Não Apenas Sobreviver

1

JUNHO DE 2001

O avião pousava suavemente no aeroporto de Atlanta enquanto eu observava a cidade pela janela. Não era a primeira vez que eu estivera ali, mas dessa vez era diferente. Viemos pra ficar.

Três meses haviam se passado desde que vovó tinha nos deixado, e mamãe, finalmente cedeu aos pedidos do meu pai de deixar o Brasil e nos mudarmos pra morar com ele de uma vez por todas. Agora não havia mais motivos pra que ela permanecesse comigo em outro país sendo que poderíamos ter uma vida melhor agora e sermos então definitivamente uma família.

Meus pais nunca tiveram em si um relacionamento, embora tivessem muito afeto e respeito um pelo outro, mas mamãe nunca cogitou a possibilidade de deixar a mãe -minha avó -pra trás, ela já tinha idade avançada e outros dois filhos e não sairia de perto deles de maneira alguma. Vovó sempre teve aquele instinto de manter a família inteira debaixo das asas. O que era muito bom.

Então agora depois de algumas conversas e muitos acordos fechados, aquela seria nossa vida de agora em diante. Um novo país e um novo começo.

Na saída do desembarque avistei uma placa com meu nome e o de mamãe, segurando a mesma, o homem quem eu esperava ansiosamente rever. Corri para os seus braços pelo meio das pessoas, embora sob os protestos de minha mãe com medo do alvoroço.

— Papai — eu gritei enquanto corria — Senti saudades.

—Eu também princesinha, quanto tempo — respondeu enquanto me abraçava e fazia carinho nos meu cabelos — Agora vamos ficar tanto tempo juntos que você vai enjoar de mim— disse divertido

— Isso nunca vai acontecer papai.

Mamãe chegou perto de nós e abraçou meu pai que logo nos encaminhou pra fora dali. O seguimos para o estacionamento, onde colocamos as bagagens no carro e seguimos viagem. Ainda tinha algum pedaço de chão até chegarmos no pequeno distrito onde iríamos nos estabelecer de fato.

"Bem-vindos ao Condado de King County" era o que dizia a placa na estrada. Era a cidadezinha no interior da Geórgia onde meu pai morava. Seria nosso novo lar a partir daquele momento.

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Alguns dias haviam se passado, estávamos tentando criar uma rotina, nos acostumarmos com a casa, quando escutamos batidas na porta e mamãe foi atender. Era uma mulher com um sorriso simpático, carregando algum tipo de recipiente nas mãos coberto com um pano de prato florido.

— Olá, posso ajudar? — disse mamãe com um sorriso também

— Oi, muito prazer, eu sou a Lori, sua vizinha da direita, soube que chegaram a uns dias, esperei vocês descansarem e resolvi dar boas vindas à vizinhança.

— Prazer, eu sou a Cláudia, entre — respondeu com um gesto pra que a mulher pudesse passar, pegando a vasilha de suas mãos e colocando na mesinha de centro — Essa é a Any, minha filha e do Robert, acabamos de chegar do Brasil, estamos nos instalando ainda — disse um pouco sem jeito ainda surpresa pela visita

— Oi querida — ela falou se virando na minha direção — Uma bela mocinha, animada por estar aqui?

— Sim — eu respondi um pouco envergonhada — estou achando muito legal

— Sabe, eu e meu marido conhecemos o Robert já alguns bons anos, costumamos ouvir muito sobre vocês. Vocês aqui nessa casa, acredite, é o maior sonho realizado da vida dele — ela disse olhando pra nós

— Bem, são pelo menos 10 anos de tentativas, mas agora tudo está resolvido. A família reunida. Agora é só aproveitar

— Claro, claro — respondeu Lori — Bom, eu só vim mesmo rapidinho me apresentar a vocês e dizer que se precisarem de alguma coisa, eu estou logo aqui do lado. Agora tenho que ir, tenho um bebê de 1 aninho, se chama Carl, que me espera com o pai. Quando se sentirem à vontade, podem me visitar. Gostaria muito

— Claro que sim, pode deixar que retribuiremos a visita em breve

A mulher se levantou indo em direção à porta, e mamãe foi prontamente abri-la. Se despediram e mamãe fechou a porta atrás de si.

— Então, podemos ver o que ela trouxe aqui? — perguntei animada

— Sim, pode olhar, está na hora mesmo na hora de um lanchinho — mamãe disse me acompanhando.

Enquanto comíamos a torta que Lori nos trouxe, papai chegou do trabalho, parecia um pouco cansado, apenas tirou blazer e deixou um cima de uma poltrona junto com sua pasta e se jogou no sofá ao meu lado.

— O que vocês estão saboreando aí com essas caras tão boas? — perguntou

— A vizinha veio aqui hoje e nos trouxe uma torta de maçã. Está realmente muito boa papai. Quer que eu tire um pedaço pra você?

Ele sorriu — Quero sim, estou faminto, essa estrada parecia que não tinha fim. Estava doido pra chegar em casa e ficar com minhas meninas.

Enquanto comíamos assistindo a um filme qualquer na televisão e conversávamos sobre o dia, eu olhava para a cena como se fosse um sonho. Meus pais e eu juntos, era uma delicadeza que não cabia em mim

— Eu amo muito vocês, sabia? — falei assim de repente — E amo estar aqui com vocês

— também te amamos muito Any — responderam juntos e então, caímos na risada.

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Alguns meses depois, mamãe e Lori ficaram
muito amigas, eu diria confidentes até. Eu passava bastante do meu tempo livre em sua casa, brincando com Carl. ela dizia que eu a ajudava muito a conseguir fazer as tarefas enquanto o pequeno estava distraído comigo. Eu me sentia feliz e útil. Eles eram como se fosse uma segunda família pra mim.

— Vamos embora, mocinha — mamãe disse aparecendo na porta — está na hora do jantar, seu pai já chegou.

Me despedi de Carl e Lori, seguindo mamãe em direção a nossa casa, passando por Rick, logo na saída.

— Já está indo? Acabei de chegar? — ele me perguntou em tom de brincadeira

— Pois é, não queria, mas tenho compromissos agora senhor policial, não posso me atrasar — respondi no mesmo tom

— Tudo bem então, amanhã chego mais cedo pra brincar com vocês então. Boa noite, Any

— Boa noite, Rick — falei seguindo meu caminho.

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