Mina mal havia conseguido pregar os olhos durante a noite. A jovem remexia-se sobre seu lençol perfeitamente esticado sobre seu colchão, sem qualquer resquício de humanidade. Tentava pregar os olhos continuamente, porém encontrava-se pensando na feição ofendida de Chaeyoung repetitivamente, como um pesadelo acordado. Ouvia sua risada amarga, repuxando os lábios de maneira tristonha, enquanto Mina falava. Ainda, escutava os discursos contínuos e tediosos de seu pai. Ela sentia-se culpada, atormentada, dividida.
Recordava-se da maneira que Akira contava sobre a família Son, repleta de criminosos. As histórias que ouvira de Chaeyoung eram recontadas a noite toda, atormentando-a com as narrativas que havia consumido. Recordava-se da vez que a coreana havia sido encontrada dirigindo um carro roubado. Ou a vez que a denunciaram por participar de brigas de gangues. Ou, então, a vez que foi apreendida por roubar uma televisão e depois devolvê-la seja lá por qual fosse o motivo.
Era justamente aquilo que a intrigava. Seus motivos. Claro, Chaeyoung com certeza havia sido pega fazendo besteiras... besteiras grandes. Afinal qual era sua vida por trás de tais ações? O quão ruim deveria ser a vida de uma adolescente para que estivesse inserida nesses contextos? Aquilo preocupava Mina, ela poderia ter julgado e ofendido alguém que já recebe isso da vida. Ou será que não? Chaeyoung agia como uma megera quando queria, mas, ao mesmo tempo, foi ela que salvou Mina. De qualquer forma, ela tinha de conhecê-la para poder determinar suas intenções.
Assim, por toda a agitação na noite anterior, Mina encontrava-se na manhã seguinte completamente destruída. A japonesa mal conseguia descrever como havia atravessado os portões de seu colégio, sequer se lembrava de ter levantado de sua cama. Havia uma fumaça habitando seu cérebro, confundindo sua memória e ocultando seus neurônios, tamanho o cansaço. Sua cabeça doía como se estivesse sendo estilhaçada por uma marreta. Seus olhos, que apresentavam manchas roxas sob as pálpebras, queimavam como se Mina não tivesse piscado há anos. A realidade lhe parecia distante e difícil de digerir.
Ela ajeitou os cabelos e alisou a saia, tentando manter-se acordada ao focar em qualquer detalhe de sua aparência. A japonesa se arrastava vagarosamente pelo corredor escolar, dando passos letárgicos e mantendo uma expressão vazia. Se aproximou das três amigas, que sentavam sobre o banco que conheciam bem. Cumprimentou-as com um leve aceno desistente. A conversa animada pausou-se assim que a presença da garota fez-se no local.
"O que aconteceu com você? Isso tudo é felicidade de nos ver?" Jeongyeon sussurrou brincando, ainda em um tom preocupado.
O cérebro de Mina parecia martelar contra seu crânio cada vez que um maldito estudante respirava. Logo, as vozes de suas amigas não pareceram lhe causar conforto, em vez disso trazendo seu desconforto e cansaço à tona. Era ainda mais difícil falar com elas naquele momento. Mina sentia vontade de socar qualquer um que usasse a borracha contra o papel ou derrubasse uma lapiseira dentro da sala-de-aula depois que o sinal tocasse. Queria evaporar, e, uma vez que isso fazia-se impossível enquanto sonho, gostaria que todo o restante do mundo evaporasse em vez disso.
"Eu não dormi nada, eu explico depois." Mina respondeu com um risinho curto, agradecendo internamente por ter evitado suas amigas. Naquele dia em específico, em que seu humor era um tanto escasso para responder às piadas e brincadeiras, ela tinha de segurar-se para não desferir socos nelas. Claro, com muito amor envolvido.
Os olhos de Mina estavam quase se fechando quando o sinal tocou baixinho e sua colega de turma, Jeongyeon, lhe deu um empurrão, quase a derrubando no chão, ainda insuficiente para que a japonesa realmente acordasse. Mina ajeitou-se lentamente para sua aula vaga, caminhando junto de sua amiga, apoiando a sua cabeça sobre o ombro da mesma enquanto andavam. Jeongyeon desferia piadas para tentar arrancar risos da menor, em completo vão.
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HOPE NOT - MICHAENG
RomansaA física sempre fora impecável ao explicar os fenômenos da natureza. Exceto, claro, a força de atração, onde forças opostas se atraem, enquanto forças iguais se repelem. A sociedade de Jeonju desafiava a física estritamente- ninguém se misturava. Pe...