Capítulo 9 - 73º Jogos Vorazes

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O dia do início da 73ª edição dos Jogos Vorazes chega. Eu fiz o melhor que pude, eu acho. Mas sei como é difícil pessoas de um distrito como o 10 vencerem os Jogos, eu fui uma exceção. Minha expectativas são baixas. Raven e Cole não tiveram as mesmas oportunidades que eu tive, não tiveram o preparo que eu acabei tendo por ajudar meu pai no trabalho, eles não têm nenhuma vantagem. As únicas coisas que eu desejo é que eles tenham aproveitado o máximo das regalias da Capital, e que eles sofram o mínimo possível na arena. 

Durante os Jogos os mentores geralmente ficam reunidos em um local perto dos patrocinadores, mas onde somente outros mentores frequentam. Isso é para podermos acompanhar os Jogos, ou melhor, para sermos forçados a ver nossos tributos sofrendo no melhor conforto possível. 

Estou sentada em um sofá, assistindo aos tributos serem erguidos pelos círculos de metal e a contagem ser iniciada. Ao meu lado está Johanna, com um olhar indiferente, como se tudo aquilo a entediasse. Do meu outro lado está Finnick, que permanece sentado por pouco tempo, já que logo uma mentora do Distrito 2 o chama. Ela me dá um pouco de medo com aqueles dentes afiados. Finnick havia me dito que seu nome é Enobaria, ela ganhou a 62ª edição. É em momentos assim que os mentores se comunicam, geralmente para combinar alianças entre seus tributos. 

A arena dessa edição é uma cidade em ruínas. Assim que a contagem termina e os Jogos começam, fico arrepiada e meu coração acelera. Sem perceber, agarro uma das mãos de Johanna. Ela inicialmente gela, como se não soubesse como reagir, mas logo depois aperta minha mão, tentando me confortar. 

O banho de sangue começa. Ouço o primeiro canhão, seguido de outros vários. Vejo meus tributos correndo em direção a alguma mochila, como eu havia instruído. Raven consegue pegar uma e logo sai correndo, disparando pela cidade destruída. Uma outra tela mostra Cole, que está do outro lado da Cornucópia, bem longe de onde Raven está. Ele também corre em direção a uma das mochilas, mas logo vejo uma faca sendo jogada em sua direção, cravando em suas costas. Lágrimas começam a se formar em meus olhos e eu os fecho, não querendo ver o destino do menino do meu distrito. Segundos depois, ainda de olhos fechados, ouço outro canhão, o canhão que anuncia a morte do tributo masculino do Distrito 10. 

Eu me levanto e saio rapidamente daquele ambiente para que ninguém possa me ver chorar. Vou em direção aos banheiros que têm ali. Assim que abro a porta e entro, sinto alguém vir atrás de mim e fechar a porta do banheiro. Johanna. 

- O primeiro ano é sempre o pior. - ela diz. Não imagino como tenha sido no último ano, o ano em que eu ganhei, já que foi o primeiro ano dela como mentora. Ela põe uma mão em meu ombro.

Uma lembrança me passa pela cabeça nesse momento, a morte de Griffin, o garoto do 7 que era meu aliado. 

FLASHBACK

Estávamos com nosso3 acampamento montado, perto o suficiente do rio para caso precisássemos de água. A comida estava acabando, precisaria ir atrás de outro coiote, que geralmente saem mais à noite. Combinei com Griffin que enquanto eu sairia à procura de animais para nós comermos, ele poderia achar as frutas que ele comeu durante o tempo que estava sozinho. 

Deixei ele com o óculos de visão noturna que vinha na mochila de Gavril enquanto eu peguei o outro para poder caçar. Mais cedo naquele dia havíamos tido a ideia de usar veneno de cobra nos dardos da zarabatana que veio na minha mochila, então consegui deixar Griffin com a zarabatana envenenada caso fosse necessário. 

Eu já estava suficientemente afastada de nosso acampamento quando consegui encontrar um coiote e o matar com a espada. Estava arrastando o animal de volta para onde nossas coisas estavam quando ouvi um grito seguido de um canhão. O grito vinha da mesma direção do acampamento. Larguei o corpo do animal, no momento não preocupada se alguém poderia pegar, e disparei com uma das facas em mãos. 

A primeira coisa que consegui enxergar ao chegar no local que acampávamos foi alguém que não era Griffin tentando roubar nossos pertences, iria fugir do local se eu não tivesse chegado a tempo. Não pensei duas vezes antes de atirar a faca que segurava diretamente nas costas da pessoa que estava roubando nossas coisas. Ouvi o canhão. Matei a menina do 2. Olhei para todos os lados para ver se não tinha mais ninguém por perto quando me deparei com o corpo ainda com vida do garoto do 2, caído no chão.  Um dardo da zarabatana que eu havia emprestado para Griffin estava alojado em seu pescoço. Em poucos minutos ele provavelmente iria morrer, era só questão de tempo até o veneno fazer efeito em seu corpo. 

Me virei à procura de Griffin. Quando encontrei seu corpo caído, sua cabeça sangrava por conta do ferimento que um dos Carreiristas do 2 fez. O primeiro canhão que eu tinha ouvido era o canhão que avisava a morte dele. Perdi meu único aliado, que a esse ponto poderia considerar até mesmo meu amigo, nos Jogos. Segundos depois se ouviu outro canhão, provavelmente anunciando a morte do garoto do 2. 

- Você era mentora do Griffin, não era? - eu pergunto. 

Ela dá um suspiro. - Sim. - ela responde. - Foi por causa dele que você chamou a minha atenção, sabia? 

Eu a olho nos olhos, esperando ela continuar. 

- Você poderia ter matado ele assim que ouviu que tinha alguém perto de você no lago, mas você não fez isso. Decidiu se aliar a ele ao invés de matá-lo. 

Eu balanço a cabeça, concordando. Lágrimas escorrem dos meus olhos. 

- Posso abraçar você? - eu pergunto com a voz fraca. 

Ao invés de me responder Johanna me puxa para um abraço apertado. Diferente de Finnick, não é um abraço que me faz lembrar de Gavril, e diferente de Venus e Anastasia, também não é um abraço que me lembra da minha mãe. Aquele abraço me traz um sentimento completamente diferente do que eu já senti. 

- Só pra constar, - ela diz, enquanto nós duas ainda nos abraçamos. - eu ouvi você falar de mim para o seu irmão. 

Sinto meu rosto queimar de tão quente. Quer dizer que ela tinha me visto dizer que ela faz meu tipo. Eu tento falar qualquer coisa, mas como estou surpresa com a revelação dela, só saem sons aleatórios da minha boca que não são palavras. 

Ela dá um risinho debochado. Quando nos desvencilhamos do abraço ela diz:

- Não precisa se explicar. - com suas mãos em minha cintura e seus olhos em minha boca ela me puxa para um beijo. 

No primeiro segundo eu fico em choque, completamente parada. Então eu a seguro pela nuca e retribuo o beijo. Eu estou mesmo beijando Johanna Mason?!

Quando as duas se afastam eu vejo ela olhar por um momento em meus olhos, e então por um milésimo de segundo olhar para meus lábios. Ela parece pensativa sobre alguma coisa. Ela logo se afasta totalmente de mim e sai do banheiro rapidamente.

Ela acabou de me beijar e a primeira coisa que ela faz é sair correndo? Não sei o que eu deveria sentir nesse momento, só sei que eu estou completamente perdida, sentindo estar me apaixonando pela vitoriosa do Distrito 7. 

A Vitoriosa do Distrito 10Onde histórias criam vida. Descubra agora