2. End

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"Eu te odeio, eu estava apenas me enganando. Cada momento nosso, começo a substituir, porque agora que eles se foram, tudo o que ouço são as palavras que eu precisava dizer".
Before you go - Lewis Capaldi

Before you go - Lewis Capaldi

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24 de dezembro de 2023.
Whitville,Quiméria


O barulho estridente do despertador ecoa pelo quarto, arrancando-me do sono. Sento-me na cama e olho ao redor, observando a vasta escuridão que predomina no ambiente. Coloco meus pés descalços no chão frio e caminho até a janela, onde abro as cortinas. A luz invade o cômodo, rompendo a escuridão e clareando tudo ao meu redor.

O dia está lindo.

Passo em frente ao espelho e paro, encarando meu reflexo com um desespero crescente. A imagem que me encara de volta é de alguém quase irreconhecível. Meus olhos estão inchados e vermelhos, como se a dor tivesse se tornado um peso físico, evidenciado por cada linha e sombra abaixo das pálpebras. Meu cabelo está emaranhado, um caos de fios desgrenhados que mal lembram sua forma anterior, caindo desordenadamente ao redor do meu rosto. A pele, pálida e sem vida, está marcada por olheiras profundas e manchas escuras que me fazem parecer uma sombra de mim mesma.

Nunca imaginei que meu estado poderia piorar tanto. Sinto-me como um cadáver ambulante, uma alma perdida vagando pela vida. Olho para mim e me sinto como uma casca, um corpo que sobreviveu à própria existência, mas que perdeu toda a vitalidade. Cada imperfeição, cada marca na pele parece um testemunho silencioso da batalha interna que travo, um grito mudo de um cansaço profundo e implacável.

A mente ecoa com memórias de Erick, um tormento que se transformou em um vício doloroso. Ele sempre foi a fonte de tantas feridas, e ainda assim, sinto uma ligação inescapável com ele, como se fosse uma prisão da qual nunca consigo escapar. Pergunto-me como pude abandonar tantos sonhos e anos de esforço acadêmico por causa dele. Ignorar aulas e desconsiderar os próprios conselhos que uma vez ofereci com tanto zelo me faz sentir uma vergonha imensa. O peso da minha própria escolha, de ter me tornado uma psicóloga que não conseguiu se ajudar, pesa sobre mim como uma sentença.

Sou realmente tão burra assim? A sensação de derrota é esmagadora, uma lembrança constante de que, apesar de todo o conhecimento e experiência, sou incapaz de aplicar o que ensino aos outros em minha própria vida.

Já está na hora de encerrar essa dor de uma vez por todas. Apesar de todo o amor que sinto por ele, sei que essa é a decisão certa. Erick precisa desaparecer da minha vida, de preferência, retornar ao Brasil, de onde nunca deveria ter saído para perturbar minha paz.

O som do celular me tira dos meus pensamentos sombrios. Olho para a tela e vejo o nome de Erick piscando. Sinto uma onda de raiva e frustração, mas decido atender. Não vou ser mal-educada, especialmente porque hoje é o dia em que preciso acabar com isso. Não há mais adiamento.

Destino CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora