1. Jenna

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Equilibrar dois copos de café fervendo e uma caixa de donuts e ainda tentar destrancar a porta não é fácil. Mas, como sou a melhor amiga do mundo - coisa que farei questão de enfatizar assim que conseguir entrar no apartamento da Emma -, dou um jeito.

Reclamo quando, ao girar a chave, um pouco de café quente cai no meu braço pelo buraquinho na tampa do copo. Minha pele é bem clara, estão a probabilidade de deixar marca bem vermelha é de um milhão por cento.

No momento em que entro no apartamento dela (que não deveria nem ser chamado de apartamento, porque tem o tamanho de cinco apartamentos enormes juntos), o perfume da Emma me atinge que nem um ônibus desgovernado. Conheço o cheiro dela tão bem que acho que seria capaz de encontrá-la pelo olfato se ela desaparecesse.

Com o calcanhar do tênis, bato a porta com bastante força para avisar que cheguei.
Quarterbacks saradas, atenção! Cubram-se! Uma mulher de olhos ávidos adentrou o recinto!

Um grito agudo vem da cozinha, e eu franzo a testa na hora. Espiando do canto da parede vejo uma mulher de babydoll rosa-claro encolhida na ponta oposta da bancada comprida de mármore branco. Ela está agarrada a um cutelo. Tem uma bancada inteira entre nós, mas, pelos olhos arregalados, parece que encostei uma faca na jugular dela.

- não se aproxime! - grita ela, esganiçada.
Reviro os olhos. Por que ela precisa ser assim, tão estridente? Parece até que prendeu o nariz com um pregador e inalou um balão inteiro de hélio.

Eu levantaria a mão para não ser esfaqueada, mas estou carregando o café da manhã - para mim e para Emma, não para a Senhorita Enganiçada. Mas não é minha primeira vez enfrentando uma namorada da Emma, então ajo como de costume e sorrio para Kelly. É, eu sei o nome dela, mesmo que ela finja não se lembrar de mim sempre que a gente se encontra, ela já está saindo com Emma há uns meses, e nós vimos várias vezes. Não faço ideia de como ela aguenta essa mulher. Ela parece o oposto do tipo de pessoa que eu escolheria pra ela - assim como todas as outras.

-Kelly! Sou eu, Jenna. Lembra?
Melhor amiga da Emma desde a época da escola. A mulher que estava aqui antes de você é que vai continuar aqui muito depois. LEMBRA DE MIM?!
Ela suspira profundamente e relaxa os ombros, aliviada.

- Aí, nossa, Jenna! Você quase me matou de susto. Achei que fosse uma Stalker invadindo a casa.

Ela abaixa a faca, ergue uma das sobrancelhas perfeitas e murmura, não tão baixo assim:
- Mas, no fim das contas... não estava tão errada assim.
Estreito os olhos, meu sorriso tenso.

- Emma já acordou?

São seis e meia da manhã de terça-Feira, então tenho certeza de que ela já está acordada. Toda namorada dela sabe que, para conseguir ver Emma, tem que acordar tão cedo quanto ela. É por isso que Kelly está na cozinha de pijaminha de cetim com cara de raiva. Ninguém gosta da manhã tanto quanto Emma. Bom, e eu, que também adoro. Mas a gente é meio esquisita.

Ela virá a cabeça devagar para mim, o ódio ardendo nos olhos azuis delicados

- já. Está tomando banho.

Antes de a gente sair para correr?
Kelly olha para mim como se doesse ter que explicar.

- Esbarrei nela sem querer quando entrei na cozinha agora há pouco. Ela estava com o shake de proteína na mão e...

Ela fez um gesto irritado, que conclui a história: o shake caiu todo nela. Acho que admitir que cometeu um simples erro é fatal para ela, estão me sensibilizo e deixo a caixa de donuts na bancada ridiculamente grande.

Táticas do amor - Jemma. Onde histórias criam vida. Descubra agora