Hora de parar

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Encarei o buraco na parede por alguns segundos. Era um perfeito retângulo, como uma porta, que com certeza, não existia quando fiquei presa ali.

Aquilo havia sido, de fato, planejado e era perturbador saber que nossas ações para tentar impedir tudo foram não apenas antecipadas, mas como mapeadas para nos trazer ali.

Eu ainda tremia, mas era de pura raiva, e pelo mesmo motivo que as poucas lágrimas escorregavam pelas minhas bochechas.

Limpei meu rosto com o dorso da mão e respirei fundo antes de sair da cela. Precisava subir e impedir que continuássemos a perder tempo ali enquanto algo maior acontecia em outro lugar, precisava fazer todos pararem antes daquilo virar um banho de sangue ainda maior.

Não sei quanto tempo fiquei lá embaixo, mas enquanto subia as escadas via que todos os andares estavam silenciosos, e antes que eu ficasse preocupada, ouvi uma voz que fez meu coração se acalmar:

— Não fala comigo agora! — um barulho alto de algo caindo logo depois — você só tinha que fazer uma maldita coisa, como a perdeu?

Engoli em seco, não sabendo com quem Charlie gritava, mas ajeitei a espada na mão e segui sua voz que parecia vir de um ou dois andares para cima.

Não olhei os corpos estirados enquanto passava brevemente pelos andares antes de voltar a subir rapidamente, já era perturbador demais saber que eu era a responsável por algumas mortes ali, não queria e nem podia ficar remoendo isso naquele momento.

Virei um lance de escadas, prontas para continuar subindo quando trombei em alguém que corria muito rápido na direção oposta.

Senti o impacto forte no ombro e nem tive como tentar me segurar ou equilibrar, porque rapidamente cai e começamos a capotar alguns lances da escada, batendo um contra o outro e contra os degraus e corrimão.

Foi muito rápido, mas eu senti cada parte do meu corpo atingida antes de parar. Estava largada de cara no chão, sem força nem pra gemer de dor.

— Puta merda — era Nick, eu reconheceria aquela voz estressadinha em qualquer lugar — Emily? — ele disse assustado, como se só notasse naquele momento quem havia levado escada abaixo — ELA TA AQUI! A EMY TA AQUI! — ele gritou tão alto que me encolhi ainda mais.

Fechei ainda mais os olhos ao tentar mexer a perna e sentir uma dor absurda na coxa direita, então fiz força para rolar para o outro lado, tirando o rosto do chão para virar de costas para ele, respirando com força pela boca.

— Onde diabos você se meteu, garota? — ele parecia bravo, aflito.

Abri os olhos com dificuldade. Nick estava completamente imundo, seus cabelos loiros quase brancos manchados de vermelho, assim como seu rosto e roupas.

Antes que eu pudesse responder, Nick foi empurrado bruscamente para o lado e Charlie apareceu no meu campo de visão. Segurou meu rosto e esse movimento fez meu nariz doer e rapidamente fechei os olhos respirando fundo pela boca novamente.

— Graças a Deus está viva — ele disse aliviado, estava sujo de sangue igual Nick — como se sente?

— Acho que quebrei a perna, talvez o nariz também — disse, erguendo uma mão para segurar o braço dele — meus pais?

— Estão bem. Eles, a Tay e nós dois estávamos te procurando — seus olhos estavam marejados.

Tentei assentir, mas tenho a sensação que nem me mexi.

— Por que está tudo tão quieto?

— Eles eram muitos, mas eram fracos, não foi difícil e nem demorado esvaziar todas as salas — ele parecia feliz por aquilo — acabou, lindinha.

(Sem) Medo - IIOnde histórias criam vida. Descubra agora