3. Emma

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Suadas e exaustas, eu e Jenna nos jogamos no chão na frente do meu sofá branco. À minha esquerda estão a janelas do chão ao teto com a vista para o mar que me custaram três milhões de dólares, mas à minha direita está a vista que eu pagaria com a alma para admirar todos os dias pelo resto da minha vida. Mas Jenna não sabe que é isso que eu sinto por ela.

Esbarro o dorso da mão no joelho dela, bem ao lado da cicatriz irregular que mudou a sua vida por completo.

- Vai fazer o que mais tarde? Quer almoçar comigo no CalFi?

O CalFi é o nosso estádio. Lá tem um centro de treinamento novinho em folha onde a gente malha durante a semana, e o refeitório é comandado por alguns dos melhores chefs do mundo.

E eu, caso você esteja se perguntando, sou tipo uma cachorrinha carente implorando para Jenna brincar comigo - e brincar comigo sempre.

Ela virá a cabeça pro lado, me encarando com seus olhos castanhos, quase pretos. Jenna tem um cabelo meio comprido, liso, tão liso que dá até agonia de como ela consegue deixar ele desse jeito, e uma boca linda, com covinhas dos dois lados, do tamanho dos meus polegares. O sorriso dela é digno de Júlia Roberts, tão único e estonteante que não dá para comparar com nenhum outro. Com a cabeça recostada no sofá, nossa testa quase se encosta. Quero chegar mais perto, só mais um centímetro. Ou dois. Quero sentir os lábios dela.

- Não vai dar. Tenho aula de movimento criativo para bebês às onze.

Franzo a testa.

- Você nunca da aula terça de manhã.

Ela dá de ombros.

- Pois é, tive que incluir mais uma turma, duas vezes por semana, para conseguir pagar o aluguel do estúdio. No mês passado o proprietário me avisou que aumentaram umas taxas, aí o aluguel vai subir uns duzentos dólares.

Jenna tenta se levantar, mas puxo ela de volta pela alça da regata. Foi um movimento quase sedutor, e noto na hora que foi má ideia, porque ela arregala os olhos. Para disfarçar, continuo a conversa.

- Você já está dando aulas demais.

Só tem uma professora trabalhando trabalhando estúdio da Jenna, dando aulas de sapateado e jazz ela precisa contratar mais gente para ajudar. O estúdio é praticamente uma ONG, mas só se não contar as despesas, porque o aluguel de um espaço desses em Los Angeles é um absurdo de caro. Não é justo, porque tem muita gente sem grana aqui, que fica totalmente negligenciada por faltade recurso. A vontade da Jenna sempre foi oferecer um lugar para as crianças que não tem outra oportunidade de fazer aulas de danças, então ela faz tudo por preço camarada.

O problema é que a mensalidade é baixa demais para esse modelo de negócio. Jenna sabe disso, mas fica sem saída, e eu odeio o fato de que a solução dela para esse problema seja pagar mais aulas e se doar ainda mais para cobrir o déficit, em vez de aceitar meu dinheiro.

- Dou a quantidade normal de aulas para uma professora de dança - responde ela, num tom seco de advertência.

Só que esse tom dela é tão ameaçador quando o de um coelhinho de desenho animado. Os olhos dela são grandes e brilhantes, o que só me faz amá-la ainda mais.

Falo de um jeito mais sua suave, me preparando para um assunto que sei ser sensível.

- Sei que você dá conta e que você é boa no que faz, mas, como sua amiga, odeio que você tenha que trabalhar tanto, ainda mais sentindo dor no joelho. E, sim, eu tô ligada que você está com dor, porque vi você forçar mais a perna direita hoje para correr - digo e, por reflexo, levanto as mãos. - Não me belisca, por favor. Só quero que você se cuide enquanto cuida de todo mundo.

Táticas do amor - Jemma. Onde histórias criam vida. Descubra agora