Light - Novas Espécies [L10]

Capítulo 14

Um dia antes

As informações estavam certas, eu sabia. Acabara por fazer muitas ligações ao longo daqueles dias e não podia estar errada em relação ao paradeiro daquelas crianças, mas quando se mexe com pessoas ruins, é difícil não ficar com frio em seus ossos, o medo de errar, qualquer número ou vírgula fora do lugar pode custar a vida delas. Eu interferia em muita coisa, minha área de atuação era bastante ampla, o que fazia com que acabasse irritando muitas pessoas, já se tira por Carlos. Mas, agora parecia estar cutucando uma casa de vespas, a todo momento olhava para trás na intenção de não deixar rastros. Era perigoso fazer isso em Homeland, mas Justice sabia e me deixou ajudar com o que fosse necessário.

O comércio de pele era poderoso no mundo, e os espécies por mais que não gostassem de se intrometer nos problemas dos humanos, sentiam na pele a sensação de ser vendido e usado. Por isso, quando contei a ele o que estava fazendo, não hesitou em permitir, embora eu soubesse que estavam de olho em tudo o que fazia. Luz me ligou alguns dias atrás com uma preocupação que lhe tirava o sono, e começava a tirar o meu também. Fotos de garotas entre cinco e dez anos estavam circulando na Dark Web, com preços altíssimos. A informação vazada foi retirada antes que eu tivesse acesso, mas por alguma sorte conheço um ótimo hacker que consegue seguir rastros quase inexistentes, Anthony estava disposto a ajudar depois que eu o livrei de algumas situações com o governo, agora tinha em minhas mãos o resultado de muitas ligações e pesquisas. Foi necessário convencer Freddy, um informante do Narcotráfico, a averiguar o local, mas estava confirmado onde as garotas eram mantidas. A equipe de Luz iria entrar a qualquer momento, meu coração estava martelando no peito esperando por algum sinal de que aquelas crianças estavam a salvo.

— Luz? Por favor, me diga como elas estão? — perguntei assim que atendi o celular no primeiro toque.

— Lotty... — não não não... Ela suspirou, parecendo cansada enquanto eu tremia e procurava um lugar para sentar. — Era aqui onde as estavam mantendo, mas só achamos duas, bastante feridas. Raquel está levando elas para receber tratamento médico. Acredito que eles venderam as outras, ou as transportaram de lugar.

— Que merda! Merda! Eu sinto muito, Luz, foi minha culpa, demorei demais para achar o local... — as lágrimas já inundavam minha face, desespero, frustração, derrota.

— Nosso trabalho tem margens de erros enormes, Lotty. Não se cobre tanto, ou se culpe por isso, vamos acha-las e resgatá-las, agora toma uma água e se acalma. Ligo pra você quando estiver na base. — desligando o telefone, eu joguei contra a cama e gritei meu ódio.

Por causa da minha demora, aquelas crianças estavam com malucos pedófilos, psicopatas cruéis, pessoas sem um pingo de sanidade mental. Não podia acreditar no quanto aquilo doía, meu corpo parecia pesar demais para se levantar, então me dobrei até estar encolhida sobre a cama. Como se não bastasse, ao amanhecer a menstruação tinha dito "Olá". Haviam duas chamadas no celular quando acordei, eram de Luz, eu queria ligar para ela de novo, mas precisava de um banho quente primeiro. O terror da menstruação são as cólicas, e um banho quente costuma ajudar na recepção delas. Abaixo do chuveiro, as lágrimas se uniram à água que caia e meu corpo estremeceu com a liberação daquele sentimento, de novo. Eu só queria ter encontrado todas, para que Luz e sua equipe pudessem levá-las para casa em segurança. Quando finalmente terminei, coloquei o Ob e me vesti, sentei sobre a cama e agarrei o celular e liguei para Luz, que atendeu no quarto toque.

— Como você está? — perguntou ela. Respirei fundo, olhando para o chão como se fosse a pergunta mais difícil do mundo para se responder. — Hei, Lotty. Se acalme, vamos encontrá-las, você abriu uma porta enorme para nós, agora já estamos trabalhando em todo o resto.

— Eu sei. Mas, queria ter conseguido. Não consigo parar de imaginar o que aquelas garotas devem estar passando enquanto procuramos por elas. — solucei, tentando inútilmente ser forte.

— Antes, elas não tinham prazo para o fim do seu sofrimento, agora têm. Tudo graças a você, se não tivesse descoberto onde estavam, nem saberíamos sobre elas. E mesmo que ainda não tenham ideia do que estamos fazendo aqui, há uma enorme quantidade de pessoas pensando nelas, procurando por elas...

— ... E vamos matar todos os filhos da puta, Lotty. Pode acreditar. — a voz de Felipe interrompeu as palavras de Luz.

— Vou te dar as cabeças deles de presente bebê, é uma promessa de cavaleiro. — murmurou Dylan.

— Que conversa é essa de cabeças? — questionei, alguém bufou do outro lado em uma risada contida.

— Eles descobriram a senha da tevê a cabo. Estão assistindo Game Of Thrones. — não consegui, nem com toda a minha força, conter a risada que saiu da minha garganta.

— Isso é aconselhável? — Dylan e Felipe eram uma força da natureza meio maluca, não podia deixar que vissem muita coisa na televisão, porque quando colocavam qualquer ideia na cabeça, tudo poderia desandar.

— Não. Encontrei eles no quarto discutindo sobre ser um Regicida, que em tempos atuais estar ao lado do presidente lhes daria uma ótima oportunidade de acabar com muitas preocupações, nem queira ouvir o resto. — a risada se calou quando meus lábios se afastaram em choque.

— Eles sabem que não foi isso que impulsionou o James, não é? — preocupação cômica.

— Tente dizer isso a eles, Raquel leu os livros e tentou de muitas formas esclarecer as coisas, mas você os conhece. — uma pausa rápida e tive que afastar o telefone do ouvido. — Dylan, você não vai pra Rússia!... Porque não! Preciso desligar, Lotty, e tente não se trancar com chocolates e filmes de novo.