Capítulo 12

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📍Rio de Janeiro, Complexo do Alemão. 11:38am.

Trovão🌩

Dou uma tragada no meu baseado enquanto relaxo na cadeira. Olho pra mesa cheia de folhas e anotações, bagulho chato do caralho, aqui tem trabalho de sobra pra fazer. Sinto meus ombros relaxarem a medida que vou fumando cada vez mais o cigarro.

Fecho os olhos na maior paz, tudo tranquilo. Mais de dois meses sem invasão, e o tráfico tá cada vez melhor. Fechamos parceria com geral ao redor, tamo fortalecido de uma certa forma. Mais tarde o armamento pesado chega, e em menos de uma semana a gente invade o morro rival.

De repente minha mente voa longe, voa pra ela. Minha loirinha faz falta pra caralho, sinto falta de ter ela aqui comigo, sorrindo, ajudando. Ela era a mulher mais foda que já passou na minha vida, tá ligado? Forte, guerreira, humilde, mas de certa forma, bipolar também.

Sorrio ao pensar nela, puta merda, que saudade. Mas minha visão muda, minha cabeça vai pra outro lugar agora, Maria Cecília. Não gosto de pensar nela, mas a porra do meu cérebro fudido insiste naquela garota.

Porra, me lembro até hoje do olhar que ela me lançou quando encarou o fundo dos meus olhos no dia da morte da Priscila. Aquele olhar amendoado, diferente do da Priscila, o olhar dela era negro como noite. Bagulho intenso também, tá ligado?

Parecia que ela viu através da minha alma naquele dia, uma parada de outro mundo. Não gosto de ter a Maria Cecília por perto, não consigo manter ela nem de longe. Mesmo de longe, parece que sempre estamos muito pertos.

Abro os olhos puxando o ar fundo, abrindo a última gaveta da mesa velha de madeira e pegando um bolo de fotos dela. Abro em cima da bagunça empoeirada que a mesa tava. Por mais que eu negasse, essa desgraçada é linda pra caralho. Mas porra, é tão problemático. Tenho fotos dela desde os quatorze, isso me faz sentir um velhote tarado.

Quatro anos atrás.. quatro anos que eu acompanho a vida dela, e ela a minha. A garota é maluca também, mó psicopata saporra. Ela pensa que eu não sei que nas madrugadas ela fica olhando pra minha casa, tirando foto minha. Malucona fi, ce ta doido.

Mas eu gosto. Eu nego, mas gosto pra caralho. Porra, a menina toda certinha, bonitinha, arrumadinha, intocável. De verdade, ela é diferente, e isso me deixa perturbado.

Minha garganta se fecha quando lembro da noite em que ela me atendeu gemendo.

Mudo minha posição na cadeira incomodado. Tenho que parar com essa porra, não tenho que ter mais mulher na minha vida não! Minha única mulher foi a Priscila, e sempre vai ser! Minha loirinha tem o lugar dela, só dela.

Não tem quem tire isso dela, e se tirar, eu mesmo mando matar.

O problema é que a Maria Cecília ocupa um lugar na minha mente desde aquela noite, o dia da morte da Priscila. Nunca vou esquecer dessa porra, nunca mesmo. Maior arrependimento do mundo foi ter saído de casa com ela aquele noite. E ela não queria sair, mas o palhação aqui insistiu.

Me culpo até hoje.

O corpo dela no chão, o cabelo platinado todo ensanguentado, morta, morta pra caralho. O pior nem foi isso, o pior foi ter olhado na porra do olho da Maria Cecília instantes depois da morte da Priscila e ter sentido uma conexão. Me senti um lixo, me sinto um lixo.

Ela de joelhos, olhando pra mim. Soada, com o cabelo moreno ondulado caindo pelos seus ombros e alguns grudados na testa. A pele branca, os olhos negros. O rosto angelical, e os lábios entreabertos. Ela tava ofegante, linda, linda pra caralho. E a forma como ela me olhou foi totalmente diferente.

Não foi com dó que ela me olhou, foi com admiração, compaixão. Ela leu minha mente, meu corpo, a situação. Ela admirou aquilo, ela viu o quanto eu amava a Priscila, ela sentiu o amor e a dor. A Maria Cecília se conectou comigo em menos de 4 segundos.

4 segundos que viraram 4 anos.

Continua...

Apareci!
Mil anos eu demorei, eu sei. Corrigi, mas deve ter alguns errinhos ainda. Compartilhem a história por favor. Enfim, eu amo vocês!❤️✨️

Obsessão - MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora