PAVILHÃO

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Tzuyu

— Que porra de chuva é essa? — ao meu lado, Jeongyeon despeja uma de suas várias reclamações enquanto retira o excesso de água do casaco.

Seu cabelo está ensopado e duvido que o meu esteja diferente, mas trato de esquecer do mau humor compartilhado para me concentrar no que temos até agora: um coelho morto já limpo e um punhado de frutas silvestres que não matam. É promissor.

Fazem dias que o céu está caindo, provavelmente uma massa de ar do sul. Chegamos ao ponto em que as criaturas não são mais nossa maior preocupação, elas estarão aqui faça chuva ou faça sol, e sim os rastros do grupo que estão começando a desaparecer para nós. Além disso, existe o risco de doenças e hipotermia, nossos recursos minguando, não é uma boa previsão.

Isso me irrita tanto quanto à Jeongyeon que continua sacudindo a cabeça como um cachorro, desistindo no meio do processo para analisar melhor o sinal que encontramos. Seu cabelo antes curto ultrapassa os ombros, comprimento suficiente para que ela não se sinta bem em mantê-lo molhado por mais que alguns minutos. O que se pode fazer, afinal? Duvido que ela queira sujar o cabelo com alguma de nossas lâminas.

De qualquer forma, nosso foco é descobrir a localização de Sana. A placa do pavilhão logo atrás de mim informa com letras meio apagadas um borrado Mujinjeong, lugar que costumava servir de monumento histórico ou coisa do tipo; acho que não sobrou ninguém para lembrá-lo de seu propósito.

A área do pavilhão é tão pequena que exploramos o perímetro quase inteiro em meia hora até encontrar o símbolo vermelho na entrada do pavilhão; obra de Dino, muito provavelmente, ele é o mais inclinado do grupo a seguir o protocolo mesmo quando forçado a sair dele e isso me faz querer abraçá-lo assim que nos encontramos novamente.

Além disso, aposto que Sana tem um dedo nisso. Ela é esperta, mais que o encarregado da missão, e não desviaria da rota sem deixar algum aviso antes. Sei bem o quanto a mulher é capaz de te enrolar somente com a lábia, então eu não ficaria surpresa se ela tivesse se imcubido de distrair o babaca enquanto Dino gravava o sinal na placa.

Lá, o desenho se estende o bastante para ser notado à distância. Apis cerana, ou abelha melífera asiática, representação de nossa resistência neste mundo abandonado, símbolo da colônia. Fruto de uma brincadeira entre os primeiros residentes, seriamente estabelecido pelo pai de Jongdae.

Murmuro um agradecimento silencioso esperando que o espírito dele esteja nos acompanhando e protegendo.

— Se as nuvens ficarem por mais dois dias é muito. – ainda que a pergunta tenha sido retórica, respondo Jeongyeon de qualquer forma. 

— Espero que sim. — ela suspira e se afasta, encostando-se na placa com os braços cruzados. — Pelo menos não é chuva radioativa.

Fecho os olhos, cansada antes mesmo do assunto vingar. Jeongyeon sempre foi aficionada por narrativas conspiracionistas desde a infância, preferindo passar horas ouvindo as baboseiras que quem vivenciou a queda da antiga sociedade enquanto eu dedilhava o violão do meu pai em algum canto.

Às vezes é difícil entender como nos damos bem tendo mentalidades tão diferentes, deve ser porque, desde que nos acertamos, estamos no que for sempre uma pela outra. Não sei como convenceria Mina ou Jeonghan sem o apoio dela.

— Nem ouse começar com essa história de novo!

— Você acha mesmo que os testes nucleares na Coréia do Norte foram apenas uma coincidência antes da infecção se espalhar? Foram eles que iniciaram o apocalipse, Tzuyu!

— Eu acho que isso não faz a mínima diferença agora, — suspiro, mordendo uma maçã apanhada no caminho — precisamos avançar… pode chamar os outros?

THE LAST OF TWICEOnde histórias criam vida. Descubra agora