Capítulo 3- Adversárias

122 22 15
                                    


Mina abriu a porta de sua casa, encharcada, respirando tão fundo, por finalmente estar segura em casa, que sua visão tornou-se turva pelo excesso de oxigênio sendo enviado ao seu cérebro. Ela sentia as pontas de seus dedos, roxas pelo frio da chuva, esquentando ao receber sangue circulante novamente. Após minutos de respirações escassas, sangue frio e lágrimas de terror e choque, ela enfim poderia descansar.

Ou, então, é o que ela gostaria de acreditar. Ela torcia para que se esquecesse de tudo tão rápido quanto tudo havia acontecido. Todavia, não conseguia fazer sua mente parar de pensar nas possibilidades do que haveria acontecido se não tivesse sido salva por aquela garota, Son Chaeyoung. Recordou-se de sua mão carinhosa tocando em seu ombro e sentiu um arrepio viajar por suas entranhas.

"Myoui Mina, onde você estava?" Sua mãe a aguardava na porta, desfazendo a cara de brava ao notar o semblante da filha. "Meu deus, olha só para você, toda molhada, o que aconteceu?"

Sachiko, a matriarca da família, correu em direção de sua filha, franzindo a testa em preocupação o suficiente para suas sobrancelhas se unirem em uma só linha expressiva. Ver sua mãe normalmente causava tristeza na adolescente, mas, após o ocorrido, ela sentia-se exorbitantemente satisfeita em fitar os traços cansados da mais velha.

"Me... desculpa..." Mina abraçou o próprio peito, sentindo seu queixo bater pelo frio, dificultando sua fala. "Eu... esqueci... meu guarda-chuva." A japonesa explicou. Parte dos calafrios que percorriam sua espinha eram causados pelo medo de ter que aguentar ainda outra possível surra.

Sua mãe assentiu, compreensiva, mais preocupada com a situação de sua filha do que lhe dar uma bronca pelo guarda-chuva. Sachiko era uma ótima mãe, ainda mais na ausência do general Akira. Todavia, suas orbes eram opacas, ausentes de qualquer resquício de vitalidade. Ela fora sugada pela vida.

"Certo, vá logo tomar um banho quente para se esquentar antes que seu pai chegue!" Sachiko deu um leve empurrão nas costas de sua filha, temendo, talvez, mais o marido do que a própria saúde da novata.

Mina concordou, correndo para o banheiro. Seus pés pareciam pesados por toda a roupa molhada apertada contra seu corpo. Para piorar, suas pernas ardiam feito o fogo por todo o esforço envolvido no balé. Droga, que dia maravilhoso.

A japonesa adentrou o cômodo, sentindo dificuldade de respirar. Apoiou as costas contra a porta, sentindo-se sã e salva enfim. Essa se despiu rapidamente, pulou dentro do box e ligou a água o mais quente possível. Após alguns minutos esquentando seu corpo, que estava em um meio processo de total congelamento, Mina conseguiu processar o que havia acabado de acontecer.

Algo muito ruim teria acontecido com ela se não fosse por Chaeyoung.

Mas, afinal, o que Chaeyoung estava fazendo lá? Mina esfregava seu corpo com força relembrando-se da cena dos homens com os latões. Ela não se recordava de ver Chaeyoung perto ou junto do grupo. Será que ela estava enganada e a coreana era, na verdade, parte da gangue? Recordou-se da maneira como ela havia gritado com eles. Por que ela carregava uma faca? Ela parecia tão confortável e natural ameaçando-os. Será que tudo não passava de uma armadilha? Mina ainda conseguia assistir em sua mente a reação de Chaeyoung ao olhá-la nos olhos, a surpresa, choque e medo estatelando-se sobre seu rosto. Por que ela havia corrido?

Tudo era muito incerto, afinal Chaeyoung era a vilã de Jeonju. Ela sabia veementemente, de acordo com tudo que seu pai desabafava sobre a criminosa, que Chaeyoung não tinha um pingo de moralidade ou bondade em sua alma. Tocou seu ombro em vão. Seus dedos não haviam aquecido a tez tal qual os dedos carinhosos de Chaeyoung.

Então, quais seriam seus motivos para ter salvo Mina?

------------------

Mina amanheceu com seu despertador, arregalando os olhos feito cortinas. Ela havia sonhado com Chaeyoung perseguindo-a com a mesma faca que segurava para ameaçar os homens na noite anterior. Assim que percebeu seus arredores, suspirou em alívio, pela primeira vez em um longo tempo ela sentiu-se grata por ainda poder ouvir seu alarme estridente.

HOPE NOT - MICHAENGOnde histórias criam vida. Descubra agora