Capítulo 15 - Os vitoriosos do Distrito 12

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Nós jantamos e dormimos no apartamento de Johanna no prédio dos vitoriosos. Somos acordadas com uma ligação. Nos olhamos, confusas, se fosse alguém me avisando que eu teria que oferecer meus "serviços" provavelmente não teriam ligado para cá... A menos que saibam que eu estou com Johanna.  Eu não deixo a preguiça me ganhar, então levanto da cama e vou atender o telefone. 

- Espero que vocês duas não tenham se esquecido que ainda são mentoras - ouço a voz de Venus, minha estilista. Suspiro aliviada por ser ela.

- Já estamos indo! - eu digo, desligando o telefone. 

Volto para o quarto, Johanna ainda está deitada. Ao ouvir o movimento quando volto ela abre os olhos e, com aquela voz rouca de quem a recém acordou, me pergunta:

- Quem era?

- Minha estilista - respondo. - Vamos, nossos tributos ainda precisam de nós. 

Me aproximo da cama e dou um beijo em sua testa, logo depois pego um de seus braços e puxo Johanna para fora da cama. 


O dia dos Jogos chega. Como no ano anterior, eu vou até a sala onde os mentores se reúnem para assistir aos Jogos e acompanhar seus tributos. Sento ao lado de Johanna de mãos dadas com ela. A contagem termina, o que dá início ao massacre. 

O banho de sangue começa. Primeiro morre a menina do 3. Logo depois o menino do 5. Então os dois tributos do 7 são mortos, seguidos pela menina do meu distrito. Johanna sai da sala e eu a sigo. 

- Não tem porque eu continuar aqui - ela diz. - Melhor assim do que eu esperar dias sabendo que eles provavelmente vão morrer.

Eu seguro seu braço, impedindo que ela saia. 

- Bom, você ainda tem a mim aqui - eu digo, tentando convencê-la a não ir embora imediatamente.

Vejo que ela parece pensar no que fazer. 

- E ainda podemos acompanhar os dois do 12 - eu falo, apesar de usar isso para convencer Johanna eu também sinto que esses dois, especialmente a garota, irão dar o que falar. 

Ela assente com a cabeça. - Tudo bem. Eu fico. 

Minha mão que estava em seu braço desce até sua mão e a segura. - Ótimo.

Ela chega perto de mim, seus lábios quase encostando em meu ouvido. - Com a condição que possamos repetir ontem à noite. 

Sinto um arrepio percorrer meu corpo. Eu abro um sorriso malicioso. - Não espero nada menos que isso - dou um selinho em seus lábios. 


No oitavo dia dos Jogos o tributo masculino do meu distrito morre. Se não fosse por Johanna eu estaria indo diretamente para casa nesse momento, mas essa é a oportunidade de estarmos perto uma da outra, então as duas decidem ficar na Capital. Como não temos mais a obrigação de sermos mentoras já que todos os tributos do 7 e do 10 morreram, nós duas passamos o resto dos dias dos Jogos no prédio dos vitoriosos, dividindo nosso tempo entre os dois apartamentos. 

Nesses dias vivendo com Johanna eu percebo certas coisas. Por trás daquela máscara de pessoa fria, raivosa e distante existe uma garota extremamente afetuosa e protetora; apesar de não gostar tanto de demonstrar afeto publicamente (nada além de beijos rápidos), ela é o extremo oposto sempre que estamos juntas. Sempre que temos a oportunidade estamos nos tocando, seja dormindo de conchinha (que Johanna faz questão de sempre dormir abraçada em mim, minhas costas encostando em seu peito, seu nariz encostando em minha nuca), quando estamos sentadas na mesa de jantar comendo nós ficamos de mãos dadas ou sentamos tão grudadas que fico praticamente em seu colo, tomando banho juntas (que muitas vezes termina em sexo), ou quando assistimos um pouco de televisão e ela me deixa deitar entre suas pernas, me abraçando por trás. Ela nunca fala as três palavras mágicas.

No início isso me incomoda, sinto uma insegurança de talvez ela não me amar de volta, mas ela constantemente acaba me mostrando isso por outros gestos. Johanna sente medo de dizer as palavras em voz alta, sente medo de tornar aquele sentimento algo real, como ela provavelmente havia feito com as pessoas que ela amava que foram mortas a mando de Snow.

Estamos juntas abraçadas assistindo à televisão quando algo acontece nos Jogos. Restam três tributos, o garoto do 2 e os dois do 12. O garoto do 2 acaba de morrer, comido pelos monstros em forma de cachorro. 

- Saudações aos últimos competidores da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes. A revisão anterior foi revogada. Um exame mais minucioso do livro de regras revelou que apenas um vencedor pode ser permitido - a voz anuncia dentro da arena. - Que a sorte esteja sempre a seu lado.

A decisão anterior de permitir dois vencedores acaba de ser revogada. Johanna e eu nos perdemos em uma conversa entre nós sobre os dois tributos do 12, que quase não percebemos o que ambos estão tentando fazer. 

A garota, Katniss, segura amoras venenosas na mão. Ela distribui as amoras entre ela e o garoto do 12, Peeta Mellark. 

- Contamos até três? - a garota fala. 

Johanna e eu nos olhamos, sabendo o que ela pensa em fazer. 

O garoto a beija. -  Até três - ele diz. - Mostra bem as amoras. Quero que todo mundo veja.

- Um. Dois. Três! - os dois estão a ponto de comer as amoras quando uma voz os interrompe. 

- Parem! Parem! Senhoras e senhores, tenho o prazer de anunciar os vitoriosos da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes, Katniss Everdeen e Peeta Mellark! Eu apresento... os tributos do Distrito 12!

Eu desligo a televisão, desacreditada. 

- Não é que eles conseguiram? - Johanna diz. - Isso não é nada bom. Pelo menos não para os dois. 

Eu me viro para sentar de frente para ela. - O que você acha sobre os dois? Sobre o romance que eles criaram? 

Johanna dá uma risada cínica. - Acho que são ótimos atores. Pelo menos o garoto. E você?

Fico pensativa antes de responder. - Ele parece genuinamente gostar dela, Jo. 

- E ela? - Johanna pergunta. 

- Ela é mais difícil de entender - eu digo, tentando analisar a garota. - Senti que em certo nível ela se importa com ele, mas talvez não de um jeito romântico. Não do jeito que foi televisionado. 

Com certeza dois vitoriosos mudarão as coisas. A questão é: como as coisas mudarão daqui em diante? 

A Vitoriosa do Distrito 10Onde histórias criam vida. Descubra agora