Capítulo 8 - Desabafos com Johanna

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Eu fico sem palavras. De pé lá está Johanna, que percebe que eu estou acordada. Muitas perguntas surgem na minha cabeça. 

- Que? Como? Quando? - eu gaguejo várias perguntas diferentes. 

Ela dá uma risada, uma risada que me derrete por dentro. Agora percebo que ela está usando uma camiseta grande, sem maquiagem e seu cabelo mais curto, natural. 

- Relaxa, tá? Não fizemos nada. Mas bem que você gostaria... - ela diz, brincando. Meu rosto fica vermelho na hora. - Você desmaiou ontem. - seu rosto se fecha. - Depois que você... - ela parece incomodada em falar. - Depois que você foi para um dos cômodos com aquele homem, Finnick e eu demos um tempo até você voltar. 

Eu balanço a cabeça, fazendo ela continuar. - Mas aí Finnick também foi requisitado, Haymitch estava bêbado em algum canto da festa e certo tempo se passou e você ainda não tinha voltado. - ela suspira. - Fiquei preocupada, então bati de porta em porta naquela merda daquela festa até achar onde você estava. Você estava completamente apagada. 

Fico mais preocupada ainda. - Ele me drogou?! - pergunto, minha voz mais aguda.

- Não, pelo menos acho que não. - ela fica uns segundos em silêncio. - Fui atrás dele na festa e o ameacei perguntando o que ele havia dado a você. Ele me jurou que você só estava muito bêbada. 

- E aí? - eu pergunto, para ela continuar. 

- E aí voltei até o quarto e te carreguei para fora da festa. Voltamos juntas pro Centro, e no estado que você estava achei melhor trazer você para o meu quarto. 

- Obrigada. - agradeço. 

Ficamos em silêncio por um tempo. Eu olho para minha roupa, não estou mais com o vestido de ontem, agora estou com uma camiseta grande, semelhante a que Johanna estava usando. Uma memória me vem a cabeça nesse tempo. Meu aliado na minha edição dos Jogos, depois que Gavril foi morto pela garota do Distrito 4, era o menino do 7, e provavelmente Johanna foi sua mentora. 

FLASHBACK

Desde que meu irmão morreu na Cornucópia eu estava sozinha. Havia disparado para bem longe de lá assim que os outros Carreiristas chegaram. Levei dias suando muito e comendo pouco para que não sentisse mais sede do que já estava sentindo, para chegar nos limites da arena, onde tinha água.

Quando encontrei o rio agi como se tivesse encontrado ouro, como se aquele fosse o melhor momento de toda a minha vida. O desespero por conta da desidratação era tanto que larguei minhas coisas perto do rio e me atirei na água. Estava tão refrescante. Depois de passar o alívio imediato da minha pele ter entrado em contato com aquela água fria, ouvi um barulho.

Recobri meus sentidos e minha sanidade e segurei em uma das facas que estava presa em meu cinto. Fiquei esperando mais movimento, até que vi um tufo de cabelos louros levemente encaracolados perto de uma das pedras.

Com a mão ainda na faca, saí da água e fui lentamente até a fonte do barulho. Até que um menino assustado saiu de trás da pedra grande. Era do Distrito 7, devia ter uns treze ou catorze anos no máximo.

Ele parecia hesitante em se aproximar de mim. Eu tirei a mão da faca e me aproximei dele.

- Tudo bem, não vou fazer nada com você. - eu disse, tentando fazê-lo não ter medo de mim.

Ainda meio suspeito, ele foi dando alguns passos mais perto, devagar. Percebi que ele não parecia ter quase nada consigo. Como esse menino conseguiu sobreviver até aqui?

- Vi você chegando aqui e me escondi. - ele falou, com a voz tímida.

- É. Eu passei longos dias sem água. - eu disse. Fui até meus pertences e retirei as duas garrafas d'água, uma da minha mochila e a outra da de Gavril. Entrei na água de novo, dessa vez para encher as garrafas, enquanto isso o menino só me observava.

A Vitoriosa do Distrito 10Onde histórias criam vida. Descubra agora