Capítulo 5

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Toji acordou ao sentir alguém se aproximar devagarinho dele, mas não abriu os olhos.

Passos pequenos e leves... Uma das meninas. Ela se aproximou dele e subiu, meio desajeitada, no sofá, se deitando em cima de Toji. O homem passou a mão distraidamente pelo cabelo dela, e o corte picotado das mechas o informou que era Mai.

- Não consegue dormir? - Toji perguntou baixinho, ainda sem abrir os olhos.

Mai balançou a cabeça para os lados e apertou a camiseta de Toji com suas mãozinhas.

- Tive um pesadelo - murmurou, num tom choroso.

Toji inspirou profundamente e sentiu cheiro de urina nela. Ah, porra...

- Urinou nos lençóis? - Toji murmurou, abismado.

Mai encolheu os ombros e começou a tremer. O peito de Toji se apertou ao ver aquilo e o homem se levantou, segurando Mai por debaixo das axilas e a erguendo.

- Vou preparar um banho para você. Vá acordar a sua irmã enquanto isso, tudo bem? Vocês não tomaram banho antes de dormir mesmo...

Mai assentiu com a cabeça timidamente e Toji a colocou no chão. A menina foi acordar a irmã e o homem andou até o banheiro. Ligou a torneira da banheira e pegou alguns sabonetes e sais de banho, jogando tudo lá dentro. A banheira já estava quase na metade quando Maki e Mai entraram, e Toji resolveu desligar a água.

Saiu do banheiro, deixando a porta meio aberta por precaução — se alguma das meninas se afogasse, ele não ia perder tempo antes de socorrê-la — e foi limpar a cama. Por sorte, o colchão não havia molhado, então Toji só precisou tirar os lençóis sujos e os trocar por lençóis limpos que havia no armário. Foi até o banheiro, jogou os lençóis molhados na roupa suja e puxou um banquinho para ajudar as meninas a lavar o cabelo.

- Eu posso lavar sozinha! - resmungou Maki, inflando as bochechas.

Toji riu e beliscou a ponta do nariz dela de levinho.

- Ei! - ela gritou. Toji riu e fechou as mãos em concha debaixo da água.

- Feche os olhos - avisou, e então derramou a água sobre a cabeça dela, tirando o shampoo. Fez o mesmo com Mai, e então ajudou as duas a enxaguar o restante do sabão de seus corpos.

Tirou as meninas da banheira, puxou duas toalhas e as enrolou até que ficassem parecidas com dois rocamboles, então as ergueu, cada uma em um braço, e as levou de volta para o quarto.

- Vejamos... - Toji as colocou no chão e abriu a mala, pegando duas camisetas. - Estas vão servir.

As meninas vestiram as camisetas, que ficaram parecendo vestidos muito feios, e Toji se virou para voltar para o sofá, mas sua calça moletom foi segurada, o fazendo voltar o olhar para as duas.

- Pode dormir com a gente? - pediu Mai. - Por favor?

Toji franziu o nariz, mas se deitou na cama. Maki e Mai se deitaram cada uma do lado dele e apoiaram suas cabeças em seu peitoral.

- Pode contar uma história? - perguntou Maki.

- Aí já é pedir demais, pirralha - disse Toji.

- Mas eu não vou conseguir dormir sem uma história!

- Problema teu. Vai contar carneirinhos, vai.

Maki bufou, mas fechou os olhos e começou a dormir. Mai abriu um sorriso.

- Boa noite, papai - disse, e então fechou os olhos, caindo no sono.

Toji ficou em silêncio por alguns instantes, assimilando o que havia acabado de ouvir, e então piscou para dissipar o ardor que a poeira havia causado em seus olhos.

- Boa noite... filhas.

...

Jin abriu os olhos, sendo acolhido pela escuridão total do quarto. Pequenos raios de luz prateados entravam pela fresta entre as cortinas, mas não era o suficiente para iluminar o poço de escuridão que se tornara seu quarto.

Que horas eram? Ele tateou à procura do celular até que conseguiu o pegar. A luz queimou seus olhos por um momento, e ele pôde ver que eram três da madrugada — mas que maravilha: a hora das assombrações!

Jin soltou um muxoxo e ligou a lanterna do celular; a luz iluminou todo o quarto, e ele se levantou, saindo para o corredor. Havia esquecido de abastecer a garrafinha que deixava ao lado da cama para o caso de acordar com sede, e agora precisava ir até a cozinha pegar água para si.

Um barulho ecoou pelo corredor. Jin não soube dizer que tipo de barulho era: um rosnado, algo quebrando, algo caindo, uma risada, um grito... Mas soube de uma coisa: o barulho viera de trás de si.

Talvez... Talvez tivesse sido sua imaginação. Sim; talvez estivesse com sono demais para distinguir entre realidade e imaginação. Não haveria nada ali quando se virasse.

Prendendo a respiração, Jin se virou, encontrando o corredor vazio a janela no final com as cortinas abertas. A luz da lua entrava, inundando as paredes de prata.

E então Jin sentiu uma pontada na cabeça. Foi leve, inicialmente, como um beliscão.

E então ficou mais forte, como uma ferroada.

O corredor parecia se estender ao infinito agora. Jin piscou rapidamente, a dor em sua cabeça se tornando quase alucinante...

E então havia alguém ali, andando em sua direção.

Um botão negro contra a luz prata. Parecia haver sombras escoando dele, fluindo para as paredes e as janelas como tinta derramada. Jin tentou engolir conforme a figura se aproximava, mas sua língua estava pesada e seca como papel.

Cada passo o aproximava — tornava-o maior e mais alto — e o coração dele retumbava nos ouvidos. Talvez o café que tomara mais cedo estivesse estragado; talvez tivesse comido algo que não o fez bem.

Em meio às palpitações nos ouvidos e na cabeça, um murmúrio de asas encheu o ar. No intervalo entre cada piscar de olhos, Jin poderia jurar ter visto coisas revolvendo-se em torno da figura em círculos rápidos e intermináveis, pairando sobre ele, esperando, esperando, esperando...

O celular caiu de sua mão e a lanterna se apagou. Toda a luz, inclusive a que entrava pela janela, de repente se extinguiu.

E então Jin não conseguia sentir mais nada.

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