Capítulo 13

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Vegas esperava no saguão do cartório, se alternando entre vigiar a porta, conferir a hora no relógio e retirar o celular do bolso para se certificar de que estava ligado. Sua camisa engomada estava dura e desconfortável sob o paletó do terno e a gravata nova parecia ser um laço em torno do pescoço.

Ele já tinha ligado para os telefones de Pete, o de casa e o celular, mas ele não atendeu. Tinha ligado até para Porsche, e também para Tay no escritório, mas ninguém tinha falado com ele nas últimas horas.

Um homem de bom senso já teria desistido há mais tempo, logo que percebesse que seu noivo não apareceria para o casamento. Ele deveria estar pelo menos um pouquinho zangado com Pete por abandoná-lo, mas, na verdade, já esperava por isso.

E ele bem que merecia.

Mas foi até bom. Era o empurrão de que precisava para entender o quanto tinha sido idiota. Que motivo lhe dera para acreditar que se casaria com Pete? Na certa Pete devia imaginar que ele não apareceria.

Ele de fato disse que queria se casar com ele, mas também dissera o mesmo aos outros dois. Falhou quando não lhe provou que com ele seria diferente.

Ele amava Pete e deveria ter dito isso a ele.

E bem que teve a oportunidade de dizê-lo. Naquela noite em que fizeram amor e Pete lhe disse que o amava, ele devia ter dito que o amava também. E mais tarde, quando admitiu que nunca dissera essas palavras, poderia ter dito então.

Poderia ter dito no hospital, ou em qualquer hora do outro dia em que passaram juntos sofrendo a perda do bebê. Tantas vezes as palavras estiveram na ponta da língua, prontas para ser ditas, mas alguma coisa sempre atrapalhava.

Talvez ele tivesse se acostumado a ser assim. Sua mãe foi a única pessoa que o amou e ela havia partido. Não por culpa sua, mas isso não diminuiu seu sofrimento.

Os seus tios talvez o amassem, mas, se amaram, nunca disseram para ele.
Habituara-se a não deixar as pessoas se aproximarem muito dele, não se permitira se apaixonar. Talvez ele ainda fosse apenas um garotinho que não queria mais sofrer.

Tarde demais, ele estava apaixonado por Pete. E a única coisa que conseguiu com isso foi magoá-lo.

– Eu o amo – disse para si mesmo, surpreso por ver que era tão fácil. Ele, inclusive, gostou do som da frase e de formar as palavras em sua boca.

Parecia... natural.

Ele se encaminhou para as escadas, pois já sabia o que tinha de fazer.
Estava na hora de dizer adeus ao garotinho e começar a agir como um homem alfa.



Pete não soube dizer quanto tempo depois do horário marcado para o casamento Vegas finalmente chegou. Ele estava sozinho sentado no balanço, no quintal, ainda de pijama, com as pernas encolhidas e os joelhos presos sob o queixo, imaginado se Vegas tinha aparecido. Devia estar tão zangado que nunca mais falaria com ele.

Então, a porta dos fundos se abriu e Vegas surgiu ainda vestido no seu terno.
Atravessou o gramado do jardim até o balanço, as mãos dentro dos bolsos da calça, e seu rosto parecia mais cansado do que zangado.

Nossa! Como ele ficava bonito de terno!

Quase tão bonito quanto sem terno nenhum.

O que havia de errado com Pete?
Acabara de rejeitar o noivo e agora ele o imaginava nu?

– Parece que se esqueceu de que tínhamos um compromisso esta tarde.

Pete encolheu-se de vergonha e olhou para ele com um ar arrependido.

– Me perdoe, Vegas.

– Não. – Vegas sentou-se no balanço ao lado dele e afrouxou a gravata. – Eu é que tenho de lhe pedir perdão.

Então Vegas não estava com ódio dele, não acreditou. Talvez achasse que ele merecia isso.

– Agi muito errado. Acho que...
fiquei com medo.

– Medo que eu lhe desse o fora? Ou simplesmente não aparecesse?

Pete balançou a cabeça, agradecido por ele ter falado por ele. E ainda mais agradecido por sua compreensão.

– Eu não lhe dei motivo para acreditar no contrário. – Ele lhe segurou a mão e entrelaçou seus dedos nos dele. – O que faz de mim o grande culpado desta confusão toda.

– Devia ter confiado em você.

Vegas riu, mas hão havia graça na sua risada.

– O que foi que fiz nesta vida para merecer a sua confiança? Eu o pedi em casamento? Coloquei um anel no seu dedo? E daí? Fiz a mesma coisa com os outras dois e não estou casado com nenhum deles, estou?

Droga, por que tocar na ferida? Será que desejava que ele se sentisse pior ainda?

– Não estou certa do que quer dizer, mas isto não está ajudando muito – disse Pete.

– O que estou querendo dizer é que eu sabia muito bem que você precisava de mim, mas fui covarde demais para lhe dar. O que falei sobre o anel tornar a coisa oficial era mentira. A única coisa que faz um relacionamento se tornar oficial é parar de agir como um tolo e dizer o que sinto.

– Eu podia ter perguntado – disse ele.

– Não precisaria ter que perguntar – disparou ele.

É verdade, não precisaria, por isso Pete não o fez. Pode chamá-lo de teimoso ou antiquado, mas acreditava que, quando se sente alguma coisa por alguém, é preciso dizê-lo.

Vegas ergueu-lhe o rosto pelo queixo para se fitarem nos olhos.

– Nunca pensei que fosse possível amar alguém da forma como amo você.
Talvez por isso mesmo não acreditei.

Pete podia sentir seus olhos se enchendo de lágrimas e seu nariz ardendo, e nem tinha como culpar mais os hormônios.
Vegas o beijou delicadamente.

– Eu o amo, Pete, de todo o coração.

Pete fechou os olhos e suspirou.
Nunca as palavras tinham soado tão doces ou significado tanto, pois sabia que vinham do coração.

– Eu também o amo, Vegas.

– Quero lhe pedir um pequeno favor.
Pode soar meio estranho, mas confie em mim.

– Está bem.

– Pode me dar o anel de volta por um minuto?

Era um pouco estranho, mas ele confiava nele. Pete retirou o anel do dedo e o colocou em sua mão.

– Acho que já está na hora de fazer isso direito. – Ele se colocou de joelhos à sua frente. Pete estava ofegante e começou a chorar. –  Pete Saengtham, me daria a honra de ser o meu marido?

– Sim – disse ele.

Vegas voltou a colocar o anel no dedo dele e Pete o envolveu num grande abraço.

– Sei que não queria uma grande festa de casamento, mas agora não tem mais escolha.

Pete afastou um pouco o rosto para olhar para ele e viu um sorriso ligeiramente malandro no seu rosto bonito.

– E por quê?

– Porque ao desligar o telefone depois de pedir sua mão em casamento aos seus pais, eles já estavam fazendo a lista.

– Você ligou e pediu a minha mão a eles?

– Eu disse a você que queria fazer tudo certo desta vez – disse Vegas, sorrindo.

Nossa! Agora era, definitivamente, o filho do ano. E pensar que apenas duas semanas atrás ele estava preocupado em ser excomungado.

– O que foi que você falou?

– Disse-lhes que estava apaixonado e que queria a permissão deles para me casar com você.

Pete mal podia acreditar que ele de fato o pedira em casamento.

– E o que foi que eles falaram?

– Todos os dois falaram que já não era sem tempo.


Descobrindo a Paixão - vegaspete ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora