Capítulo X: Novas Regras

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A notícia de que VH havia caído se espalhou como uma praga pelo morro. Ele estava no hospital Souza Aguiar no Centro se recuperando após uma troca de tiros intensa com a polícia. Victor acabou sendo baleado e se encontrava em estado grave, fazendo com que o morro todo ficasse em luto já aguardando o pior. Todos na Babilônia se sentiam tristes e desesperançosos. Os meninos do tráfico estavam revoltados e ficavam tentando criar um plano mirabolante para tirá-lo do hospital, porém a tia Tânia tratou logo de tirar essa ideia da cabeça deles, avisando que ela mesma iria avisar a polícia se eles tentassem alguma coisa. A vida do sobrinho dela estava em jogo e ela não iria deixar com que eles arruínassem tudo, o crime já destruiu demais a vida dele para terminar dessa forma.

Minha preocupação era Filipe. Desde a notícia, sua mãe disse que ele vivia enfurnado na casa do VH sem deixar ninguém ter contato com ele. Tia Tânia disse que não via o próprio filho pessoalmente há dois dias, desde que soube da notícia e só se comunicava com ele por telefone. Filipe com certeza devia estar tocando os negócios agora que o Victor caiu. Ele seria idiota a esse ponto de assumir algo que ele nem fazia ideia de como funcionava. Mas eu não iria deixar ele seguir esse caminho, não mesmo!

[...]

Apareci no morro em frente a casa do VH e alguns dos garotos que já cansaram de me ver ali estavam tentando impedir minha entrada. Cruzei os braços e bati o pé, eu não iria sair dali sem falar com Filipe, pois eu tinha certeza que ele estava enfiado lá dentro.

- Digão, sai da minha frente! Eu sei que o Filipe está aí, eu preciso falar com ele e é importante, é sobre a mãe dele.

- Foi mal aí, Miguel. O FP não está permitindo a entrada de ninguém, nem mesmo a dona Tânia pôde entrar e foi mó difícil barrar ela, ela chorou e tudo. - O Filipe barrou a própria mãe? Não acredito nisso...

- Pois comigo ele vai ter que falar. - Tentei passar pelos moleques armados que aos protestos tentaram me impedir, porém um deles me agarrou pelo braço e me arrastou para um outro canto fora da frente da mansão.

Tentei me livrar do aperto dele, mas aquele cara era forte e não aparentava estar muito paciente. Assim que fomos para longe do campo de visão de todos ele me soltou e me empurrou para longe dele. Tentei avançar novamente, mas ele ergueu seu fuzil e apontou para minha direção com uma expressão séria.

- Mete o pé moleque, vai fazer birrinha no asfalto, aqui não tem lugar pra playboy mimado não. - Eu nunca vi aquele garoto ali antes, ele tinha um cabelo cacheado, o rosto tatuado e um olhar penetrante. Parecia ter a minha idade mais ou menos e tinha lábios grandes e volumosos. O encarei semicerrando os olhos e ele continuou com a arma apontada para minha cara. Não tive medo, pois sabia que ele não faria nada comigo.

- Eu sou nascido e criado nesse morro, eu sou amigo do Filipe, você deve ser novo por aqui, só pode. - Não sei de onde saiu aquele moleque, mas com certeza ele não sabia que eu era filho do pastor Davi. Se soubesse jamais faria algo como isso.

- Foda-se quem você é, meu irmão! - Ele gritou colocando o dedo no gatilho e me olhando de forma ameaçadora. - Mete o pé, já falei. Vaza antes que eu perca a linha contigo.

- André, que porra é essa? - Filipe apareceu na janela dos fundos e observou o seu "funcionário" tentando me intimidar. O observei de longe e já percebi que ele estava diferente, com olheiras e um semblante mais sério.

- O playboy tava querendo cantar de galo, chefe. Tava botando ele no lugar dele. - Ele não tirou a mira de mim nem quando Filipe surgiu e isso só explicitava o quanto ele era novato ali naquele ambiente.

- Abaixa esse caralho dessa arma, porra. - André foi abaixando lentamente o fuzil e deu um meio sorriso para mim que não retribuí e continuei sério o encarando. - Miguel, o que você quer? - Filipe chamou minha atenção e eu o fitei.

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