IV

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Haviam chegado em casa, a volta pareceu a Wednesday bem mais rápida que a ida ao supermercado. Quando desceu da moto não conseguia conter o sorriso, tinha sido muito bom apesar do medo, muito bom mesmo. Enid notou o contentamento de Wednesday.

-Parece que já se acostumou com o passeio. Foi legal né?

-Se você não tivesse corrido tanto, até que seria.

-Eu não corri, é você que não esta acostumada, mas vejo pela sua cara que gostou.

-Eu gostei mesmo, nunca pensei que andar de moto fosse tão divertido.

Então Wednesday para de falar e se da conta que havia sido divertido não só pela moto, mas por tudo, pela companhia de Enid, pelas compras que fizeram juntas, por ter ido abraçada a cintura da outra. Sentiu um mal estar súbito nesse momento, isso não podia estar acontecendo, não podia sentir o que sentia por Enid, As mãos começaram a ficar frias e úmidas, nessa hora achou que ia desfalecer.

-Wednesday. Você esta bem? O que foi? Tá tão pálida, vem cá, o que esta sentindo?

Enid se aproxima para apoiar Wednesday, segura ela pelos ombros e pega na mão gelada.

-Caramba, sua mão tá muito fria. Você precisa sentar, quer que te leve em casa?

-Não, por favor, não quero ficar sozinha agora.

-Vem comigo, vamos pra minha casa.

Entraram na casa de Enid, e ela deitou no sofá, a cabeça rodava, a constatação de que poderia estar sentido algo mais que amizade por Enid a deixou totalmente abalada.

Além de ser casada. que chances ela teria com uma mulher como Enid, linda, independente e talvez cheia de rapazes interessados. Estava tão absorta nesses pensamentos que não viu quando Enid voltou com um copo de água.

-Aqui Wednesday, bebe tudo devagar. Como se sente? O que aconteceu?

Não aconteceu nada, só acho que estou apaixonada por você. Pensou, mas lógico que não poderia dizer isso.

-Acho que minha pressão deve ter caído, isso acontece as vezes.

-Nossa Wednesday por que não me avisou, você podia mesmo ter caído da moto.

-Já passou Enid, obrigada pela sua preocupação. Acho que já posso levantar.

-Não mesmo, fica mais um pouco, você ainda esta pálida. Vou buscar algo para comer. Não levante, ok?

Se encostou ainda mais no sofá, estava se sentindo um pouco melhor, pelo menos fisicamente, mas emocionalmente estava a beira do caos, como se estivesse perto de um abismo e qualquer passo errado a fizesse cair. Fechou os olhos com desespero.

Enid tinha voltado e trazido com ela um sanduíche de queijo e tomate. Comeu mesmo por insistência dela, a comida parecia não ter nenhum gosto. Por fim se levantou, não podia ficar o dia todo ali deitada.

-Tem certeza que esta bem?

-Estou sim Enid, não se preocupe, foi só uma queda de pressão, mas estou melhor.

-Posso te levar até o hospital se quiser.

-Não, estou bem. Vamos fazer suas panquecas?

O olhar preocupado de Enid acabou tocando fundo no coração de Wednesday, Quando havia sido a ultima vez que alguém tinha se preocupado assim com ela? Nem lembrava mais.

-Podemos deixar para outro dia.

-Não Enid, você vai ter sua aula de panquecas hoje.

-Haha, você dura na queda hein?! Então vamos lá, mas qualquer coisa e nos paramos, certo?

Foram até a cozinha, Wednesday não precisava de nenhuma receita escrita, sabia fazer muitas coisas de cabeça. Começou a dar instruções.

-Pegue seu liquidificador, vamos jogar os ingredientes ali dentro... Assim não Enid, você nunca joga os ovos diretos na receita, eles podem estar estragados...menos sal, senão isso vai ficar uma salmora...calma, cuidado com essa farinha....

Nesse momento Enid começa uma guerra de farinha com Wednesday, que revida enchendo o cabelo da outra com aquele pó branco, por fim a cozinha estava uma zona, mas as panquecas feitas.

Deram muitas risadas, principalmente pela falta de jeito que Enid tinha para cozinhar.

-Você nunca cozinhou? Que desastre você é.

-Meu nível de culinária se resume a pegar algo congelado no freezer e jogar no microondas, mas quando morava com minha avó eu comia algo mais saudável e tinha panquecas toda semana.

-Você visita sempre a sua avó?

Aquela sombra de tristeza que tinha visto no rosto de Enid outro dia, apareceu dessa vez também.

-Não tanto quanto gostaria. Eu amo ela, mas temos algumas desavenças sobre alguns assuntos.

-Sinto muito Enid.

E ela sentia mesmo, sua família também era muito distante, quase nunca visitava os pais e eles nunca vinham até sua casa.

-Tudo bem Wedzinha. Vem comigo na sala, vou te contar um pouco sobre minha vida. Sabe de uma coisa? Preciso tomar cuidado com você, esse seu olhar tranquilo e meigo me leva a falar coisas que nunca contei a ninguém, mas acho que vai ser bom desabafar.

Foi para sala segurando a mão de Enid e aquele calor acolhedor se espalhando por todo corpo. Estava atordoada, desesperada e por incrível que pareça, feliz.

A Mulher do Pastor- Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora