Capítulo 9

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Já não havia mais o desconforto de antes causado pela inesperada aparição de Lucas. Os clientes do Café já tinham ido embora. Laura, absorta em seus pensamentos procurava alguns livros no canto onde ficava a livraria.

Ju reclamou que estava cansada. Lucas acabou levando Rodrigo e ela para casa, já que tinham exagerado nos drinks. Antes de sair, Lucas se ofereceu para levar Ana em casa, mas ela nem respondeu. Bella, Cris, Ana e Luana recolhiam o buffet do almoço e ajeitavam algumas mesas.

Laura parecia perdida nas estantes da livraria. Escolheu um livro de Fernando Pessoa e se sentou em uma das mesas. Alex se aproximou admirado:

— Livro do Desassossego, interessante sua escolha. — foi interrompida pela voz grave de Alex. — Você gosta de poemas?

Laura o fitou e involuntariamente um sorriso brotou em seus lábios.

— Minha avó era uma amante das poesias dele. Lia pra mim quando eu era pequena.

— Sempre gostei de poemas. — contou orgulhoso.

— Eu devorava livros quando era criança. Perdi o hábito com o tempo. — confessou com o olhar perdido.

— Você e a Luana são muito diferentes. Confesso que já tinha te visto algumas vezes, mas nunca imaginei que alguém como você conversaria com um reles mortal. — brincou tentando arrancar um sorriso.

— Sou muito julgada pelas pessoas que não me conhecem. — brincou sorrindo. — Eu não mordo! Nem mesmo sou tão vazia quanto pensam. — falou irônica. — Eu também tenho coração.

Alex reparou Laura intrigado. Era uma mulher atraente, diferente talvez. Não parecia a mesma que via ao longe. Parecia desnuda, parecia real. Buscou em sua memória um trecho de Fernando Pessoa para recitar.

— "O coração, se pudesse pensar, pararia." — sorriu Alex sentando na cadeira ao seu lado. Com um olhar intenso continuou: — "Quem sou eu para mim? Só uma sensação minha."

Laura sorriu pensando em alguma citação, Alex era um homem interessante e de alguma maneira se sentia surpreendida. Nunca imaginaria que ele gostasse de poemas. Antes que dissesse alguma coisa, seu sorriso se desfez ao ver Ernany parado na porta do café. Ele parecia hesitante em se aproximar.

Laura, surpresa com a presença do marido e relutante em abandonar a interessante conversa, se levantou. Fechou o livro que folheava segundos antes e o entregou para Alex. Olhou para o desconhecido sentado, segurando o livro de poemas e citou o primeiro verso que veio a sua mente.

— "Sou uma prateleira de frascos vazios."

Sem olhar para trás, caminhou ao encontro do marido. Se aproximou para beijá-lo levemente nos lábios, mas ele reagiu naturalmente virando o rosto. Alex não conseguiu deixar de prestar atenção naquela cena.

— Podemos ir? — perguntou Ernany secamente.

— Por favor Ernany, quero que conheça Alex, ele é amigo da Luana.

— Como vai. — cumprimentou o marido com a cara de poucos amigos.

Alex o saudou da mesma maneira, à distância e com poucas palavras.

— Preciso me despedir das meninas. — falou Laura pegando sua bolsa, tentando ser doce com o marido.

— Te espero no carro. — falou Ernany e saiu.

Antes de entrar na cozinha para despedir da irmã e das amigas, Laura encontrou os intensos olhos verdes de Alex a fitando complacentes. Ele a viu sumir entre as portas da cozinha. Parado com o livro nas mãos, tentava entender o motivo pelo qual o marido tratava a mulher de maneira tão rude e fria.

Até que a vida nos separe... DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora