20 - Fim de um sonho

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- Olha Lara, eu pedi pra você vir aqui... - Ela finalmente começou a falar - Eu te conheço desde menina e sei que o seu sonho é ser mãe... - Ela pausava e cada vez mais minha mão suava - Bom, os seus exames deram algumas alterações, nada que você tenha que se preocupar por agora, você tem endometriose, mas a sua é um pouco mais complexa... - Ela então me explicou todo o processo - Por isso, é improvável que você consiga engravidar

Eu não consegui dizer nada, só a olhava atentamente.

- Há tratamento, não é impossível, mas é muito improvável - Ela então me explicou como seria o tratamento, me passando alguns medicamentos - Mas obviamente que você poderá ser mãe ainda, há muitos outros métodos, como a adoção, a fertilização in vitro - Ela continuava 

Saí daquele consultório com um sonho destruído. Fui direto para a casa dos meus pais. Eu queria muito contar pra eles o que estava acontecendo, mas eu não me sentia preparada para isso. Deixei as minhas coisas, coloquei o meu biquíni e fui novamente para a praia. Não levei celular e nem nada além de uma canga. Eu precisava pensar, ficar sozinha. 

Foi uma notícia que eu não esperava. E era sobre justamente o que tanto me incomodava. Parece que eu já estava sabendo que ia acontecer alguma coisa. Já que tudo isso nunca me incomodou, mas passou a ser relevante de um tempo pra cá. 

Eu não sabia como eu falaria para os meus pais, meus amigos e para o Lucas. Ele vinha o tempo todo na minha cabeça, as nossas conversas sobre, nossos planos, parecia que tudo tinha ido por água abaixo. Esse era o meu sonho e eu sabia que era o sonho dele também. Dois sonhos destruídos ao mesmo tempo. Eu não podia fazer isso com ele, não era justo. Mas o que eu faria? Qual seria a reação dele ao saber? Será que ele continuaria comigo? Será que é certo eu prender ele a mim mesmo sabendo que eu não poderia realizar esse sonho dele? 

Os meus pensamentos me sufocavam. Quando eu menos esperei, senti lágrimas rolarem pelo meu rosto. Eu estava tão confusa, com medo. Ao mesmo tempo que eu queria correr e me afogar no abraço do Lucas, eu pensava em me afastar e ficar sozinha. Chegou a passar pela minha cabeça, voltar a morar em outro país pra eu poder fugir um pouco disso, mas sei que é burrice, já que eu continuaria com o mesmo problema. 

Ainda não sei o que fazer, talvez agora eu só deva chorar, não pensar em nada. 

Quando me dei conta, percebi que eu não entrei no mar, não notei o pôr-do-sol que eu tanto amava. Perdi a noção do tempo naquela praia e na verdade eu nem sei que horas eram, mas já estava escurecendo. Me levantei e fui caminhando calmamente até em casa. Assim que cheguei, percebi que estava sozinha e confesso que agradeci por isso, eu não queria encarar os meus pais sem ter como dizer a eles o que eu estava sentindo. 

Fui direto pro meu quarto, peguei finalmente o meu celular e tinham milhares de ligações e mensagens do Lucas e dos meus amigos. Decidi não responder e nem retornar as ligações. 

Fiquei um tempo deitada na minha cama olhando pro nada. Até que decido finalmente me levantar e tomar um banho demorado. Desci e fui até o quintal e me deitei na rede. Estava um dia bem quente e o céu estava todo estrelado. 

Me levantei, peguei o celular e retornei pra rede, fui olhar o instagram pra me distrair e vi a postagem da Nath sobre a gravidez. As lágrimas rolaram novamente sobre o meu rosto, era uma mistura de felicidade com tristeza. 

A minha vontade era de ligar pra ela pra podermos comemorar que agora finalmente todo mundo já sabia, mas eu sabia que ela ia perguntar como eu estava e eu não ia ter o que dizer, então preferi ficar na minha e só falar com ela quando chegasse em São Paulo. 

Fui pro meu quarto, arrumei as minhas coisas e pra cada canto que eu olhava, eu lembrava de momentos que passei com a Nath, a gente se arrumando pra sair, deitadas fazendo todos os planos das nossas vidas, conversando sobre o que ela tem vivido hoje em dia, me lembrei de nós duas tentando comprar os ingressos para aquele fatídico Rock In Rio, da gente se arrumando pensando que seria mais um festival normal sem imaginar que ele mudaria completamente as nossas vidas. Sorri, chorei, vivi muito aqui. 

E apesar de me sentir no fundo do poço, eu precisava tocar os meus trabalhos pendentes, eu não poderia ficar o tempo todo no Rio, apesar de querer muito. Limpei as minhas lágrimas, terminei de arrumar tudo e me deitei. 

Acordei no dia seguinte cedinho, desci pra tomar café com meus pais e passar as últimas horas com eles. Estava difícil, mas consegui disfarçar. Ficamos grudados até a hora do meu voo, eles me levaram até o aeroporto. Me despedi dos dois com o coração na mão, mas logo estaríamos juntos novamente. 

Cheguei no aeroporto e quase perdi o voo, corri e entrei no avião. Depois de um pouco mais de 1 hora, eu estava em São Paulo, chamei um uber e fui pra casa. "Maquiei" toda aquela tristeza e fui gravar alguns stories de publicidade que eu precisava postar. 


Além do festival - T3ddy (segunda temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora