Capítulo 1

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O ar está gelado e bate em meu rosto como navalhas enquanto corro pela floresta densa, sinto vários cortes em minhas pernas descobertas, os galhos arranhando minha cabeça e meus braços. Mas nada disso pode me parar, não importa a dor, não importa o quão difícil está de respirar, eu tenho que continuar.

Eu sonhei tanto com esse dia, foram varias noites em claro planejando cada detalhezinho de como ia fugir do maldito do meu pai.

Ele é o rei das maldições, um ser desprezível de pura maldade que me torturou a vida toda, que matou quem eu mais amava. Eu quero e eu vou me vingar dele, e assim livrar o mundo desse ser abominável.

Mas nesse momento tudo o que posso fazer é correr. Já fazem uns três dias que estou nessa mata, estou faminta mas não posso parar. Minha visão está ficando turva, minhas pernas vacilam várias vezes, o brilho do sol faz arder meus olhos.

Até que sinto algo diferente sob meus pés. Olho para baixo e o chão está denso como na cela que eu vivia. Acima de mim o sol brilha tão forte e queima meu rosto. Mas a claridade logo se torna uma densa escuridão quando sinto meu corpo bater com força no chão.

Quando abro meus olhos eles ardem, quase queima com a claridade, sinto meu corpo todo muito dolorido cada centímetro dói, mas eu estou livre, finalmente livre dele e não tem dor no mundo que supere isso.

Apesar disso tudo sinto meu corpo em um lugar macio diferente de onde lembrava de cair da última vez. Assim que meus olhos se acostumam com a luz posso ver melhor, é um pequeno quarto com somente uma cômoda, uma porta e a cama que estou em cima ela fica de frente para a janela que ilumina todo o ambiente.

A porta então se abre e o rosto de uma jovem mulher surge, seu olhar é preocupado, seus cabelos negros balançam junto enquanto ela entra no quarto.

-Que bom que acordou!-diz a mulher com um olhar gentil e um sorriso nos lábios.

-O..ond...- tento falar mas minha garganta está muito seca e arde como se tivesse pedaços de vidro nela.

-Não precisa falar querida, toma..- ela me entrega um copo de água e me ajuda a tomar quando nota que não tenho forças para levantar sequer o braço.

Depois de algumas horas consigo explicar para ela e para seu marido o que tinha acontecido comigo, exatamente do jeito que a Mah me ensinou. Ela cuidou de mim desde o meu primeiro dia de vida, me contou muitas coisas do mundo, inclusive onde eu deveria ir para ficar segura.
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-Por isso que tenho que ir para Tokyo- digo segurando a vontade imensa de chorar. O casal se olha meio espantado com tudo o que falei. Claro é que não mencionei nada sobre maldições e coisas do tipo.

-Acho que já que sua família está em Tokyo podemos dar um jeito de levar você lá.- diz o marido sorrindo.

-Muito obrigada...- as lágrimas que estavam relutantes em sair agora escorriam por todo meu rosto, nem acredito na sorte de encontrar pessoas tão boas.

Alguns dias passaram até eu conseguir me recuperar bem, nunca estive tão limpa assim, me olho no espelho por uns 15 minutos ainda não acreditando na imagem que reflete nele. Meu cabelo nunca tinha ficado tão brilhoso e enrolado desse jeito, minha pele sem mais crostas de sujeira está avermelhada do sol, e por fim meus olhos que são vermelhos como os do meu pai, e como eu os odeio.

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