Capítulo XIII: Mudança de Planos

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Miguel

Meus olhos abriram, porém eu continuava no escuro. Eu estava sentado no banco traseiro de algum carro, suponho, pois havia um banco na minha frente. Eu conseguia sentir  os meus joelhos esbarrando nele e sentia aquele incomodo de sempre por ter pernas longas e ficar espremido em lugares que não me cabiam direito. Eu não sabia muito bem aonde eu estava porém eu sentia um cheiro muito forte de gasolina e estava amordaçado, com os olhos vendados e completamente amarrado, pois conseguia sentir as cordas em meus pulsos e tornozelos que me deixavam imobilizado. Eu estava num veículo aparentemente parado e com cheiro de gasolina ao redor. Seria um posto ou algo do tipo? Não sabia ao certo. Eu ouvia barulhos de rádio, telefone tocando e conversas casuais. Eu não sabia onde estava e nem com quem estava, porém eu sabia que eu precisava sair dali o quanto antes. Tentei me mover lentamente sem saber ao certo qual direção tomar até decidi bater com a cabeça no vidro do carro que com certeza deve ser fumê. Meu intuito era chamar a atenção de algum transeunte para saber se havia alguém por perto que conseguisse me tirar daquela situação. Fiquei me debatendo na porta do carro e fazendo grunhidos, uma vez que eu não conseguia falar com a boca tapada com algum tipo de fita forte. Continuei batendo meu corpo contra a porta até que ela se abriu e eu senti algo metálico encostar na minha testa.

- Acordou, playboy? Achei que não fosse acordar tão cedo. - Aquela voz era do André. Fiquei parado até sentir ele me empurrar e eu cair deitado no banco traseiro. O marginal se aproximou de mim e tirou a venda dos meus olhos. Pude vê-lo e ele estava com um band-aid na testa e um corte no lábio inferior. Ele tirou a fita da minha boca com um puxão violento e isso doeu para um cacete, porém eu reprimi minha dor e o fitei com raiva.

- Onde nós estamos? - O questionei e ele suspirou entrando no carro, sentando e colocando a arma em seu colo. Me ajeitei no banco e o fitei com cautela. Eu tinha medo do que ele poderia fazer, mesmo ele ainda não tendo feito nada além de me amarrar e me dopar.

- Estamos na serra de Petrópolis. Deu tudo errado, playba. - Petrópolis? Nós saímos do Rio? Como assim? O que estava acontecendo?

- Como assim deu tudo errado? Do que você está falando? - Se eu bem me lembro, ele iria me entregar para o chefe do morro rival ao nosso e minha última lembrança era o cabelo platinado do Alessandro retornando para me buscar, porém ele não está por aqui. 

- O Lekinho estava armando para mim, ele e aquele filho da puta do Filipe. - André pegou na arma, a apertando com força, como se fosse usá-la a qualquer momento. Estremeci. -  Eles já tinham feito um acordo, o FP ia trair o próprio pai e dar o controle do morro pro Lekinho assim que VH saísse do hospital. Típico dele... covarde! - O traficante gritou repentinamente a última frase e eu me encolhi, arrancando um sorriso dele. Me recompus e o fitei.

- O que aconteceu? Por que estamos aqui?

- Eu tive que matar o Lekinho... - Ele olhou para a arma e logo após olhou para mim com um sorriso sombrio. - E tive que fugir com você para garantir que minha vida não fosse correr risco.

- O que? - Eu estava incrédulo, mas pelas feridas em seu rosto e sua aparência de cansaço ele com certeza teve que fazer bastante esforço nesse meio período em que estive apagado. Ele guardou a arma na cintura e pegou o seu celular que não parava de vibrar no banco da frente. Assim que olhou para a tela o seu sorriso se alargou ainda mais e ele apontou o celular para mim. FP Chefe. Era o Filipe.

- O seu namoradinho está ligando. - Era uma chamada de vídeo pelo whatsapp. Ele atendeu e pareceu se deliciar com o momento. - E aí, Lipe? Olha com quem eu estou... - André se aproximou de mim e beijou o canto da minha boca. Virei o rosto na hora, porém ele continuou com as investidas. - Manda um oi, baby. - Ele colocou a câmera bem no meu rosto e eu pude ver o semblante furioso do Filipe no outro lado da tela.

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