VI

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Não conseguiu se concentrar no trabalho, por sorte hoje não havia nenhuma foto para fazer, só editar as que se acumulavam no seu computador, as horas pareciam se arrastar, por algum motivo que ela ainda não entendia bem sentia uma imensa vontade de falar com Wednesday, desvendar ou decifrar aquele olhar assustadiço e triste. Tinha se conhecido a poucos dias, mas Wednesday despertava em Enid algo bom que ela nem mesmo sabia que ainda poderia sentir, uma amizade de verdade talvez.

Finalmente deu meio dia. Pegou sua bolsa e foi para casa, nem se importou em comer nada, sentia um pouco de ansiedade, logo ela que era tão descolada, ficar nervosa por causa de um bate papo com uma amiga, estava começando a se estranhar, talvez precisasse voltar a sair a noite como antigamente.

Chegou na casa de Wednesday e bateu na porta, a outra abriu rápido, tinha aqueles lindos olhos pretos arregalados e olhavam Enid com medo.

-Olá Wednesday, ainda se assustando comigo?

-Quer entrar?

-Sim. Não vou tomar muito do seu tempo. Só queria fazer algumas perguntas.

-Entre.

Wednesday abriu espaço para Enid entrar, a casa não era grande, tinha móveis velhos, mas era tão limpa e arrumada que chegou a sentir inveja.

A sala ficava próxima a cozinha e Enid sentiu um cheiro maravilhoso de comida vindo de lá, sua barriga roncou em protesto pela falta de alimento. Wednesday notou.

-Enid, você ainda não almoçou?

-Não, eu nem me lembrei, queria muito falar com você.

-Então explica isso para o seu estômago, parece que ele não entendeu bem a intenção.

Era primeira vez que Wednesday fazia uma piada, por mais boba que tenha sido, Enid começou a sorrir.

-Nossa! Quem diria.Você sendo irônica?

Um leve sorriso tímido surgiu no rosto de Wednesday.

-Agora você vai comer algo, o que tem para me falar pode esperar mais alguns minutos, não pode?

-Não tô muito afim de ir para casa cozinhar.

-E nem vai ser preciso, almoça aqui. Mas a comida é simples.

Foram até a cozinha, Wednesday colocou
um prato na mesa e serviu Enid, arroz e feijão recém preparados, batata frita e bife, o sabor era perfeito, tanto pela comida como pela fome que estava sentindo, pensou em comer mais uma vez, mas ficou com vergonha. Agora já podiam conversam sem que a barriga de Enid ficasse fazendo aquele barulho como se houvesse dois cachorros brigando ali dentro.

-Eu queria te pedir desculpa por outro dia, estava tirando fotos suas e não sei o que fiz de errado, você saiu correndo daquele jeito e me deixou preocupada. Seja lá o que foi que fiz, me desculpe, não foi de propósito.

O rosto de Wednesday ficou escarlate, Enid começou achar aquilo tão fofinho.

-Você não fez nada, eu só me lembrei que tinha deixado uma panela no fogo.

Fingiu que acreditou, mas Wednesday mentia muito mal. Aquela resposta ao invés de esclarecer algo só deixou Enid mais intrigada ainda.

-Então menos mal. Mas outra coisa, por que fingiu que não me conhecia quando falei com você e seu marido?

Dessa vez a demora para responder foi bem mais longa, Enid esperou pacientemente, um, dois minutos e nada, o silencio estava ficando constrangedor quando Wednesday respondeu.

-Isso é meio complicado Enid, não sei como te explicar, meu marido controla tudo, entende?

-Mais ou menos. Você quer dizer que ele controla até suas amizades?

-Sim, tudo.

-E eu não sou uma boa amiga para você? Prefere que eu não nos falemos mais?

-Claro que é uma boa amiga, só não quero que ele saiba, não quero que tenha problemas, ele é um pouco radical com que não tem religião. Você entende?

Não, ela não entendia, cada um devia viver como desejava, sem que sofresse algum preconceito com isso, agora gostava cada vez menos do Pastor Tyler, mas fez que sim o cabeça.

-Entendo. Mas da sua parte esta tudo bem?

-Sim, quero muito ter você por perto.

Essa ultima frase fez uma lasquinha do coração gelado de Enid derreter.



A Mulher do Pastor- Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora