Além do festival - T3ddy (segunda temporada)

19 - Medo

Acordei bem cedo, Lucas ainda estava dormindo ao meu lado, levantei bem devagar pra não acorda-lo. Fui até o banheiro e logo Lucas abre a porta com a mão no peito e com a respiração ofegante. 

- O que houve Lara? Tá tudo bem? - Ele diz 

- Sim - Eu digo rindo - Tá tudo bem, eu só me levantei 

- Ai, que susto - Ele diz encostando na parede - Você está sentindo alguma coisa? 

- Não, eu tô bem, fica tranquilo, volte a dormir, tá muito cedo 

- Qualquer coisa me chama - Ele diz saindo do banheiro 

Depois fui até a cozinha e fiz um café. Apesar de estar sem dor, eu continuava um pouco enjoada. Fui pra sala e fiquei assistindo televisão. Peguei meu celular e comecei a ver passagens de avião. Um tempo depois, Lucas acordou e se sentou ao meu lado. 

- Eu vou pro Rio amanhã, tenho consulta - Eu falei 

- Eu vou com você - Lucas respondeu prontamente 

- Não, fica aqui, eu vou de avião pra ser mais rápido 

- Não vou deixar você ir sozinha Lara e se você se sentir mal? 

- Não vou, eu estou bem, eu prefiro ir sozinha, você tem suas coisas também e eu fico uns dias com meus pais já que não vou pra lá há um tempo 

- Tem certeza? 

- Tenho

- Mas me promete que qualquer coisa você vai me ligar? Eu pego o primeiro voo e vou até você 

- Prometo, pode ficar tranquilo 

Pedimos comida, comemos e ficamos o resto do dia jogados no sofá. Lucas foi pra casa e eu fui arrumar as minhas coisas e logo fui me deitar. 

Acordei e o dia ainda nem tinha amanhecido, tomei um banho longo e me arrumei, peguei as minhas coisas, chamei um uber e fui em direção ao aeroporto. Decidi ir bem cedo pra conseguir ir na consulta no mesmo dia. 

Fiquei um tempo aguardando no aeroporto até anunciarem meu voo. Entrei naquele avião com um misto de sensações bizarro, eu tentava me manter calma, mas o medo tomava conta de mim, já que eu não sabia o que me esperava, eu estava tentando ao máximo ser positiva. 

Depois de um pouco mais de 1 hora, o avião pousou. Foi um voo tranquilo, apesar do medo. Desci do avião, peguei minha mala e fui ao encontro dos meus pais que foram me buscar. Eu não tinha falado absolutamente nada pra eles, falei apenas que vim pra uma consulta de rotina, eu não sabia o que estava acontecendo, então não queria preocupa-los. 

Chegamos na casa dos meus pais, fiquei um tempo conversando com eles e logo saí para a minha consulta, peguei o carro do meu pai emprestado e fui em direção ao consultório. Alguns minutos depois, eu já me encontrava lá. 

Fiquei na recepção esperando e logo fui chamada. Expliquei tudo pra minha médica, ela me examinou, disse que aparentemente estava tudo bem, mas me passou alguns exames para termos certeza. Eu iria conseguir fazer os exames no mesmo dia, então fiz todos. O resultado sairia em alguns dias. 

Voltei pra casa dos meus pais e fui descansar. 

Decidi ir à praia na manhã seguinte. Acordei, me arrumei e fui andando mesmo. Alguns minutos depois eu cheguei naquele paraíso que parecia ser só meu, já que eu era a única presente ali. Coloquei minha canga no chão, dei um mergulho no mar e me sentei areia. Fiquei durante um bom tempo sentada ali olhando aquela imensidão azul. E finalmente, depois de muito tempo, eu consegui ficar sem pensar em nada. Nenhum problema passava pela minha cabeça. Eu só sentia o calor do sol na minha pele e o barulho do mar que eu tanto sentia falta. 

A praia sempre foi o meu refúgio, aquela praia perto de casa em específico. Era o único lugar no mundo em que eu me sentia bem. Meu lugar preferido. Todas as vezes que eu precisava pensar, ficar sozinha, que eu tinha algum problema, eu ia pra aquela praia e ela quase sempre estava vazia. Se eu não estivesse em casa, qualquer pessoa saberia onde me procurar. 

Fiquei naquela praia até o fim do dia, vi o pôr-do-sol mais lindo que já vi na minha vida, senti uma paz que eu não sentia há muito tempo. E depois voltei pra casa e meus pais estavam no quintal fazendo a minha comida preferida: churrasco.  

Me molhei no chuveirão e dei um pulo na piscina. Que saudade que eu estava daquele lugar, daquelas pessoas, desses momentos. Curti ao máximo a minha família enquanto eu estava ali. E assim passei o meu dia.

(...)

Dois dias haviam se passado e nada do resultado, recebi uma ligação da Tata, que era dona da agência que eu era agenciada dizendo que eu precisava voltar pra São Paulo por conta de um trabalho, então foi o que fiz. Comentei com minha médica e ela disse que me avisaria quando estivesse com os resultados dos exames. 

Cheguei em São Paulo, fui direto para casa deixar minhas coisas e me arrumar, eu participaria de uma campanha. Foram dois dias intensos de campanha. Eu estava no último dia, já quase indo embora, quando recebo a ligação da minha médica. A sua voz mansa fez o meu corpo travar. Eu a conhecia a minha vida praticamente toda e sabia que algo estava acontecendo. 

- Oi Lara, já estou com o resultado dos exames, preciso falar com você, mas preciso que venha até o meu consultório imediatamente 

- Oi, eu estarei aí amanhã - Foi a única coisa que eu consegui dizer 

Abri o site e vi que tinha um voo para a madrugada. Terminei o trabalho já bem tarde e com o coração na boca, mas sem falar nada pra ninguém. Depois fui correndo pra casa, peguei rapidamente as minhas coisas e fui pro aeroporto. 

O tempo parecia não passar, o voo atrasou e demorou bem mais do que eu imaginava, já tinha amanhecido o dia. Eu estava inquieta e nervosa. Tenho certeza de que se fosse algo bobo a doutora falaria comigo pelo telefone mesmo. 

Enquanto eu me afogava nos meus pensamentos, o meu voo finalmente foi anunciado, corri e entrei naquele avião com as pernas bambas e o coração acelerado. Parecia que o avião não estava saindo do lugar, nunca um voo de São Paulo ao Rio demorou tanto pra mim. 

Depois de muito tempo, eu cheguei, chamei um uber e fui direto para o consultório. Assim que entrei, a recepcionista nem me deixou falar e disse que a doutora estava me esperando. Entrei apreensiva naquela sala gelada, a doutora estava com um semblante estranho e me pediu pra sentar.