar uma esposa e sossegar." Eu quase conseguia escutar aquelas palavras saírem de sua boca pelo tanto de vezes que havia sido obrigado a ouvi-las. Lillian era de longe a pessoa mais insistente que eu conhecia, o que não me incomodava tanto inicialmente, até a mesma começar a se intrometer em minha privacidade, fingindo uma falsa preocupação, como se o verdadeiro motivo dela se "importar" tanto não fosse sua obsessão doentia por querer controlar minha vida à qualquer custo.

Suspiro com frustração e reviro os olhos, exausto daquele assunto interminável. Me afundo na minha cadeira de couro, desesperadamente em busca de conforto, mas não consigo evitar pensar uma última vez se minha mãe não estaria certa, nem que fosse por um breve momento.

Ser pai sempre foi algo que me intrigou. A ideia de ser responsável financeiramente e emocionalmente por outra vida parecia assustadoramente desafiadora. Eu admirava a forma como os pais criavam filhos com um amor inabalável e uma conexão emocional profunda. No entanto, a possibilidade de experimentar essa conexão única nunca esteve presente em meus sonhos. Talvez fosse porque eu não gostaria de forma alguma, abrir mão da minha liberdade ou porque simplesmente ainda não tinha encontrado alguém que despertasse meu desejo de construir uma família,  eu não sabia o motivo ao certo.

Mas isso definitivamente não me importava agora.

Em um movimento leve, balanço a cabeça para os lados, tentando afastar de uma vez por todas os pensamentos intrusivos que insistem em perturbar minha mente e meus olhos se fixam na figura da garota sentada em sua mesa, logo à minha frente. Seus cabelos castanhos caem levemente sobre os ombros, enquanto ela se inclina sutilmente para espreitar os olhos em minha direção. Uma faísca de curiosidade brilha em suas íris, como se ela estivesse ansiosa por descobrir o que me deixou tão irritado e por um momento, sinto a urgência de me levantar e confrontá-la, para fazê-la admitir que estava secretamente me observando.

Elena se achava muito esperta, pensando que eu não conseguiria notar as rápidas e disfarçadas espiadas que ela me lançava de modo furtivo durante o dia inteiro. No entanto, eu conseguia captar perfeitamente sua visão curiosa e inquieta, que procurava desvendar todos os meus movimentos. A cada interação, ela se esforçava para parecer desinteressada, mas seus olhos ávidos e inquisitivos entregavam sua verdadeira intenção.

Achava engraçado como sua linguagem corporal entregava absolutamente tudo que ela estava sentindo. Eu me deliciava em observar os pequenos sinais que traíam suas emoções. Quando ficava desconfortável, seu olhar fugia do meu, suas mãos inquietas buscavam algo para segurar e sua postura se tornava tensa, mas ela sempre tentava disfarçar.