Fear

19. Luanda

Senti meu coração saltando no peito quando ouvi Fear dizer que EU era a sua companheira. Senti calor e frio ao mesmo tempo, ser amada assim sempre foi tudo que mais desejei. Mas como eu poderia ser tão egoísta ao ponto de tirar dele a oportunidade de se envolver com alguém como ele? E se depois de um tempo ele começasse a me comparar com outras espécies ou até fêmeas humanas e percebesse que eu não sou isso tudo ? Seria devastador para o meu coração sentir a rejeição vinda daqueles lindos olhos escuros como a noite. Eu não suportaria. Me apeguei a Fear de um jeito tão profundo, que não consigo me imaginar não tendo pelo menos uma amizade com ele.

Dizem que amizade sempre tem uma paixão platônica de um dos lados, pelo menos, e nesse caso seria o meu.

As vezes eu me pego acariciando seus pêlos ruivos acobreados e o olhando com carinho e até adoração, enquanto ele, gentilmente, esvazia meus seios, levando toda dor, de tê-los muito cheios, embora. Eu me sinto feliz e em paz quando estou perto dele. E confesso que me sinto pequena e graciosa quando estou em seus braços. Ainda me espanto quando ele me pega em seus braços como se eu não pesasse nada demais, e olha que eu peso mais de 100 quilos!

Eu sempre fui levada a pensar que eu sou gorda demais para ser amada e jamais me imaginei sendo carregada em um colo com tanto amor e cuidado.

Seria um paraíso perfeito demais ficar com Fear, tão fantasioso e longínquo quanto as fanfic que eu imagino na minha cabeça.

Quando Fear me perguntou hoje se eu não o queria, eu senti uma mistura de sentimentos conflitantes, ele é como um doce que eu não posso ter. É alguém que eu só posso desejar de longe na vitrine, sabendo que nunca terei condições de adquirir para minha vida. 

Expliquei para ele da melhor forma que pude o quão imperfeita e errada eu sou para que ele entenda que ele é perfeito e não precisa de mim dessa maneira que ele pensa. Dizer essas coisas ruins e tristes sobre mim me quebrou por dentro de várias maneiras, parece que a felicidade como mulher nunca vai chegar para mim por completo. 

Doeu dizer que ele merece uma companheira melhor do que eu. Mas eu sei que foi o certo a se dizer. Sem contar a história do meu casamento fracassado com o Lucas, eu preciso criar coragem e acabar de vez com o último elo que me liga a ele legalmente: o divórcio. Vai ser difícil após tanto tempo entrar em contato com ele, o encarar de novo depois de tudo o que aconteceu não será nada fácil. 

Senti aquele turbilhão de emoções conflitantes e tristeza ao mesmo tempo me fez sentir uma forte vontade de chorar, sai de perto de Fear para ele não me ver chorando, fechei a porta do quarto o deixando na sala e deitei na cama deixando as lágrimas rolarem e junto com elas toda dor e tristeza que carrego em meu coração.

Farei de tudo para que ele socialize com os outros Nis, só dessa maneira ele vai conseguir evoluir e encontrar a felicidade de ter uma companheira para ele. Ficar se isolando e não sendo útil na comunidade não faz bem para ele e nem a ninguém. Sempre acreditei que todos nascemos com um propósito e o ócio só nos afasta da nossa vocação natural, além de não permitir nossa evolução espiritual.

Quando Valiant nos convidou para irmos a sua casa mais tarde eu vibrei de alegria, é a oportunidade perfeita para ajudar Fear a começar a viver em sociedade, a aproveitar a liberdade dele de forma plena e completa.

Eu também preciso voltar a trabalhar no hospital, eu gostei da minha função e sinto falta de ser útil. Fear não está mais em perigo e eu preciso me afastar um pouco para que ele tenha espaço para explorar outras companhias e socializar. Eu sei que se eu pedir com carinho e negociar o mamar dele ele vai aceitar interagir com os outros Nis.

Quando ele não precisar mais de mim, vou sofrer duplamente: um por causa da saudade que vou sentir da intimidade de amamentá-lo e outra que terei que voltar a usar a bombinha que me causa muitas dores.