Filipe
Cheguei na casa do VH e estava tudo fechado. Cada cômodo escuro e silencioso aumentava a pressão sobre meus ombros tensos, mas eu não tinha tempo a perder; Miguel estava em perigo e o resgate exigia dinheiro imediato, eu precisava agir rápido. Dei a volta pela casa e fui para os fundos. Eu conhecia uma passagem pela janela do banheiro, era pequena, porém servia e eu conseguiria entrar tranquilamente na casa sem precisar arrombar nada, pois aquela janela vivia aberta.
- Merda! - Vivia. Justamente hoje alguém decidiu fechá-la, como se adivinhasse o que estava prestes a ocorrer. Tentei pensar em várias formas de entrar na casa até que sinto algo gelado na minha nuca.
- Fica paradinho aí, mermão. - Aquela voz... era Digão. Erguia ambas as mãos vagorosamente me rendendo. - O que diabos você está fazendo aqui? - Ele rosnou empurrando o cano da arma em direção a minha nuca. Estremeci, mesmo sabendo que ele não seria capaz de atirar.
- Qual foi Digão, sou eu, porra! O FP. - Congelei por um momento, o coração disparando.
- Eu sei, foi mal, cara. O Jairo falou pra não deixar ninguém entrar na casa. - Droga... é claro que ele imaginou que eu viria pra cá. O Jairo é um desgraçado.
- Digão, o Miguel foi sequestrado. Eu preciso entrar na casa, tem um cofre... - Novamente ele empurrou o cano da arma em direção a minha nuca, causando um leve desconforto.
- Não fala mais nada, Filipe! Chega, eu não quero ouvir, quanto menos eu souber é melhor.
- Cara, tu precisa me ajudar. Qual foi irmão, pelos tempos de antigamente... - Retruquei, minha voz embargada pela tensão e ele parecia relutar, porém eu não tinha tempo para aquilo, cada segundo era precioso. Eu precisava agir rapidamente.
Aproveitando a hesitação do Digão, eu me virei habilidosamente segurando o revólver, arrancando-a das mãos dele com astúcia, da forma que VH havia me ensinado uma vez.
- Filho da... - Digão não hesitou. Com um rugido de raiva, ele lançou um soco em direção ao meu rosto e eu consegui desviar por um triz, sentindo o vento do golpe passar por minha bochecha. Arremessei sua arma para longe e me ergui, contra atacando-o com um chute na direção das pernas, buscando desequilibrá-lo. O puto se manteve firme e ainda por cima tentou socar minha barriga, acertando-a em cheio. Cambaleei para trás com a mão no abdômen e mal tive tempo de me recompor, pois o gigante já vinha para cima de mim com tudo. Agilmente eu me desviei de seu golpe enquanto procurava aberturas para revidar e quando encontrei, devolvi o soco na boca do estômago que ele me dera há pouco. Conseguiu acertar um golpe sólido no abdômen de Digão, que grunhiu de dor, mas retaliou com um gancho poderoso que quase me derrubou. Fiquei zonzo, balancei a cabeça de um lado para o outro e me recompus sentindo o gosto férreo do sangue em minha boca.
Ambos estávamos feridos e exaustos, mas a determinação nos mantinha em pé. Eu não conseguia dizer mais nada e Digão também não escutaria, ele só estava cumprindo ordens e, aquela altura, eu já sabia que ele só queria que eu o nocauteasse para que ficasse claro que: ele tentou. Ele não me deixou passar por broderagem, ele lutou até não aguentar mais. Dava para ver em seu olhar que esse era o seu intuito. Jairo não o perdoaria se soubesse que ele tentou me ajudar de alguma forma, então eu teria que passar por essa muralha de dois metros com todas as minhas forças se quisesse salvar a vida do Miguel. Olhei em seus olhos marejados e assenti entendendo que seria uma luta justa até o fim.
- Beleza, então cai pra dentro negão. - Impulsionado pelo desespero e pela adrenalina, fui com tudo para cima dele e encontrei uma brecha e lancei uma série rápida de socos contra Digão. Alguns acertaram em cheio, outros foram bloqueados, mas cada golpe contava.
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Amor Marginal (Romance Gay)
RomanceMiguel e Filipe são completos opostos. Enquanto um é o filho prodígio do pastor o outro é o filho problemático de um dos maiores chefes do tráfico do Estado. A história de ambos se cruzam desde a infância e a paixão entre eles cresce cada vez mais d...