36 - Amor de pais

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Depois de arrumar toda a minha bagunça, eu me dei conta que não era só a bagunça da minha casa que eu tinha que arrumar, mas a da minha vida também. Por mais que fosse doloroso pra mim, eu precisava contar aos meus pais, já que eles sempre foram o meu ponto de paz. Talvez falando pra eles, eu mesma me sentiria melhor e aceitaria de uma forma mais tranquila. Decidi então acabar logo com isso e pegar estrada na manhã seguinte e assim eu fiz. 

Acordei bem cedo, coloquei todas as minhas coisas em bolsas, tomei um banho demorado e me arrumei. Eu não havia planejado ir ao Rio naquele dia e muito menos ficar mais tempo do que eu planejava, mas eu sabia que seria melhor assim. 

Desci com as minhas coisas e coloquei no carro e logo dei partida. Fui pensando e chorando durante todo o caminho. Talvez Lucas esteja certo... Eu nunca deveria ter saído do Rio pra ir pra São Paulo e eu não teria feito isso se não fosse por ele.

Os meus pensamentos confusos tomavam conta do meu ser. Eu estava literalmente no automático e nem me dei conta do tempo que passei dirigindo, quando menos esperei, eu já estava em terras cariocas.

Cheguei em casa e corri para abraçar meus pais, assim que os abracei, eu só consegui chorar. Tive uma crise de choro difícil de controlar. Meus pais obviamente não estavam entendendo nada e só tentavam me acalmar. Depois de um tempo, eu consegui parar e comecei a conversar com eles. Contei tudo. Desde o dia que fui parar no hospital, os exames até o término, a viagem e o presente momento.

Meus pais me abraçaram e se solidarizaram com as minhas lágrimas. Choramos juntos. Eles me consolaram dizendo que tudo ia ficar bem e que nada é impossível para Deus, apesar da minha fé ter sido posta em prova desde aquele diagnóstico.

Meu pai pegou as minhas coisas no carro e colocou no meu quarto que estava exatamente do jeito que deixei, enquanto eu tomava banho, minha mãe pedia a minha pizza preferida e meu pai procurava um filme pra nós assistirmos.

Foi um banho demorado e assim que saí dele, eu fui pra sala onde estavam meus pais. Comemos a pizza e iniciamos o filme. Eu não conseguia prestar atenção, aquelas palavras de Lucas ecoavam na minha cabeça. Me deitei no colo da minha mãe e coloquei os pés no colo do meu pai. Eu precisava do contato físico dos dois naquele momento. E enfim, adormeci.


(...) 


Tive dias conturbados e de muita insônia. Tudo o que o Lucas me falou não saía da minha cabeça. Eu estava me sentindo um lixo, a pior pessoa do mundo. Eu passei de amor da vida pra pessoa mais odiada da vida. Eu não aguentava mais e não sabia quanto tempo isso iria durar. 

Desde que cheguei no Rio, eu sumi das redes sociais e não coloquei meu celular pra carregar desde quando ele descarregou no primeiro dia que cheguei. O meu trabalho me preocupava, eu precisava aparecer por esse motivo, mas eu não queria ser falsa, mostrar que estava bem e feliz sem estar e obviamente eu não poderia ser franca, eu não falaria em público o que eu estava se passando. 

Eu fiquei durante muito tempo sem saber o que estava acontecendo, eu não tinha notícias da Nath, do Mauro, do Chris, Zoo, Gael... E muito menos do Lucas. 

Nath chegou a ligar pra minha mãe, já que eu tinha sumido do mapa e ela se preocupou. Minha mãe falou apenas que eu estava lá só pra tranquilizar a recém parida, mas não falou absolutamente mais nada e por pedido meu. 




(...)


Quase duas semanas se passaram. Os meus dias se resumiam a levantar, tomar banho, comer, deitar e chorar. 

Eu sabia que precisava sair daquela fossa. E apesar de ter acordado muito mal, eu decidi ir à praia para tentar não pensar tanto nos meus problemas. Me levantei, tomei um bom banho, peguei o meu melhor biquíni e fui à praia. Coloquei, finalmente, o meu celular pra carregar, mas deixei em casa. 

Cheguei na praia minutos depois, ela estava vazia, como de costume. Estiquei minha canga na areia, me deitei e fiquei olhando para o céu. As palavras do Lucas ecoavam na minha cabeça, eu tentava mudar o foco do meu pensamento, mas não conseguia. Meu coração apertava cada vez mais. Resolvi me levantar e ir pro mar para me distrair. 

Fui caminhando naquela areia quente até chegar no mar, dei alguns mergulhos e comecei a boiar. O dia estava lindo. O céu super azul com um sol forte, a água do mar estava na temperatura perfeita e a praia estava todinha só pra mim. Fiquei um bom tempo dentro da água e depois voltei pra areia e fiquei me bronzeando. Que falta me fazia aquela brisa quente, a água salgada e a sensação dos pés na areia. 

- Eu realmente não tinha que ter saído daqui. Aqui é meu lugar - Pensei 

Algumas horas depois, eu me levantei e fui pra casa, mas decidi que eu voltaria pra fazer o que eu mais gostava na minha vida: Ver o por do Sol. 

Cheguei em casa e fui direto pro chuveirão do quintal, tirei toda areia que havia em mim e dei um pulo na piscina. Eu sempre amei isso. Todos os dias eu precisava ir à praia, tomar um banho no chuveirão e cair na piscina. Essa sempre foi minha rotina e eu amava. Por que troquei tudo isso por um céu cinza? 

Fui até o meu quarto e tomei um banho descente, coloquei uma roupa fresca, passei um rímel, peguei o meu celular e uma outra canga e voltei pra praia, eu precisava ver aquele por do sol. 

No caminho, eu comecei a ver tudo o que perdi durante aqueles dias sem bateria e haviam milhares de ligações, mensagens, notificações... Muitas pessoas que gostavam de mim me mandando DMs. 

Depois de um tempo andando, eu chego na praia, estico minha canga na areia e me sento, logo, o meu celular começa a tocar.

Ligação on; 

- O que você quer? - Eu digo ao atender 

- Lara, acho que precisamos conversar - Lucas dizia do outro lado da linha 

- Não, nós não temos mais o que conversar, você já me falou tudo o que eu precisava ouvir - Eu disse e em seguida desligo o celular 

Ligação off.


Assim que desliguei aquela ligação, o meu peito apertou... Na realidade, nós tínhamos sim muito o que conversar. Deixei um pouco o meu celular de lado pra contemplar aquele por do sol. 

Um tempo depois, ouço uma voz conhecida, me viro e não acredito no que vejo. 

Além do festival - T3ddy (segunda temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora