Any Carter "Grimes"
Os dias seguintes ocorrem quase em normalidade, cada um com seus afazeres, trabalhando juntos para manter a ordem da fazenda. Hershel aparentemente caiu em si e passou a nos tolerar mais gentilmente no seu quintal. Com exceção de Shane, é claro. O homem se transformou totalmente e agora anda nos assustando com seu comportamento.
O trabalho de fortificar o lugar para nos manter seguros durante o inverno está a todo vapor. Enquanto isso, Handall está no celeiro sob vigia contínua. O plano é deixá-lo longe daqui com alguns suprimentos, Rick e Shane estão encarregados disso.
A relação dos dois está cada vez mais estremecida. Mas meu pai ainda tenta contornar a situação para manter o grupo junto. Precisamos de toda a força de trabalho.
Estou andando pela fazenda e ajudando nas tarefas como cuidar da horta e alimentar alguns dos animais. Se não fosse pelas vigias e verificações constantes do perímetro, mal podia acreditar no perigo que existe do lado de fora ou sequer que estamos em um apocalipse.
Após terminar o serviço, me sento em uma sombra de árvore bem próxima a casa e fico apenas observando a movimentação das pessoas até Glenn chegar e sentar ao meu lado.
— Fala aí Coréia, o que tá pegando? — pergunto ao notar seu rosto quase que numa careta desanimada.
— Sei lá, só estou pensando em mim e na Maggie. Desde que ela disse que me amava outro dia, eu só não consigo mais agir normalmente. Nem com ela e nem com ninguém. Só fico pensando em coisas ruins que podem acontecer.
— Mas você não quer mais ficar com ela por causa disso? Sabe que mesmo antes da queda, a vida era um amontoado de más probabilidades também. Mesmo antes poderia acontecer.
— Eu sei também, minha cabeça só está dando um nó.
— Ah! Mas isso foi por me abandonar, isso sim. Sei que os olhos verdes da Maggie são encantadores, mas agora você só quer saber de namoricos e me deixa aqui de lado — soco seu ombro em falsa ofensa.
— Deixa de ser ciumenta, Brasil. Eu estou aqui todos os dias — tentou se defender — E você arrumou outro amigo também que eu vi.
— Não sei de onde.
— Todo mundo sabe que saiu com Daryl para caçar. Esqueceu que as notícias correm aqui?
— Primeiro que foi uma vez só, segundo que foi um treino apenas. Conversar não é o forte dele, não conta. Fora que nem rola uma fofoquinha básica.
— E eu sou fofoqueiro por acaso? — pergunta quase genuinamente ofendido.
— Jamais. Apenas comenta sobre os fatos — digo em uma risada sarcástica.
— Eu não vou levar pro coração pra gente continuar amigos tá.
— Isso se não fizer as pazes com a morena e me esquecer de novo.
— Você está carente, devia arrumar um namorado também, isso sim.
O olho incrédula de suas palavras, como esse garoto tem a audácia de me acusar assim?
— Ah claro que sim. Inclusive tenho muitas opções à disposição. Eu não preciso de namorado.
— Você fala assim por que acha que seu ex pode estar por aí não é? — fala sério abaixando o tom de voz.
— As vezes sim — confesso baixinho — eu nunca soube se ele conseguiu pegar o avião, a última vez que nos falamos ele estava no aeroporto, logo depois os sinais caíram e com o caos instalado, nunca soube o que aconteceu. Não que eu fique alimentando esperanças, mas as vezes fico pensando sobre... se ele embarcou... se está por aí em algum lugar — suspiro profundamente tentando afastar as imagens se formando em minha cabeça — ou se apenas não conseguiu — sinto meus olhos arderem e afasto as lágrimas antes mesmo de chegarem.
— Eu sinto muito, não sendo pessimista, sabe, mas ficar nessa acaba penas se torturando. Acho que é um tempo muito difícil, provavelmente são perguntas sem respostas — ele faz uma breve pausa e fala animado — você ganhou o melhor amigo mais legal do apocalipse. Eu — fala abrindo os braços e vindo me rodear com eles.
— Você é muito convencido — falo retribuindo o abraço — Usa essa confiança com a fazendeira, se resolve com ela. Não é todo dia que uma gata daquela está de bobeira por aí.
— Claro, com certeza vou conversar com ela depois. E você tenta seguir em frente. O que tiver de ser, vai acontecer uma hora ou outra.
Apenas concordei com a cabeça. Afinal, Glenn tinha razão, o passado e o velho mundo agora eram detalhe em vista da luta de sobreviver cada dia em suspense. Se eu fosse pra eu receber uma resposta do universo, mais cedo ou mais tarde ela chegaria.
Conversamos mais um pouco e ele saiu me deixando sozinha outra vez. Resolvi sair dali também e fui dar uma volta pelo lugar, contornei a casa e fui andando até chegar perto das cercas e encontrar Daryl martelando algumas madeiras para reforçar.
Depois do dia de treino, mal tínhamos trocados um bom dia ou alguma palavra de cumprimento. Afinal ele tinha resolvido se mudar para longe do acampamento e se afastou mais ainda de todos.
— Oi — cumprimentei me aproximando — Precisa de ajuda?
Ele apenas me olhou com sua tradicional cara amarrada negando com a cabeça. Já vi que está de mal humor pra variar, normal.
— Certeza? — tentei continuar simpática.
— Pode pegar segurar aqui pra mim? — ele cedeu apontando uma das tábuas a serem pregadas.
Aproximei mais alguns passos, colocando as mãos onde ele tinha apontado enquanto ele mexia em uma caixa a procura de mais pregos.
Ficamos em silêncio durante a tarefa, o quebrando apenas quando o homem fazia alguma orientação nova quase como um grunhido com sua voz rouca.O olhar concentrado em seu trabalho era satisfatório de ver. Seus olhos estreitos analisando o próprio trabalho, combinado com o cabelo grudado na testa com o suor que brotava devido ao calor e ao esforço que fazia, seus músculos exibidos pela camisa com mangas rasgadas, tensionando, ficando ainda mais salientes. O modo como mordia o lábio inferior enquanto tomava as próximas decisões as vezes se tornava bastante convidativo.
— Para com isso, tá encarando — ele fala de repente me tirando dos meus pensamentos impróprios.
— Não tô não — tento me defender, mas meu pequeno susto acaba me entregando o quanto estava distraída o admirando.
Ele dá uma pequena risadinha nasal. Como um deboche... Estreito meus olhos para ele fechando o cenho na tentativa de disfarçar meu constrangimento. Mas o caçador parece não se importar e apenas continua seu trabalho.
Quando a última tábua está devidamente colocada, juntamos todas as ferramentas e caminhamos em direção ao celeiro para guardá-las.
Com tudo em seu devido lugar, caminhamos para fora e em seguida a porta é fechada. Daryl dá uma olhada ao redor e verifica a altura do sol, ainda é o meio da tarde.Ele ajeita a besta sobre os ombros e dá alguns passos, mas não o acompanho.
— Vou caçar — ele diz se virando — se por acaso alguém quiser saber...
— Posso ir com você? — a pergunta sai automática, quando percebo, já saiu dos meus lábios.
— Pra quê? — retruca com desdém.
— Ajudar, não sei — tento defender mas pela sua expressão falhei miseravelmente.
— Nah, fico melhor sozinho — diz e sai andando sem chance de ter alguma discussão — Volto ao anoitecer
— Babaca — sussurro pra mim mesma, não adianta tentar se aproximar de ogros.

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Não Apenas Sobreviver
FanfictionUma garota que já renasceu uma vez, agora se encontra em um apocalipse tentado evitar o que ela já viu tão de perto. A morte Um homem, com um passado difícil, sendo obrigado a colocar em prática todas as habilidades de sobrevivência pra manter a si...