Sempre teremos a nova primavera

Capítulo 8

Já passava das quatro da tarde quando Kelvin resolveu fazer uma surpresa para Ramiro indo ao seu encontro no fim do seu horário de trabalho, ele pensava na reação do peão quando o visse. Hoje Kelvin simplesmente não aguentaria esperar para vê-lo só á noite no bar.

Depois de andar por uma boa extensão das terras do seu Antônio La Selva. Kelvin finalmente avistou a figura robusta de Ramiro de costas, sua pele morena reluzia como se ele fosse o próprio deus sol, os ombros largos, os braços fortes pareciam tensos, foi então que percebeu: Ramiro tinha companhia.

— Sidney — Sussurrou Kelvin incrédulo com o que via, Sidney estava sendo procurando desde que tinha fugido da delegacia por suspeita de estar envolvido na morte do Daniel. O que ele fazia aqui falando com Ramiro?

Kelvin observou tudo de longe, tentando ouvir a conversa dos dois, mas eles falavam baixo demais para que ele ouvisse de onde estava. Eles trocaram mais algumas palavras então Sidney se afastou, entrou em um carro e deu partida, fazendo o pneu cantar e deixar uma nuvem de poeira para trás. Assim que ele estava distante o suficiente Kelvin se aproximou de Ramiro

— Ramiro! — Chamou Kelvin

— Kevin? — Disse Ramiro surpreso, mas não do jeito que Kelvin esperava.

— Que que foi isso que eu vi? — Questionou Kelvin cruzando os braços

— Que "cê" tá fazendo aqui Kevinho? Pelo amor de Deus que que "cê" tá fazendo aqui? — Ramiro olhava ao redor apreensivo. Será que Sidney tinha visto Kevin ali?

— Que "cê" "tava" falando com o Sidney? — Kelvin voltou a indagar, não estava gostando nada dessa situação.

—Entra no carro ai que a gente conversa em outro lugar. Aqui não. — Ramiro parecia inquieto. Não era para Kevin estar ali, primeiro porque ele não podia saber o teor da conversa e segundo porque se algum peão os visse juntos ele teria que lidar com os comentários depois.

— Não enrola não, Ramiro — Pressionou Kelvin batendo o pé.

— Entra no carro Kevin, vai, entra logo — Retrucou Ramiro. Eles tinham que sair logo dali antes que alguém os visse.

Kelvin cedeu e entrou no carro emburrado. Ramiro só entrou na caminhonete depois de se certificar que não havia ninguém por perto e arrancou com o carro.

Os dois não trocaram nenhuma palavra durante o curto trajeto até o seu quartinho, mas o silencio só durou até ele entrar no quarto e trancar a porta.

— Ramiro o que você estava conversando com aquele bandido do Sidney? — Perguntou Kelvin assim que Ramiro se virou em sua direção

— Eu num sei do que "ocê" tá "falano" Kevinho, num tinha Sidney nenhum lá não — Respondeu Ramiro tentando plantar a duvida em Kevin.

— Ramiro. Eu vi! Eu vi você lá conversando com o Sidney. — Afirmou Kelvin irritado, não estava acreditando que Ramiro estava fazendo gaslighting com ele.

— Ô Kevin "cê" tá com "probrema" "ofaltamologico" tem que procura o... A... Pras vista... Arrumar as vistas — Ramiro desviou o olhar de Kelvin, pois não conseguia encará-lo enquanto mentia tão descaradamente.

—Para, para, para, para! Eu vi tá. Eu... Eu só quero que você me explique o que que tá acontecendo? — Kelvin não ia se deixar engabelar pelas palavras de Ramiro.

— Ô Kevin falando em explicar eu comprei um jornal ali pra "ocê" "podê" me explicar "mior" as "leitura" que "ocê" sabe que eu "tô" me esforçando pra aprende a lê né? — Falou Ramiro tentando mudar de abordagem

— Chega! Para de enrolar. Só me responde tá? É só isso que eu quero — Insistiu. Ramiro percebeu que teria que apelar para o ultimo recurso se quisesse fazer Kelvin esquecer esse assunto.