capítulo 1

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"Me diga por que, me diga por que me sinto tão livre quando estou morto?"

The weeknd - Fill the void

The weeknd - Fill the void

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Cassie Lucciole
Verona - Itália
2023

Me encolho em meio ao escuro. O mármore gelado de encontro a minha pele faz contraste com as lágrimas que caem. Ouço alguma música do the weekend tocar ao fundo, o que eu acharia engraçado, se o buraco em meu peito não fosse tão profundo. Me levanto e procuro as cartelas de remédio no fundo de uma caixa em algum lugar. Eu só queria, desesperadamente, preencher o vazio.

Como uma maldita viciada, engulo uns seis ou sete comprimidos, que com sorte me deixariam apagada pelos próximos dois dias. Ou, se tivesse sorte, pra sempre. Ninguém vai se importar, de qualquer maneira.

"Mentira"

Uma voz sussurra no fundo da minha consciência.

"Ele se importaria"

É uma pena que ele está morto.

Quando se tem 22 anos, um pai ausente e a porra de uma mãe fumante, você deixa de fazer diferença e tudo o que importa é o dinheiro pra comprar só mais uma cartela, mais uma bebida. Eu costumava ser feliz, uma daquelas pessoas que nunca tiram o sorriso do rosto. Acontece que é complicado continuar sorrindo quando se sente vazia e doente. E quando se está sozinha.

Encaro meu reflexo no espelho sujo e meio rachado nas pontas; Deve ser o motivo do meu azar. Olheiras fundas e escuras, semblante abatido e, como sempre, me sinto acima do peso. Por que não posso ter o corpo perfeito? Ninguém nunca irá me querer assim. Avisto o pequeno pacote de salgadinho jogado ao lado das latinhas de refrigerante barato. Eu sei, sei que não deveria comer isso, mas é simplismente mais forte que eu. Em meio a essa existência miserável, essa era a única forma que eu tenho de fugir. Já li e reli todos os livros empoeirados em minha estante velha, e me recuso a ser outra dependente de álcool na família. Me jogo em minha cama bagunçada, quando sinto minha respiração falhar e os batimentos do meu coração ecoarem fortes e rápidos em meus ouvidos. Minhas pálpebras pesam, e a inquietação se faz presente em meu corpo frágil. Eu não quero morrer. E essa é exatamente a sensação que tenho.

Quando era menor, achava que morreria fazendo alguma loucura, talvez pular de um penhasco, não conseguir puxar a cordinha do paraquedas ou algum acidente de moto. Não quero ser lembrada como uma suicida, ou como alguma jovem estúpida que morreu de overdose. Um grito escapa dos meus lábios, misturado com meu suor e lágrimas. Sinto minha boca seca, queimando, e clamando por água.

Eu quero viver

Eu quero viver

Enquanto Estivermos VivosOnde histórias criam vida. Descubra agora