Muitos não entenderiam o lado de Jericho. Na verdade, apenas aqueles próximos teriam uma visão ampla o suficiente para se compadecer ou até mesmo entender, e isso se restringia a Guila, que a conhecia profundamente, e aos amigos de Ban, que dariam razão à lilás, mesmo sem a conhecer, pelo modo como ele vive.
Jericho era uma mulher com sonhos e ambições como qualquer outra. Quando se viu grávida, entendeu que seu mundo ruiria aos poucos. Afinal de contas, uma gravidez não planejada pode sim estragar a vida da mulher se ela não souber lidar com isso, ou não tiver o apoio e os recursos certos. E a lilás se encaixava em todos esses quesitos.
Agora, naquele carro, ela imaginava o que faria. Não contou ao irmão sobre a gravidez. Ele era quem fornecia os meios para ela estudar, pois ficou responsável pelo dinheiro da família. Mesmo que fosse pouco, soube trabalhá-lo e fazer render. O dormitório era outra questão. A universidade de Camelot tinha seus princípios e reputação. Ela não sabia se uma mulher grávida seria bem-vinda ou se especulariam que a criança foi feita ali. Se esse fosse o caso, seria expulsa e trocariam as regras, como se a utilizassem como uma espécie de exemplo. Todos sabem que jovens fazem sexo e, para completar, estaria fora do time até o próximo torneio. Nunca viu uma grávida competindo na liga e muito menos praticando esgrima.
A cabeça estava uma bagunça repetitiva, mesmo que o tempo houvesse passado desde que Ban descobriu e ela começasse no trabalho de meio período, e o platinado não estava diferente.
Ban não sabia nada sobre Jericho além de suas preferências sexuais e seu gosto por comida, esportes ou roupas. Ainda assim, tinha absoluta certeza de que o bebê era dele. E o fato de a garota continuar calada a viagem toda só o deixava internamente mais inquieto e fazia com que se lembrasse das palavras de Gowther quando descobriu que estavam tendo um lance:
— Você é muito cego ou se faz. Está na cara que Jericho está apaixonada por você. E só vê-la como uma foda ainda vai te trazer problemas.
O pensamento martelou. Naquela época, o platinado não entendia o que Gowther quis dizer com problemas. Afinal, um sexo gostoso deveria ser somente isso para ambos os lados, mas hoje era outra história. O problema em si não tinha nada a ver com o fator gravidez e sim com ele.
Um homem que tinha certeza de que não passou confiança para ela ao ponto de esconder justamente pela forma como age.
— Vamos parar em Danafor. — Ele afirmou, deixando-a confusa e finalmente o encarando. — Você está grávida, deve querer usar o banheiro e precisa se alimentar direito.
— Eu estou bem. — Ela se manteve distante e Ban não queria admitir, mas estava se corroendo.
— Jericho, desde que eu peguei a estrada só parei para abastecer e você não comeu direito, só usou o banheiro. Está anoitecendo e isso não será negociado. — Ela revirou os olhos.
— Tanto faz. Amanhã espero retornar a Camelot no horário como conversamos.
Ele estava mais sério que o comum. Na verdade, começou a se questionar se não era melhor sugerir que passassem mais tempo juntos, assim poderia acompanhar a gravidez.
A pick-up foi adentrando a cidade. Danafor é um local bonito e, diferente de Camelot, que possui majoritariamente uma construção modernizada, a cidade é pitoresca e com ar de interior, predominando as construções de madeira em tons claros. Jericho nunca adentrou a cidade, pois, quando ia para Liones, passavam por fora. Agora estava encantada, até que notou a construção à frente. O carro havia parado e claramente estavam em um local caríssimo.
Ban desligou o carro e abriu a porta. O manobrista se aproximou e ele entregou a chave, pegando a mochila no banco de trás. Depois deu a volta e abriu a porta para Jericho, pegou a bolsa dela e aguardou que saísse.
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Duas listras | Ban
RomanceEla encarava as duas listras com descrença, sentindo o peito doer. Como raios deixou aquilo acontecer? Tinha certeza de que se protegeu e agora para piorar tinha que lidar com mais de um problema, prestes a entrar para a liga das paladinas via o se...