Efeitos Colaterais

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Dei uma “empurrada” no chão, numa tentativa desesperada e inútil de fazer dar certo.

Eu não sei como quem me possuiu aquela vez conseguiu me fazer voar, mas eu não conseguia nada perto daquela estabilidade, que aparentemente eu tive.

Tomei um pouco de água, já sentindo meu corpo cansar por todo o esforço que eu fazia para tentar me erguer alguns centímetros do chão. Olhei em volta vendo o restante das meninas se saírem razoavelmente bem no que tentavam, já estava acostumada a sentir os jatos de vento e os respingos de água hora ou outra, mas hoje, particularmente, toda aquela bagunça estava tirando meu foco.

Ou simplesmente era raiva por todo mundo estar tendo resultados menos eu.

Respirei fundo e tomei mais um pouco de água antes de deixar a garrafinha com o restante das minhas coisas. Fiquei vários segundos com os olhos fechados, com as pernas bem juntas e os braços levemente abertos, igual sempre via Simon fazendo. A forma que nossos poderes funcionavam eram extremamente diferentes, mas eu estava tentando me agarrar em tudo que pudesse ajudar, e bom, eu lembro que ele voava muito bem.

Tentei subir de forma lenta, mas eu sempre fui péssima em movimentos suaves.

Talvez fosse esse o segredo, não der delicada.

Fiz um pouco mais de força, sem resultados, e no impulso de conseguir algo, fiz mais força.

Força demais.

Fui arremessada para cima. A sensação era diferente, não era como se algo me empurrasse ou puxasse, era mais como a sensação de cair, mas para cima.

Nos poucos segundos entre “cair pra cima” e de repente desacelerar até começar a cair de verdade, não consegui fazer nada para tornar a queda menos brusca, muito menos deu tempo de alguém botar e fazer algo.

Caí de lado na grama e a dor lancinante no meu ombro mostrava que aquilo não era para ter acontecido.

— Calma, calma — era Ava.

Abri um pouco os olhos, a observando se aproximar.

— Enfermaria — ela disse, se abaixando para me pegar.

Engoli um grito de dor quando meu ombro mexeu.

— Dispensadas, não posso deixá-las sem supervisão. Continuamos amanhã.

Ela não perguntou se eu estava bem, onde havia me machucado, e nem nada do tipo, apenas me carregou até a enfermaria. Me segurava de forma meio desajeitada, porque afinal, eu não era mais uma criança, e provavelmente não era nada leve, mas assim como não perguntou nada, não reclamou e nem me deu uma bronca pela minha imprudência ao me arremessar para cima daquele jeito.

Fui colocada em uma cama enquanto Ava conversava com a senhorinha da enfermaria. Eu não prestava muita atenção, porque a dor no meu ombro era tão forte que meu cérebro parecia estar colapsando.

Mas quando Nathan apareceu, levei um pequeno susto e passei a prestar atenção.

— Claro, posso fazer — ele disse prontamente.

Veio até mim, me olhando com cuidado.

— O que aconteceu dessa vez? — deu um pequeno sorriso, tentando aliviar a situação.

— Meu ombro — disse baixo.

— Ta — ele colocou a mão no meu ombro — ui. Vai doer, vamos esperar alguém chegar para te dopar.

Esperei que minha mãe fosse ser acionada, mas um homem alto apareceu, e sem falar nada, tocou minha testa para que eu dormisse.

*

(Sem) Medo - IIOnde histórias criam vida. Descubra agora