Me Visitar

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Pov S/n


Estávamos caminhando de volta para o acampamento em silêncio, mas era um silêncio que me deixava em paz, quase como estar flutuando. Fazia tanto tempo que eu não me sentia assim. Era como estar de volta ao tempo em que meus pais estavam por perto, quando tudo parecia mais simples e seguro. Com Astrid ao meu lado, me sentia como parte de algo outra vez. Queria mostrar a ilha para ela, cada canto, cada dragão que aparecia por aqui; ia ser incrível.

Chegamos ao acampamento e começamos a trabalhar na jangada. Foi então que uma sensação estranha me atingiu. Percebi que estávamos construindo aquela jangada para ela... Para que pudesse ir embora. Ela vai deixar a ilha, e eu talvez nunca mais vá vê-la. Esse fato me golpeou com força. Eu não quero que ela vá embora! Quero que ela fique aqui, comigo. Mas não posso pedir que ela fique, que largue a vida dela. Ela tem amigos, tem uma família, coisas que eu não tenho mais. Minha mente ficou pesada, e a dor no peito aumentou tanto que minhas mãos pararam de trabalhar, e eu simplesmente fiquei ali, perdido nos meus pensamentos.

Astrid: S/n? S/N? - Ouvi a voz de Astrid me chamando e dei um leve sobressalto, saindo daquele nevoeiro.

Eu: Q-que? - Respondi, ainda sentindo aquele mal-estar.

Ela olhava para mim com preocupação estampada nos olhos.

Astrid: Você está bem? Te fiz uma pergunta, mas você parecia distante, como se estivesse pra baixo.

Eu suspirei, sentindo minha voz falhar um pouco quando tentei explicar o que se passava na minha cabeça.

Eu: S-sim, eu estou bem, é só que... - Engoli seco - ... Eu pensei que, quando a jangada estiver pronta, você vai embora. E talvez eu nunca mais te veja. - Minha voz saiu baixa, e olhei para o chão, me segurando para não deixar as lágrimas caírem.

O silêncio se instalou por alguns momentos, e foi um daqueles silêncios que pesam no ar. Mas então, eu senti os braços dela se aproximando, e, de repente, ela estava ao meu lado, me envolvendo com um abraço de lado.

Astrid: Eu pensei nisso também... E, S/n, eu não quero me separar de você. Esses dias ao seu lado foram os melhores que eu já vivi, e, por tudo no mundo, eu não quero te deixar. - A voz dela era calma e suave, cheia de sinceridade - Mas... Eu tenho que voltar. Tenho família, tenho responsabilidades lá fora, e não posso ignorá-las.

Seus olhos mostravam que ela também estava dividida. Tudo que ela disse fazia sentido, mas isso não tornava mais fácil aceitar. Eu puxei Astrid para mais perto, até que ela estivesse sentada no meu colo, e então senti suas pernas ao redor da minha cintura, seus braços envolvendo meu pescoço. Aproximei-a de mim, apertando-a em um abraço apertado e afundei meu rosto em seu pescoço, respirando fundo e sentindo o conforto de estar ali, com ela.

Fechei os olhos, deixando que o momento falasse por si, e senti meu peito relaxar um pouco, embora a angústia ainda estivesse ali, quieta. Se ela realmente fosse embora, eu sabia que seria difícil, mas agora, enquanto ainda estávamos ali, eu queria aproveitar cada segundo.

Ficamos assim, apenas nos abraçando em silêncio por alguns minutos. Abraçar Astrid é como encontrar algo que eu nem sabia que procurava; sinto como se o mundo lá fora não pudesse nos alcançar. Depois de um tempo, ela quebra o silêncio com uma ideia que me pega completamente de surpresa.

Astrid: E se... você viesse comigo? - Ela pergunta, com uma esperança na voz que nunca tinha ouvido antes.

Eu: O... O quê? - Levanto a cabeça do seu pescoço, a confusão estampada no meu rosto.

Ela sorri, animada, e suas palavras saem num entusiasmo que me faz querer sorrir também.

Astrid: Quero dizer... Se você viesse comigo, não ficaria mais sozinho. Poderia conhecer meus amigos e, claro, conhecer a Tempestade! - O sorriso dela é contagiante, e sinto um calor percorrer meu peito só de vê-la assim, mas então, um peso recai sobre mim.

Eu: Eu... Eu não posso. - O sorriso dela diminui, e isso dói mais do que eu esperava - Astrid, por mais que eu... Que eu goste de você, eu... Ainda sinto um ódio muito forte pelos vikings. - Olho para ela, com medo de estar estragando tudo - Não consigo suportar a presença deles, e acho que não seria diferente com seus amigos, meu céu.

Ela abaixa o olhar, e ver a tristeza nela é como um golpe direto em mim. Não quero deixá-la assim, mas é a verdade... E ela merece a verdade.

Depois de um breve silêncio, ela me olha com firmeza.

Astrid: Então eu... Eu vou te visitar. - Me surpreendo com sua fala.

Eu: Você... Você vem mesmo?

Astrid: Sim, eu posso. - Ela parece tão convicta, e seu ânimo é como um sol atravessando uma tempestade - Venho te visitar algumas vezes por semana, e não precisa se preocupar com meus amigos. Eles não precisam saber, assim você fica mais confortável. Que tal?

Penso por um instante e sinto um alívio se espalhar por mim.

Eu: Parece incrível, meu céu. Eu adoraria te ver de novo e conhecer a Tempestade.

Sorrio largamente, e ela retribui o sorriso, iluminando o rosto. Nos abraçamos de novo, e sinto a paz voltando ao meu coração.

Depois de um tempo, me afasto e sugiro algo.

Eu: Ei, que tal eu ir pescar? Podemos descansar o resto do dia.

Ela sorri para mim e concorda, saindo do meu colo e me ajudando a levantar.

Astrid: Acho uma ideia perfeita, S/a.

Pego minha lança e a cesta, me despedindo com um último sorriso antes de me dirigir ao rio.

Volto algumas horas depois, com um bom tanto de peixes na cesta e um entusiasmo renovado. Ao chegar, encontro Astrid deitada no chão, olhando para o céu estrelado. Ela parece tranquila, absorta nas estrelas. Acendo a fogueira e coloco os peixes para assar, depois me deito ao lado dela, imitando a sua posição.

Passamos o tempo conversando sobre as formas das estrelas, dando nomes e inventando histórias para elas. Há um tipo de paz ali, entre o brilho da fogueira e o céu vasto acima de nós. Quando os peixes ficam prontos, comemos em silêncio, mas é um daqueles silêncios em que as palavras não fazem falta.

Quando terminamos, percebo que é hora de ir dormir. Num impulso, me viro e dou um beijo suave na sua bochecha.

Eu: Boa noite, meu céu.

Antes que eu possa me afastar, ela me puxa de volta e retribui o beijo na minha bochecha, também dizendo boa noite. Nossos olhares se encontram, e trocamos um último sorriso, calmo e aquecido. Em seguida, vou para minha caverna, levando comigo um sorriso que eu sei que não vai sumir tão cedo.

*Ajustando* Astrid e Leitor MasculinoOnde histórias criam vida. Descubra agora