Nascer do Sol

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“Qual será a verdade absoluta sobre aquilo que nós mais questionamos?"

~ Autor Desconhecido


Acordo deitada em uma cama macia e cheirosa, e é estranho não sentir o peso das correntes e o desconforto do chão gelado invadindo minha pele.
Abrindo os olhos lentamente, consigo ver a janela com persiana fechada, mas brechas de raios de sol passam por suas brechas. Minhas roupas foram trocadas e uma coberta fina cobre meu corpo. Ergo a cabeça e olho para frente, visualizando o longo corredor multifuncional do grande trailer de Alex, ele está de frente para o fogão, preparando alguma coisa em uma frigideira, parece não perceber que estou acordada.
Me pergunto quanto tempo se passou e o que aconteceu com Adam. Será que também encontraram o cadáver de Nate?
Tenho de dar tapas leves em meu rosto para me certificar de que isso é real, e de que realmente não estou mais presa. Isso me dá vontade de chorar e me encolher na cama.
Mas a vontade não vem por inteiro, estou com raiva, muita raiva.

— Maria! — Alex desliga o fogão e corre até em minha direção, se aproxima da cama e me observa com cuidado — Você... O quê... Como...

— Me dê roupas novas, quero tomar banho.

Alex obedece minha ordem e pega um conjunto de moletom cinza para mim. Pego imediatamente e entro para dentro do banheiro, tiro minhas roupas com nojo e paro para me observar.
Meu pescoço possui grandes marcas avermelhadas com o formato de dedos, isso quer dizer que não saí do cativeiro a muito tempo, talvez a algumas horas. Meus punhos estão com uma silhueta roxa que representava as algemas, diversas cascas escuras de machucados se formaram.
Tenho de segurar o vômito na garganta quando olho para minha barriga, ao ver essa _coisa_ escrita... Não seria tão difícil cortar meu próprio pescoço e virar um cadáver admirável para peritos criminais. Quero arrancar a pele da minha barriga, mutilar toda a área e esperar regenerar, tampar, piorar a cicatriz. Tudo parece plausível.
Não consigo descrever a repugnância e o nojo que sinto quando olho para minhas partes íntimas, estou destruída, sinto pavor sobre mim mesma, Adam me transformou em uma aberração. Minhas coxas, panturrilhas, pés, joelhos, estão todos cortados e marcados por atos violentos. Quero apagar da minha memória tudo o que aconteceu, quero esquecer todos os detalhes de todo o tempo que fiquei presa no cativeiro.
Percebo estar chorando, mas não é um choro de desespero. Estou decaindo por não ser mais eu mesma, por ter perdido minha identidade, por me sentir tão fraca e insignificante a ponto de não querer continuar minha vida.
Passo as mãos pelos meus braços, minha pele está fria e escorregadia. Estou mais magra, a ponta dos meus cotovelos estão mais à mostra, juntamente com os joelhos mais visíveis.
Ligo o chuveiro, o barulho da água quando chega na banheira me assusta. O último banho que tomei foi doloroso, a água fria me deixava tremendo e Adam me abraçava para supostamente me esquentar. Ainda consigo ver os braços dele em volta do meu corpo, acariciando meus ombros, braços, dando beijos em meu pescoço.
Me certifico da água estar quente e após encher, entro com velocidade ignorando a dor dos machucados. Pego uma esponja nova de uma embalagem e esfrego meu corpo, arrasto o utensílio sob a pele até que esteja vermelho, estou suja daquele homem, e sinto que por mais que eu me limpe, nunca estarei livre dos horrores que ele deixou marcado em mim.

•••


Saio do banheiro usando as roupas de Alex e me sinto um pouco mais segura. Ele está sentado na cama com as mãos cruzadas me olhando com preocupação, mas não diz nada. Na mesa ao lado da cama possui panquecas e um copo com suco. Ele percebe meu olhar e olha para a própria comida

— Eu fiz para você. Deve estar com fome — Ele pega o prato com a mão e coloca a frente do seu corpo — Por favor, coma.

Ando até a cama e me sento ao lado dele, cruzo as pernas e apoio as mãos nas coxas. Alex coloca o prato de volta na mesa e me observa, não quero que diga algo, não quero que questione, não quero que deixe sua curiosidade tomar conta do corpo.
Os horrores passam pela minha cabeça novamente, não posso me esquecer que ele estará à minha procura, o trailer de Alex não é tão longe da faculdade.

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