Prólogo

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— Inútil. Um espécie que não mata e prefere apanhar ao acasalar é totalmente inútil para mim! Venha buscar essa coisa! – Normand gritava no telefone em frente a minha cela, andava de um lado para o outro com raiva. Eu tinha sido colocado em outro teste e me neguei a matar o macho que me atacava, isso o deixou irado. – Você vai ser drogado, 438. Se não quer colaborar, vai virar rato de laboratório. Sua besta inútil!

Ele jogou as luvas que usava em meu rosto e saiu de perto da cela, não era a primeira vez que ele me ameaçava de alguma coisa. Não aguentava ver as fêmeas amarradas para que pudesse compartilhar sexo, não queria que elas fossem obrigadas a isso. Eu apanhava muito e acabava sendo jogado desmaiado na minha cela, não conseguia impedir mas, ao menos não era quem o fazia. Também não queria lutar com os outros machos, machuca-los, mata-los. Não era algo que eu achava certo fazer, talvez nunca me perdoaria se permitisse. Agora estou acorrentado contra a parede novamente, a cela foi aberta e alguns humanos entraram rindo, eram os guardas. Estavam com bastões nas mãos e se aproximavam fazendo piadas sobre animais. Ser um rato de laboratório seria pior do que isso? Prendi a respiração quando o primeiro bastão bateu contra o meu abdômen, com o olhar baixo eu apenas via os cultos dos golpes e sentia os danos ao corpo, as vezes rosnados de dor escapavam da minha garganta mas eu evitava. Agir como um animal era o que os impulsionava a bater com mais força, era seu combustível.

Acordei algumas horas mais tarde, ainda estava preso contra a parede da minha cela, tinha sangue em minha boca o que deixava claro que os golpes tinham sido em minha cabeça também. Meu corpo doía ao simples ato de respirar e isso me incomodava, mas não tinha muito o que eu pudesse fazer. De repente ouvi sons de saltos, normalmente apenas homens trabalhavam no laboratório, algumas fêmeas eram trazidas de outros compartimentos para o acasalamento e depois levadas embora. Eu tinha aprendido em pouco tempo toda a dinâmica do lugar. Em frente a minha cela uma mulher negra alta e esguia me olhava com desdém, analisava meu corpo devagar como se estivesse fazendo cálculos mentais. O doutor Normand Se juntou a ela alguns minutos mais tarde.

— Isso foi uma punição. Nada que ele não possa se recuperar depois de um tempo. – afirmou o doutor.

— Leve-o para a sala, quero ver esse Gurpardo em ação. – sua voz era fria, controlada, calculista. Sim, eu sabia exatamente o que era tudo isso, tinha facilidade em aprender sobre o comportamento humano, suas palavras. Eu não precisava ouvir muito para aprender, e tinha os guardas tagarelas ao meu favor.

Fui arrastado para a uma sala de testes, tinha alguns pesos, um quadro, uma televisão, um espelho escuro, uma esteira, um saco de box... Era ampla, cinza e com iluminação forte. O cheiro de produtos de limpeza rapidamente inundou meu olfato causando uma leve tontura, mantive o equilíbrio com esforço e tentei ignorar o cheiro que fazia meu nariz arder.

A televisão brilhou mostrando o que eu tinha que fazer, conforme mostrava eu comecei a bater no saco de areia com toda a força que eu tinha, fiz isso por uns dez minutos. Em seguida a imagem me mandou levantar os pesos que estava no extremo direito da sala, ergui-os sem muito esforço, eu podia levantar quase o dobro daquilo, me lembro de erguer um macho pesado enquanto tentava livrar meu pescoço de suas garras. O próximo era a esteira, subi no aparelho e ele começou a se mover, acompanhei, quanto mais rápido ia mais eu me sentia livre, gostava de correr. A última coisa que passou na televisão foi uma curta aula sobre um cálculo de física, força×velocidade. Quando a aula acabou a imagem de um problema brilhou na tela, peguei o giz e comecei resolver o cálculo conforme tinha visto na televisão. Algum tempo depois que eu terminei tudo, fui transportado de volta a minha cela.

— Ele pode ser um macho apaziguador... Mas você viu a velocidade que ele corre? A rapidez que ele aprende as coisas? Não fazemos ideia do que ele já aprendeu apenas observando você e seus guardas. Pago um preço realmente alto por ele... – viraria um rato de laboratório agora.

Foi o que pensei até que um estrondo Rompeu o lugar. Os guardas começaram a correr desesperados de um lado para o outro, a mulher e o doutor tentaram se esconder mas já era tarde, os intrusos estavam aqui.

— Vocês estão presos sob as leis de Homeland! Sugiro que permaneçam quietos e calados! – um humano gritou apontando uma arma em direção aos dois. – Viemos ao seu resgate, não tenha medo.

Eu não tinha, medo era algo que tinham tirado de mim, estava conformado que viveria aqui para o resto de minha vida.

Light - Novas Espécies [L10]Onde histórias criam vida. Descubra agora