Mina voltou de sua aula de ballet monossilábica.
Mesmo durante a aula, a japonesa tinha de forçar seus pés a funcionarem como deveriam. Uma fumaça parecia habitar em seu cérebro, alastrando-se por seus neurônios e axônios e trazendo o rosto de certa coreana incessantemente para seu consciente e impedindo que seu corpo pudesse reagir. Sua mente expunha o mesmo filme copiosamente, onde o enredo contava com uma discussão que tinha acontecido previamente no mesmo dia. A japonesa bufava tentando ouvir a música clássica que ecoava no estúdio, em vão. Então, desistiu, jogando-se sobre o chão de maneira desleixada e derramando lágrimas de frustração. Chaeyoung havia quebrado-na com aquela conversa.
A japonesa, exausta, guardou seus itens de dança dentro de sua bolsa e vestiu-se com um figurino mais adequado. Resolveu por voltar caminhando -por um trajeto iluminado e populoso- para sua casa. Mesmo em um caminho diferente, ela sentia seu coração acelerar toda vez que cruzava com grupos de homens, mesmo que esses vestissem uniformes escolares ou universitários. Suas mãos suavam sobre a tira de sua bolsa, que demarcava a tez pela força que Mina segurava o item. Ela definitivamente demoraria para esquecer o evento. Ainda, pegava-se desejando que certa coreana estivesse seguindo-a para que a defendesse.
Como ela poderia focar em qualquer coisa sabendo que ela tinha arrumado uma grande confusão com a garota mais perigosa de Jeonju? Relembrava–se das expressões intensas que pincelavam o rosto da menor, mais cedo no estacionamento. Ondas de eletricidade perpassavam suas pupilas, causando choques em Mina. Céus, se ela quisesse, poderia matar a japonesa. Será que seria capaz disso? Mina balançou a cabeça.
"Mina! Vamos, o seu pai já chegou." A senhora Myoui tamborilou com os ossículos dos dedos na porta do banheiro de sua filha.
A japonesa pulou dentro do cômodo, percebendo que estava novamente encarando o nada, sentada sobre a privada secando seus cabelos. Ou, no caso, ressecando seu couro cabeludo já completamente ausente de qualquer vestígio de gotículas de água. Não conseguia parar de pensar no ocorrido e, principalmente, Chaeyoung.
Mina desligou o aparelho e fitou seu reflexo. Olheiras um tanto proeminentes descansavam sob os olhos cansados de Mina. Ela não conseguia dizer se sempre fora assim por sua rotina assídua ou se estava enlouquecendo. Ela escovou os fios de cabelo arremessados para diversos lados, e desceu para jantar. Na mesa, algumas panelas vermelhas descansavam sobre a mesa, enquanto sua mãe tratava de embeber todos os copos com suco de melão. Seu pai encontrava-se impacientemente balançando as pernas enquanto já sentava em seu respectivo assento. Seus olhos fitavam a escadaria de forma infeliz e insatisfeita, com os lábios repuxados para baixo, pálpebras semicerradas e sobrancelhas unidas em uma só linha.
"Perdão, papai, estava secando o cabelo para não ficar doente." Mina explicou, olhando para seus pés assim que notou a expressão do mais velho.
O velho Akira respirou fundo, ajeitando-se em sua cadeira. Mina estremeceu, achando que apanharia. Suas pernas tremiam feito placas tectônicas. Ele cruzou os braços sobre a mesa, ainda sem fitar a filha.
"Tudo bem, sente-se logo." Mina assentiu, batendo a cabeça. Ela correu para sua posição, desesperada para que tudo acabasse logo e seu pai se esquecesse de seu atraso.
A família iniciou sua refeição, todos em completo silêncio. O barulho da respiração forte de Akira fazia com que ambas as mulheres segurassem seus talheres com força, quase como em defesa. Sachiko pigarreou em desconforto, mastigando os pedaços de alimento em seco. Deus, ela tinha de evitar algo terrível o quão antes possível.
"Como foi o trabalho?" Perguntou a matriarca.
Mina levantou os olhos.
"Foi o mesmo de sempre, passando o dia tendo que correr atrás de monstros da sociedade." Akira bateu os ombros. "Hoje foram uns ladrões." Ele riu em amargor. "Esses vermes estragam nossa cidade." Completou, limpando a boca, como se falar deles já o sujasse.
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HOPE NOT - MICHAENG
Storie d'amoreA física sempre fora impecável ao explicar os fenômenos da natureza. Exceto, claro, a força de atração, onde forças opostas se atraem, enquanto forças iguais se repelem. A sociedade de Jeonju desafiava a física estritamente- ninguém se misturava. Pe...