Enid

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Ficaram sentadas no sofá em frente a TV sem dizer nada por um tempo, Enid observou Wednesday com o canto do olho, cabelos escuros, quase negros, aqueles grandes olhos castanhos que as vezes a deixava parecendo um personagem saído de um filme ou série, o jeito humilde, tudo isso levava a pessoa a querer contar as coisas para ela, fazer confidências.

Enid era uma pessoa muito fechada, não falava de sua vida para ninguém, nem o pessoal com que ela trabalhava sabia muito a seu respeito. Quando alguém perguntava alguma coisa ela sempre dizia brincando: Ao meu respeito eu mostro o que quero, e você deduz o que quiser.

Geralmente isso era suficiente para acabar com as perguntas e se não acabassem simplesmente se recusava a responder.

Então por que sentia tanta vontade de falar parte de sua vida para Wednesday? Por que confiar tanto em alguém que tinha acabado de conhecer? Não tinha respostas para isso, só sabia que queria muito que ela a conhecesse melhor, pelo menos uma parte de sua vida.

-Bem Wednesday, pronta para saber um pouco mais de sobre mim?

-Só se você jura que não é nenhuma assassina que mata pessoas para comer.

-Nossa Wednesday! Como descobriu o meu segredo?!

As duas riram e isso quebrou um pouco o clima de tensão que Enid estava sentindo.

-Fui criada pela minha avó, ela é uma mulher bem rigorosa e sempre se esforçou para me dar a melhor educação, quando soube que eu desejava trabalhar com fotos, surtou, ο sonho dela era me ver fazendo uma faculdade de administração ou direito e indo trabalhar nos negócios da familia. Foi uma grande decepção para ela. Mas eu não levo jeito para ficar o dia todo em um escritório cuidado de planilhas, contratos, reuniões. Deve conhecer o café Alto Grão.

Wednesday olha surpresa para Enid.

-Você é dona da Alto Grão??

-Não Wednesday, minha avó é dona, eu sou só uma fotógrafa.

-Você é dona de umas das maiores marcas de café do Brasil e vem me pedir café emprestado. Sua aproveitadora.

-Haha, nunca gostei da Alto Grão, acho ele muito forte.

Mais uma vez as duas riram juntas, como era bom conversar com ela.

-Mas Enid...seus pais...eles...bem...o que..

Entendeu o que Wednesday estava pensando, por sorte tinha essa sintonia tão raro que só grandes amigos possuem.

-Ah não Wednesday, eles estão bem vivos. Minha vida seria muito clichê com um acidente de carro e toda aquela historia de pobre menina rica. Meus pais sempre gostaram de viajar, se conheceram em uma viagem, dois meses depois estavam casados, então num surto fantasioso, resolveram que queriam ter um filho, assim como quem decide ter um bicho de estimação. Quando nasci, eles viram que eu gerava um pouco mais de trabalho que um cachorro ou um gatinho, então iam me deixando com a minha avó, até que um dia ela já estava me criando e eles viajando mundo a fora.

Deu de ombros como se não se importasse muito com essa historia toda, como se não fosse nada demais, mas era, aquilo ainda fazia doer uma parte bem grande do seu coração, durante muito tempo sonhou que os pais iriam busca - lá na casa da vó e viajar o mundo com eles, mas esse sonho acabou quando deixou de ser criança, mas ainda era ruim, teria essa cicatriz na alma para sempre. Mas evitou falar isso para Wednesday, era intimo demais até para ela.

-sinto muito Enid.

-Eu tô legal, já não me importo.

Wednesday segurou as mãos de Enid, um fio desencapado não teria gerado um choque mais forte nela.

-Olha só, quem perdeu foram eles, perderam sua companhia, perderam uma pessoa maravilhosa e especial. Sua avó tem muita sorte.

Ficou sem saber o que dizer. Aquelas palavras aqueciam mais que café recém feito.

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Aiai, como são gays... Bem, até mais! Beijinhos!

A Mulher do Pastor- Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora