País das Mentiras

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- Você está quase lá, só mais um pouco. - Mentor a orientava pacientemente.

A fagulha de magia ameaça acender, mas falha e se reduz a um mísero ponto de luz que desaparece logo depois.

- Eu nunca vou conseguir fazer isso... - Lana põe as mãos na cabeça, já impaciente 

Seu irmão, Jefferson, observava de braços cruzados.

- Você vai, na hora certa. O tempo é seu maior aliado. - o de barba orienta, com voz calma.

- Mas Mentor, eu sou sua aprendiz desde o dia em que a mamãe morreu, e ainda não sei fazer nenhuma magia... de que adianta ler todos os livros possíveis se não sei pôr em prática?

- Lana, Alados como você, mesmo que meio humana, levam um tempo para descobrir a função que seus poderes têm 

- Eu preciso de um tempo... dou dar uma volta. - diz a jovem, olhando brevemente para o irmão e se retirando do salão principal.

Lana sai do casarão, indo até o jardim dos fundos para ler um pouco.

- Ela já está ficando impaciente, Mentor.

- Eu sei, Jefferson, mas não podemos apressar, e além disso... eu preciso honrar o que o pai me pediu antes de morrer. - o mais velho afirma enquanto junta os itens de estudo mágicos que normalmente usava para orientar Lana.

- Até quando você vai esconder isso dela? Até quando vai me fazer mentir para minha irmã? - a voz de Jefferson se amplifica ligeiramente.

- A mãe dela morreu por saber a verdade sobre a magia dos Alados antes da hora... quer que aconteça o mesmo com sua irmã?

Jefferson fica calado. Ele tinha pleno conhecimento da morte horrenda que a mãe de Lana teve. Ela soube explorar seus poderes até demais, e se tornou a Alada mais poderosa de sua época, mas o Conselho não gostou de suas "extravagâncias". Mandaram arrancar suas lindas asas negras e ela morreu lenta e dolorosamente.

Ele definitivamente não queria o mesmo para sua irmã mais nova, mas achava injusto que seus poderes fossem limitados. Jefferson acreditava que mesmo com o máximo de seu poder alcançado, Lana ainda seria uma boa pessoa.

- Não, não quero... - ele balbucia, mexendo no cabelo. - Eu vou falar com ela.

- Obrigado, Jefferson. Você sempre a traz de volta.

Jefferson franze o cenho e força um sorriso, se virando e saindo.

....

Lana tentava, sem sucesso, reviver um dos lírios do jardim. Sua magia ainda estava fraca, e ela não entendia o porquê.

- Como pode? Eu segui tudo que está escrito neste Grimório 

- Resmungando de novo? - Jefferson aparece atrás dela, sorrindo de canto.

- Jeffie... oi. - diz em baixo tom, ainda desanimada pela aula improdutiva.

- Não fique assim, você vai conseguir uma hora ou outra.

- Queria ser esperançoso como você.

- Ora, vamos lá... - ele acaricia o ombro da irmã, tentando motivá-la. - ...onde estão as asinhas que eu tanto gosto?

Lana revira os olhos em derrota e não pôde deixar de rir da cara manhosa de Jefferson. Ela fecha os olhos e um leve brilho aparece em suas costas, dando lugar para um belo par de asas negras como as de um corvo, quase azuladas ao serem vistas na luz do sol.

- Nossa! Elas estão ficando mais lindas a cada dia que passa. - o jovem admira, passando a ponta dos dedos nas penas, como se enxergasse pelas mãos.

- Obrigada por me animar, Jeffie. - Lana estende uma das asas e a usa para abraçá-lo.

Everything Black | OUATOnde histórias criam vida. Descubra agora