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Janeiro de 2004

— Enfim meu primeiro regional interclubes — disse eu admirando minha medalha orgulhosamente — Ainda nem tô acreditando.

— Eu sempre disse que você era muito boa, filha. Isso é mérito todo seu — papai falou com um sorriso de orelha a orelha.

— Podemos sair pra comemorar amanhã depois da escola, o que acha? — mamãe disse revezando olhar entre meu pai que dirigia e eu que estava no banco de trás do carro, bem no meio dos dois.

— Poderíamos ir ao cinema, depois andar um pouco — sugeri animada.

— Amanhã a gente vê isso com calma, princesa...—- falou meu pai enquanto pisava no freio bruscamente —- Oh, merda....

No momento seguinte, senti uma pancada forte no corpo, minha cabeça ficou zonza, em seguida houveram várias batidas. Tudo ficou escuro e então eu não senti mais nada.

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Acordei em um lugar muito iluminado, o que me fez piscar muitas vezes, um vozerio ao longe não sendo possível identificar as conversas, tudo parecia estar girando lentamente. O barulho de bip chamou minha atenção logo ao meu lado. Estava em um hospital.

Quando finalmente consegui focar minha visão, tentei me mexer, mas foi em vão, uma do insuportável atingiu meu corpo e eu me arrependi no mesmo minuto. Então só mexi a cabeça procurando alguém pelo quarto.

Numa poltrona de acompanhante, vi Lori encolhida, dormindo. Minha boca estava seca, com a voz um pouco fraca, me esforcei chamando a mulher algumas vezes. Até que ela acordou e me ouviu.Em um instante ela já estava ao meu lado, segurando minha mão.

— Oh, querida. Você acordou — disse com uma voz um pouco emocionada.

— Por que você está aqui? Cadê minha mãe? Meu pai? — perguntei aflita. Não entendendo muito bem o que estava acontecendo.

— Calma, eu vou chamar o médico pra te ver, ele vai conseguir explicar tudo. Eu já volto — disse e saiu do quarto de repente.

Uma equipe de médicos entrou no quarto pra me examinar, fizeram alguns testes, muitas perguntas. Eu só queria saber o que estava acontecendo ali.

— Olá Any — começou o homem com a prancheta na mão onde deixava várias anotações — Eu sou o Doutor Frankie Griffin. Sou o responsável pelo seu caso. Você se lembra de alguma coisa antes de acordar aqui?

Neguei com a cabeça tentando alcançar alguma memória de antes daquele quarto, mas não conseguia chegar a lugar algum.

— Você sofreu um acidente de carro — continuou Griffin — Estava com seus pais na estrada, próximo à entrada da cidade. Um caminhão perdeu o controle, atravessou a pista, atingindo vocês.

Lentamente, parecendo que meu corpo podia sentir cada batida que o carro deu, começaram a vir uns flashs na minha mente. Meu coração acelerou, fazendo os aparelhos apitarem desesperadamente, minha respiração parecia mais difícil do que nunca. Eu tentava falar alguma coisa, mas minha voz simplesmente não saía.

Percebendo minha agitação, o médico indicou a enfermeira que aplicasse uma dose de calmante na minha medicação.

— Eu volto mais tarde. Você vai dormir mais um pouco agora, melhor continuarmos depois.

Eu fui sentindo meu corpo ficando mole, meus olhos foram ficando pesados e não consegui mais manter meus olhos abertos.

"Amanhã a gente vê isso com calma, princesa... Oh, merda"

Abri meus olhos de repente, quase me sentando na cama. A dor invadiu meu corpo e então eu relaxei, com lágrimas nos olhos, eu só queria saber o que de fato tinha acontecido.

Estava sozinha no quarto. Toquei o sinal que chamava a enfermeira, que rapidamente apareceu, me verificou e saiu pra chamar o médico. Eu tinha dormido por poucas horas. Ainda estava no plantão do Dr. Griffin, que adentrou a sala, acompanhado da enfermeira e mais duas mulheres.

— Boa noite, Any — começou o médico — Essas são a Dra Lucy, psicóloga e a Srta. Angelina, assistente social. Estão me ajudando a cuidar de você.

As conversas que se seguiram naquele quarto pareciam pesadelos horríveis, eu escutava tudo de longe como se apenas meu corpo estivesse ali. Minha cabeça rodava, não conseguia acreditar que estava sozinha no mundo. Nem nas piores hipóteses, eu teria imaginado que estaria órfã aos 13 anos, em um país estrangeiro, longe da minha família de sangue. Iria pra um abrigo até que algum familiar reclamasse minha guarda ou fosse adotada. Mas quem iria querer adotar uma adolescente, que precisaria de muitos cuidados médicos dali em diante.

Meu mundo tinha caído, eu não queria mais pensar em nada, desejei ter tido o mesmo destino que meus pais. Não queria ficar sofrendo. Não entendia porque tinha sobrevivido pra ficar sozinha...

Chegou depois de alguns dias o que eu mais queria e também mais temia: a alta hospitalar.  Queria muito sair daquele quarto, do hospital, aquele lugar era horrível. Mas também estava com meu coração apertado com medo do queria seria de mim dali pra frente. Lágrimas teimavam em escapar dos meus olhos. Era a hora de conhecer a vida de uma adolescente órfã.

Estava pronta, esperando as enfermeiras virem me tirar do quarto pra encontrar a assistente social, quando a porta do quarto se abriu. Entraram um maqueiro com uma cadeira de rodas pra eu me sentar, a assistente social, o médico e por fim Rick e Lori. O que me fez ficar um pouco confusa, mas também feliz por terem vindo se despedir de mim. Não sabia quando poderia vê-los de novo.

— Senhorita Clark, como você está se sentindo hoje? — perguntou o médico

— Apenas algumas partes doloridas, mas acho que pelo menos o pior já passou — respondi

— Muito bem, hoje você está de alta — continuou o Dr.— E temos uma notícia que acho que vai deixá-la um pouco melhor.

Franzi a testa na direção do homem — Como assim?

— Você não irá mais para um abrigo — disse sorrindo e fazendo um sinal na direção Lori e Rick.

Me virei pra eles dizendo — Eu não tô entendendo, o que aconteceu?

— Você vai pra casa com a gente. Robert nunca me perdoaria se deixasse a filha dele em um abrigo para adoção — Falou Rick, com aquela voz mediadora dele é um grande sorriso no rosto

— Tenho certeza que o Carl vai adorar te ter todos os dias conosco — disse Lori já toda emocionada vindo na minha direção e passando os braços pelos meus ombros.

Nesse ponto, eu já chorava mais ainda, não consegui pronunciar mais um obrigada em um sussurro que não tenho certeza se alguém ouviu. Abracei o casal Grimes que estavam abaixados perto da cadeira, não acreditando no que estava acontecendo. Tinha perdido uma família, mas também ganhei outra.

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Não Apenas Sobreviver Onde histórias criam vida. Descubra agora