Capítulo 01

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📍Rio de Janeiro, complexo do alemão. 02:44am

Ceci💐

Suspiro de alívio sentindo a brisa fria e fresca da chuva passar pela janela e encontrar o meu quarto. É uma noite quente de sábado, que não é tão diferente das que já estou acostumada. O barulho alto das músicas obscenas do baile invadem meus ouvidos, fazendo as melodias entrarem dentro da minha mente.

Passamos a tarde toda com calor aqui no Rio de Janeiro, no nível de gente passar realmente mal. Observo a fina cortina branca quase transparente da janela balançar. Me sento na cama me levantando, caminhando até a janela e me sentando na escrivaninha em frente ela.

Observo de longe a casa dele. Escura, tão escura quanto ele mesmo. O quarto quieto e o leve som da chuva engrossando e se misturando com as batidas de funk fazem meus pensamentos me levarem até aquele dia.

Tanta gente gritando.. pessoas correndo desesperadas para salvarem suas vidas. Lembro como se fosse hoje, nunca tinha acontecido isso antes, ninguém tinha invadido o morro na hora do baile, parecia a coisa menos provável de se acontecer.

Quando o primeiro tiro ecoou, meu coração se acelerou e eu não tive reação. A Cibele tinha sumido e eu não tinha o que fazer, nunca tive que fazer nada nessas situações pois nunca tinha me acontecido. Eu nunca tinha ido para um baile, não sabia como funcionava ou como acontecia as coisas lá.

Lembro de me abaixar e começar a pedir perdão por todos os meus pecados, orei por tudo, lembrei de coisas que nunca tinham se passado na minha cabeça antes. Reconheci o que somos, nós não somos nada. Eu diria que naquele momento, boa ou ruim, uma nova Maria Cecília nasceu em mim, e eu tive mais certeza ainda, quando levantei o rosto e vi ele.

O longo cabelo loiro acinzentado de Priscila estava vermelho, ensanguentado. Seus olhos claros estavam sem vida, sem um brilho cruelmente tirado por um tiro na cabeça. Meu coração se apertou ainda mais quando olhei e vi ele, o seu rosto estava acabado, o mundo dele tinha acabado ali mesmo e eu tinha certeza disso.

Não desceu nenhuma lágrima. Mas o brilho dos seus olhos, a marca do sorriso alegre, o rosto descontraído e a tranquilidade, haviam sidos cruelmente arrancados dele naquele momento.

Arregalo os olhos me despertando dos meus pensamentos quando um barulho alto de trovão ecoa por toda parte, um clarão invade o meu rosto e quarto, e a tempestade se engrossa. Um pouco distante de mim, assisto a luz do seu quarto se acender no mesmo instante em que mais um trovão ecoa.

Ele atravessa a janela parando exatamente na porta do banheiro, onde tira a camisa que usou no baile. Não perco tempo em pegar minha câmera na última gaveta da escrivaninha, posiciono ela e bato uma foto perfeita dos seus ombros largos, que com certeza mais tarde eu passaria horas vendo.

Abro a galeria da câmera para ver como a foto se saiu, e acabo me distraindo examinando cada detalhe de suas costas largas e tatuadas. Quando olho para cima novamente, mordo meu lábio inferior vendo ele ainda parado no mesmo lugar.

Mordo ainda mais forte o meu lábio.

Suas mãos estavam no cós da bermuda jeans clara. Será que ele vai mesmo fazer isso o que eu estou pensando? Posiciono minha câmera novamente, e  meus olhos brilham quando vejo a cena sensual da sua bermuda e cueca deslizando por suas pernas, o deixando  totalmente nu.

Um sorriso de canto se forma em mim quando vejo o quão perfeita aquela foto ficou. Não esperava que o trovão tinha a bunda tão bonita assim, isso realmente me surpreendeu. Abro mais uma vez a galeria, fazendo meu corpo se acender vendo aquela foto. Um calor terrível me invade, e com um suspiro longo, eu amarro o meu cabelo moreno.

Será uma longa noite, Maria Cecília...


Continua...





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