10.Questões do coração

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Pré-revisado, boa leitura.
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Questões do coração

Enquanto caminhava pelo campus, Jericho tentava desviar seus pensamentos para qualquer coisa que não fosse sua situação atual. Ela observava os estudantes indo e vindo, alguns em grupos animados, outros solitários como ela. Tentava se perder na paisagem, nas árvores balançando ao vento, nos pássaros que voavam no céu. Por um momento, ela conseguiu esquecer seus próprios dilemas, mas logo a realidade voltou a pesar sobre seus ombros.

Entrando na biblioteca, escolheu um canto tranquilo e se sentou em uma das mesas. Abriu o aplicativo de notas do celular e começou a revisar suas anotações, tentando focar em suas tarefas acadêmicas. No entanto, sua mente continuava a vagar para sua situação pessoal.

E se Ban não quisesse o bebê? E se ele a julgasse por querer manter a gravidez? Não seria a primeira vez que ele a julgava mesmo. E se ela não fosse capaz de conciliar a maternidade com os estudos? E se fosse expulsa do alojamento? E se seu irmão a deixasse de lado? As perguntas giravam em sua mente, trazendo consigo uma enxurrada de preocupações e incertezas, acelerando os batimentos e dificultando a respiração lentamente.

Sentindo-se cada vez mais sobrecarregada, Jericho decidiu fazer uma pausa. Levantou-se e foi até a seção de autoajuda da biblioteca, procurando por livros que pudessem oferecer algum conforto ou orientação. Encontrou um título que parecia promissor e o pegou, folheando-o em busca de palavras de encorajamento.

Enquanto lia e acalmava a mente, Jericho percebeu que não estava sozinha em suas preocupações. Muitas mulheres passavam por situações semelhantes à dela e encontravam maneiras de superar os desafios da maternidade enquanto continuavam a perseguir seus objetivos pessoais e profissionais e grande parte permanecia sendo mãe solo.

Com um novo senso de determinação, Jericho decidiu enfrentar sua situação de frente. Ela sabia que não seria fácil, mas estava determinada a encontrar uma maneira de lidar com sua gravidez e seguir em frente com sua vida, nada de aborto. Decidiu que conversaria com Ban, mas antes daria um jeito nas situações ao seu redor, poderia até mesmo parece egoísta da parte da lilás o colocar para escanteio, mas não se sentia dessa forma. Não quando precisava ter certeza de que revelaria de uma vez o assunto que a deixava tão apreensiva tanto para o instrutor quanto para o irmão e ainda teria de ver se o diretor manteria a disponibilidade do alojamento.

Tantas coisas para lidar sozinha, tanto para organizar, sendo que Jericho nem havia iniciado o pré-natal e sem que percebesse os dias correram de forma afoita.

Haviam se passado uma semana desde que Ban descobriu sobre a gravidez e apesar de aparentar não se importar,  o prateado não via a hora de conversarem seriamente,  o Lincourt se sentia um pouco perdido e até mesmo equivocado a respeito da lilás  pois, jamais imaginou que transas irregulares acabariam com uma Jericho grávida e o pior de tudo era ter certeza de quer era dele.

A porta da sala foi aberta e o empresário revirou os olhos ao ver de quem se trata, afinal fugiu dela por sete dias inteiros.

-- Liz disse que eu te encontraria aqui. -- Kilia comentou sentando na cadeira de frente.

-- E o quanto você sabe? -- Ban não fazia questão de ser delicado e sim direto.

-- Sei tudo. Meliodas contou para Elizabeth, Arlequim para a Diane e ambas me contaram. -- Deu de ombros explanado a rede de fofocas.

-- Porra...-- Passou as mãos nos cabelos.

-- Escuta irmão. Sei que não curte os meus conselhos, mas acho que está precisando de ajuda.

Ban ergueu o olhar para sua praticamente gêmea.

-- Você fodeu com essa garota e não me refiro a sexo, seu modo de agir não passa uma confiança para ela ao ponto de te contar algo tão importante. -- Ele revirou os olhos já havia escutado algo parecido do capitão, então ela continuou: 

-- Sabe, eu sei que não somos lá essas coisas, mas eu sempre estarei aqui quando você precisar e Elaine estaria muito feliz por isso. Te ver seguir em frente depois de tanta tristeza.

Ban suspirou, sentindo um peso ainda maior sobre seus ombros. Ele sabia que sua irmã estava certa, mas admitir isso em voz alta era difícil. Nunca foi bom em lidar com sentimentos, especialmente quando se tratava de assuntos tão sérios como esse e o fato de que, no fundo, lá, no fundo, não queria crer que talvez estivesse pronto para seguir em frente.

O prateado via como um desrespeito e descaso com a amada admitir que algo tão natural estivesse acontecendo, quando ela perdeu tantas vezes a chance de poder sentir a emoção de ser mãe, quando ela chorou tanto ao descobrir o motivo de sua fraqueza corporal e acima de tudo as lágrimas derramadas pela família ao compreender que Elaine em breve partiria.

A dor da perda é algo complicado de entender e superar, ela cria vínculos cruéis com a tristeza que se não for bem amparada destroem o ser humano de dentro para fora, e aquela pessoa que foi amada sofre ao assistir aquela que a amou se afundando e não seguindo em frente. Ainda assim, Ban desviou o olhar antes de relaxar os ombros e encarar a irmã: 

-- Eu sei que não agi da melhor forma... -- ele começou, escolhendo cuidadosamente suas palavras. -- Não foi minha intenção fazer Jericho se sentir assim. Só... Não sei como lidar com tudo isso.

Kilia inclinou a cabeça, estudando o irmão por um momento antes de responder.

-- Você precisa ser honesto com ela, Ban. Dizer o que está sentindo, ouvir o que ela tem a dizer. Vocês precisam conversar, mesmo que seja difícil afinal de contas esse bebê também é seu. 

Ban assentiu lentamente, sabendo que sua irmã estava certa. Ele estava respeitando o tempo de Jericho, mas já havia se passado uma semana e nada, enfrentar a situação de frente não o preocupava e sim o que a lilás faria em seguida, ter que lidar com os sentimentos dos outros sem ser os seus amigos era complicado e isso significava sair de sua zona de conforto.

-- Eu sei... Eu só não sei por onde começar.

-- Comece sendo sincero, seja vulnerável. Mostre a ela que você se importa, que está disposto a enfrentar isso juntos.

O Lincourt chegou a arquear a sobrancelha, por dentro a mente gritava  que tipo de conselho era aquele? Vulnerabilidade não é algo com que se lide assim abertamente, mas poderia sim absorver algo das palavras da irmã, mesmo que no fim fosse agir do modo que quisesse.

-- Obrigado, Kilia. -- Curtas palavras que bastavam ser o suficiente.

-- Estou aqui se precisar de mim, irmão. Sempre.

Ban olhou para sua irmã, vendo a determinação em seus olhos. Ele sabia que ela estava torcendo pelo melhor, já que para Kilia tudo o que importava era a felicidade dele. Com um aceno de cabeça, Ban se levantou da cadeira e deixou a chave sobre a mesa.

-- A casa está sempre disponível pra você, só não implica com a bagunça. -- Ban não esperou pela resposta, já estava se cocando para se resolver com Jericho há dias e assim seguiu para o campus.

[...]

Jericho tinha um sorriso bonito naquela tarde, o vestido branquinho e larguinho caia como uma luva pelo corpo, nas mãos alguns livros além da bolsa de ombros, tinha iniciado os trabalhos na biblioteca enquanto a movimentação do local estava baixo, uma vez que as aulas estavam a todo vapor mas ela sabia que a semana seguinte ficaria pesada, pois em breve entrariam na semana dos jogos e consecutivamente das provas. A garota caminhou em direção a entrada do campus só não esperava encontrar o platinado do outro lado da rua a encarando, óculos escuros e braços cruzados, parecia impaciente e completamente indiferente do que costumava ser. 

Ban atravessou a rua se aproximou dela e pegou os livros, tirou os óculos e a intensidade do olhar fisgou os belos âmbar, a lilás nem sentiu quando a bolsa também foi tomada de seu ombro direito e em como ele parecia dominar ao seu redor pela tensão contida em ambas as expressões faciais:

-- Precisamos conversar. -- Ban afirmou conforme os lábios de Jericho pareciam selados.





Duas listras | BanOnde histórias criam vida. Descubra agora