Capítulo 6 - Encontro no elevador

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Um carro me leva de volta até o Centro de Treinamento. Como Finnick me instrui mais cedo, seguro as lágrimas e tento esconder as marcas que ficam no meu corpo. Entro no saguão e caminho até o elevador, até perceber que alguém está chamando meu nome. A pessoa entra rapidamente no elevador junto comigo, e eu me esforço para secar as lágrimas que deixo escapar, tentando não borrar a maquiagem. 

Aí que vejo quem me chamou e entrou no elevador comigo: Johanna. Ótimo. Exatamente quem eu preciso que me veja nesse estado, a pessoa que não gosta de mim desde o início. Minha emoção muda de tristeza para raiva, direcionada à ela. O que ela quer comigo? Ela deixou bem claro na festa da minha vitória que ela não gosta de mim. 

- O que foi? - eu pergunto quando a vejo me olhando. Meu tom é rude. 

Seu olhar parece pausar nas marcas em meu pescoço. - Você está bem? - sinto sinceridade na sua pergunta, mas meu tom não muda. 

- É claro que estou. - eu rio, sarcástica. - Não precisa fingir estar preocupada comigo, Johanna. 

Ela parece surpresa pela minha resposta. - Eu não estou fingindo. - ela diz, mais uma vez sinto sua sinceridade, mas como sou teimosa eu não dou o braço a torcer. 

- Não estou no clima para suas mentiras. - meu tom de voz aumenta. - Você foi bem clara sobre não gostar de mim na festa da vitória. 

- Eu não estou mentindo! - o tom de voz dela também aumenta, quase gritando. - E não desgosto de você, mas...

O elevador chega no sétimo andar. Perfeito, não estou no clima para ficar de papo com ninguém no momento, muito menos com ela. Por mais atraente que ela seja, se ela não gosta de mim vou agir como se eu também não gostasse dela. 

Ignoro os olhares de Plumeria e de Venus e vou direto para meu quarto. Ao chegar lá, tiro minha roupa. De frente para o espelho consigo visualizar melhor as marcas. 

Um sentimento de impotência e raiva me bate. Impotência por não ter quase opção, ou eu me submeto a isso e mantenho minha família segura, ou eu recuso e então minha família sofrerá as consequências disso. Raiva porque nunca quis que minha primeira vez fosse assim: com alguém que tem idade para ser meu pai, alguém que me objetifica e me sexualiza, só me vê como a vitoriosa do Distrito 10 e não como um ser humano, com alguém que eu não gosto, que eu não quero, com um homem. Minha primeira vez foi roubada de mim. Roubada pelo mesmo presidente que roubou minha inocência, me fez agir como se fosse um animal e matar outras pessoas, pelo presidente que roubou meu irmão de mim e da minha família. 

Em momentos assim sinto uma saudade imensa da minha mãe, do conforto que ela me traria e do sentimento de segurança que eu sentiria se estivesse perto dela. 

Ouço alguém bater em minha porta. Seco minhas lágrimas e visto um robe antes de deixar a pessoa entrar. A porta se abre e minha estilista entra. Não preciso dizer nada para ela, parece que Venus entende. 

Ela se aproxima de mim e me abraça, o calor do abraço o mais próximo que eu tenho do abraço da minha mãe. Me sinto segura para deixar as lágrimas caírem. 

- Por que você não toma um banho? Um banho quente e demorado. - Venus sugere. - Depois eu vou lhe ajudar a esconder essas marcas. 

Sem muita energia, a obedeço. Entro no banheiro e programo o chuveiro com as milhares de opções que os banheiros daqui me permitem ter: regulo a temperatura, pressão, escolho o aroma do sabonete, xampu e ativo uma essência aromática. 

Meu banho é demorado como Venus sugeriu. Assim que piso no tapete do banheiro, aquecedores são acionados para secar meu corpo. Com o clicar de um botão meus cabelos secam. Quando saio do banheiro Venus me entrega roupas que ela separou do meu closet. Assim que me visto ela vem com a maquiagem para disfarçar as marcas. 

- Obrigada. - eu digo, com a voz fraca. 

Ela sorri para mim e me olha nos olhos. - Prontinho. 

Ela me dá alguns segundos para eu verificar o trabalho dela. Me olho no espelho e as marcas estão imperceptíveis agora. 

- O jantar está pronto. Quer comer aqui ou vai se juntar a nós? - ela pergunta. 

Eu respiro fundo. - Vou jantar com vocês.

Eu sou a mentora, não posso deixar meus tributos na mão. 

A Vitoriosa do Distrito 10Onde histórias criam vida. Descubra agora