Capítulo II: Envolvido

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Filipe era um tosco. Aquele garoto era extremamente grosso e mal educado. Era incrível o sacrifício que eu tinha que fazer para ensinar o básico de etiqueta para ele. E ele não gostava tá? Falava que era frescura e que ninguém dava a mínima para isso, só que ele esqueceu-se que vivemos em sociedade e nossa aparência e comportamento contam muito quando vamos nos apresentar para as outras pessoas.

Estávamos na minha casa e eu estava dando aula de etiquetas para Filipe, exigências da própria mãe. Já era a milésima vez que eu estava tentando ensinar algo básico a ele, porém seu mau comportamento não deixava o mínimo de educação adentrar em sua mente, incrível...

- Filipe, a forma como você mastiga, como você senta, como você se porta pode decidir se algum recrutador vai te contratar ou te dispensar, sabia? Ninguém quer trabalhar com gente desleixada não... - A cara dele de tédio já dizia tudo. Nada do que eu falava parecia ter relevância para ele. Eu disse pra dona Tânia que eu tentaria transformá-lo num cidadão melhor, mas olha, estava sendo difícil...

- Até parece, Miguel. Ninguém liga pra essas regras que você fica falando aí, mano. Pô, se o maluco for ficar se preocupando em como ele vai respirar pra não desagradar os outros fica foda. - Ele não sabia construir uma sentença sem um palavrão ou alguma gíria. Eu achava engraçado o jeito dele, mas percebia que as outras pessoas não olhavam com bons olhos o modo dele se portar.

- Você não precisa seguir todas as regras, mas as básicas pelo menos...

- Mó encheção de saco isso. - O garoto levantou e saiu andando. Revirei os olhos e fui atrás dele, parando bem na sua frente de braços cruzados.

- Filipe, eu tô tentando te ajudar a conseguir um emprego pra você sair do tráfico, ou você quer viver igual ao seu primo? - Desde que descobri que Filipe traficava, eu tentava de todas as maneiras tirá-lo dessa vida. Confesso que no início usei isso contra ele para ficar e me aproveitar daquele corpinho gostoso às vezes, mas hoje em dia eu nem preciso disso. Tenho outras táticas. - Vai ser envolvido pra sempre até aparecer morto num valão, é isso?

- Como eu levo minha vida é problema meu. - Ele ficou irritado e me empurrou contra a parede. O empurrei de volta e fiquei cara a cara com ele.

- Tudo bem, faz o que você quiser então! - Gritei e saí andando, mas obviamente ele não me deixou ir. Filipe me pegou pelo braço com força e me puxou de volta para sua direção. Fiquei o encarando tentando me livrar do seu aperto, mas ele me segurava com força. Seus lábios próximos do meu e sua cara de malvado me deixavam fraco toda vez.

- Dá próxima vez que você gritar comigo...

- Me solta! - O interrompi com um grito e Filipe me calou com um beijo violento do jeito que eu gostava. Fiquei mole nos braços dele e deixei ele me conduzir e fazer o que quisesse comigo.

Nossos dias eram assim, entre tapas e beijos. Eu não o suportava, mas também não conseguia me ver distante. Nós estudávamos na mesma escola, mas éramos de turmas diferentes. Além disso, eu não gostava de andar muito com Filipe no intervalo e nem ele comigo. Primeiro que eu não queria ser visto com um traficante e ele, bem, ele não queria ser visto com um gay. Essa era a minha fama pela escola, embora ninguém tivesse coragem de falar na minha cara por eu ser filho do pastor da favela. Eu não ligava. Eu era de fato, gay. Mas isso não me tornava melhor ou pior do que ninguém, além do mais, eu estava esperando o momento certo para contar aos meus pais e me ver livre logo desse segredo. Inclusive, Filipe já tentou me chantagear com isso uma vez, ameaçando me expor. Ele só esqueceu que o dele também estava na reta, já que não era mais segredo nenhum que ele estava envolvido com o tráfico, ou seja, se ele ainda topava fazer certas brincadeiras comigo, é porque ele estava gostando e não porquê estava sendo chantageado como ele adorava ressaltar.

Amor Marginal (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora