Capítulo 5 - A Colheita

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Se passa certo tempo desde a minha turnê. Nesse tempo eu completo 17 anos e o dia da Colheita para a 73ª edição dos Jogos Vorazes chega. O primeiro em que Cora participará. Nunca estive tão nervosa quanto estou neste momento, tanto pela minha irmã como pelo fato de que serei mentora pela primeira vez, além de que, ao chegar na Capital sei que terei que "entreter" quem quer que pague pelo meu tempo. 

Tomo banho, este ano na minha casa na Aldeia dos Vitoriosos, e tenho o privilégio de regular a temperatura da água como eu quero. Demoro no chuveiro como em todos anos de Colheita. Quando saio do banheiro de toalha, para vestir roupas que eu separei, encontro Cora em meu quarto, sentada na minha cama já vestida. 

Eu dou um leve sorriso. - Está linda. - digo exatamente o que meu pai havia me dito no ano anterior.

Desde então me sinto muito mais responsável por ela, visto que meu pai não é o mesmo desde que voltei dos Jogos. Acho que todos nós mudamos desde então. Coloco a roupa que separei mais cedo e sento ao lado da minha irmã. Começo a fazer um penteado em seu cabelo. 

Eu percebo quão nervosa Cora está. - Vai ficar tudo bem. - eu tento acalmá-la. 

Ela suspira. - Você também estava nervosa na sua primeira Colheita? - ela me pergunta.

- Claro. Acho que todos nós ficamos. - eu digo. - Só posso dizer que esse nervosismo nunca vai acabar. Todo ano que você tiver idade para participar o nervosismo volta. O lado bom é o alívio que sentimos quando ouvimos o nome de outra pessoa ser chamado. 

Não foi o que aconteceu ano passado... 

- Você foi escolhida no último ano. - noto sua voz mudando o tom, segurando o choro. - Vocês dois foram. A sorte não está exatamente a nosso favor. 

Eu sei disso. No momento não tem muito o que eu possa fazer para acalmá-la, não posso mentir sobre suas chances serem mínimas porque, apesar de seu nome estar lá apenas uma vez em comparação a outras meninas, os parentes de outros Vitoriosos já foram selecionados múltiplas vezes para ser só uma mera coincidência, isso deve gerar mais entretenimento na Capital. 

- Você tem razão, não está. - eu digo. - Mas não tem porque se preocupar com o futuro agora, se preocupar antecipadamente não vai ajudar em nada. - eu termino o penteado e a olho nos olhos. - Deixe a preocupação para caso seu nome seja chamado, está bem?

Ela afirma com a cabeça, ainda nervosa. Dou um beijo em sua testa e a abraço. 


Meu pai, Cora e eu vamos até a praça onde a Colheita é realizada. Cora é separada para se registrar, e então vai até o setor onde ficam as meninas da sua idade. Meu pai, como sempre, fica no setor das pessoas que não participam mais das Colheitas. E eu sou direcionada por um dos Pacificadores a ir até o palco, me sento ao lado do prefeito e de Plumeria. 

Volto a prestar atenção somente na hora da escolha dos tributos. - Que a sorte esteja sempre a seu favor. Primeiro as damas. - Plumeria diz. Ela vai até a esfera que contém o nome das meninas. Meu coração não para de acelerar. Ela retira um papel, abre, e então anuncia o nome:

- Raven Dilworth. 

Eu suspiro de alívio por não ouvir o nome de Cora. Quando a menina sobe ao palco eu a reconheço, nunca fomos colegas, mas já vi ela na escola diversas vezes. Ela deve ter uns 14 anos. 

- Agora os rapazes. - Plumeria se dirige à esfera com os nomes dos meninos. - Cole Farnhill. 

O menino sobe ao palco. Meu coração se despedaça ao reconhecer aquele rosto, um dos colegas de Cora, só tem 12 anos. Meu coração acelera por um momento ao ver que minha irmã realmente tinha chance de ser escolhida. 

- Esses são os tributos do Distrito 10 da 73ª edição dos Jogos Vorazes! 

Assim que a Colheita se encerra sou direcionada até o Edifício da Justiça para esperar que os tributos se despeçam de suas famílias para que possamos embarcar no trem em direção à Capital. 

Eu arrumo meus pertences no meu quarto em um dos vagões. Assim que fico pronta, vou atrás de onde os tributos estão. 

- Ah! Eu estava exatamente agora falando de você para eles! - Plumeria diz, quando os encontro. 

Estamos num vagão onde é como um restaurante. Os dois estão sentados lado a lado, enquanto Plumeria está sentada de frente para Cole. Eu sorrio, puxo a cadeira que está na frente de Raven e me sento. 

Eu percebo uma hesitação deles, especialmente diante da comida. - Vocês podem ficar à vontade para comer o que quiserem. - eu digo, e no mesmo momento os dois começam a devorar a comida posta. Não os culpo por tanto desespero em comer, a maioria no 10 nunca tem a oportunidade de comer comida tão boa e em tanta quantidade como eles têm aqui. 

Eu explico brevemente como as coisas irão acontecer e o que os aguarda nos próximos dias. 

Quando chegamos lá vamos direto para o Centro de Treinamento, mais precisamente para o décimo andar, onde cada um vai se ambientando em seu quarto. 

Eu estou parada esperando o elevador chegar quando Finnick sai de dentro do elevador no andar do meu distrito. Eu ergo as sobrancelhas, surpresa em vê-lo aqui, mais ainda por ele ter vindo até mim. 

- Bom dia, Finnick. - eu o cumprimento. - Não quero ser grossa, mas o que você está fazendo aqui? 

- Combinamos de conversar melhor quando nós dois estivéssemos na Capital, não lembra? - Ele me lança um sorriso, mas logo seu rosto se fecha numa expressão séria. - O presidente Snow me pediu para avisá-la do seu primeiro trabalho. 

Meu coração acelera. Não esperava que fosse tão rápido. - Ah. Tudo bem. 

Ele me informa o local, apesar de não precisar saber onde tenho que ir, já que Finnick me diz ter um carro a minha espera na frente do Centro de Treinamento. Eu engulo em seco, impedindo que lágrimas se formem em meus olhos. Dou um passo para frente em direção ao elevador, mas Finnick segura meu braço. 

- Não deixe que eles lhe vejam como fraca. Tente sempre se lembrar o por que você está se submetendo a isso. - ele diz. 

Eu balanço a cabeça em concordância. Por fim, ele me dá um abraço, um abraço caloroso que por um momento me lembra o abraço de Gavril. 

A Vitoriosa do Distrito 10Onde histórias criam vida. Descubra agora