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No princípio ele não sabia o que ele era ou porque estava tão faminto. Simplesmente abriu os olhos e viu o mundo pela primeira vez. Como um recém criado, ele sentiu necessidade de explorar. Mas não importava o quanto comesse, seu estômago ainda reclamava de fome.
Uma fome que parecia nunca ter fim. Ele nunca se sentia satisfeito. Como um predador faminto e descontrolado, ele devorou tudo o que viu pela frente. Aos poucos sua consciência foi tomando forma, era como se ele precisasse devorar para evoluir.
Durante muito séculos foi assim. Mas então eles aparecerão. Humanos e suas vidas frágeis e curiosas, ele gostava de observá-los. Mas somente quando ganhou suas asas ele pôde vê-los mais de perto. Eles eram diferentes de sua espécie, embora para ele fosse mais do que óbvio que ninguém em Tenebris era como ele.
Mas subir para a superfície se tornou um problema. Ele sabia que deveria se esconder dos humanos, mas sua curiosidade se tornou maior. Eles eram uma espécie que ele ainda não havia comido. Mas curiosamente ele ainda não sentiu vontade de devorá-los também.
Quando sua curiosidade se tornou insuportável para se ignorar, sua criadora apareceu. Não que ele não tivesse percebido a presença fantasmagórica da mulher que se esgueirava nas sombras para vigiá-lo, mas também nunca quis fazer contato com a criatura. Ele sabia que muitos em Tenebris o temiam, então ele simplesmente não tentava socializar.
Ele era um ser diferente dos outros. Era capaz de devorar qualquer coisa que quisesse, por isso os outros se mantinham à distância. Mas sua criadora explicou muitas coisas das quais ele realmente não se importava. Se ele fazia parte de um plano maior e que sua criação foi a pedidos dela, isso não fazia deles íntimos.
Ele realmente não sentia nada além da fome monstruosa que transformava sua existência em algo para se lastimar. As coisas ficaram piores quando ele passou a observar alguns seres acasalados. Até mesmo os animais que ele comia tinham parceiros e filhotes. Isso tornou sua tristeza e angústia quase insuportáveis, ele a culpou. Sua criadora desejou que ele existisse em um mundo em que ele não se encaixava. Onde não tinha um igual.
Para sua total surpresa, sua criadora trouxe uma criatura estranha e alada para sua caverna dias depois. As grandes asas daquele ser mágico eram imensas.
“ Devore e ganhe suas asas”
Ele não questionou sua criadora apesar de seu aborrecimento existencial, ao longo dos séculos ele se acostumou com suas visitas e presentes inusitados. Ela o alimentava com alguns seres que ele próprio nunca tinha visto. Mas sabia que ao devorá-los ganhava habilidades novas. Como esperado, grandes asas apareceram em suas costas.
