Capítulo 1- O aquecimento

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A vida é repleta de reviravoltas contínuas e constantes. Nada nunca está completamente cimentado, garantido, finalizado. Há uma compreensão comum entre os indivíduos de que o trabalho árduo pode garantir a mesmice saborosa e vitoriosa. Todavia, essa é uma das falácias contadas para garantir a alienação humana em sociedade. Isso porque, quando você menos espera, uma marreta pode atravessar o que construiu com seus próprios braços e acabar com tudo.

Tudo aquilo que poderia ser considerado estável por você pode facilmente ser destruído por algo ou alguém que pouco se importa com o quanto demorou para que chegasse a esse ponto. A destruição é justa, acopla-se nas vidas de todos aqueles que respiram, sem se importar com o contexto dispensável. Ela pouco se preocupa com o esforço envolvido naquilo que toma, ela faz-se universal, presente em todas as constituições. A única certeza que acompanha o viver são as constantes mudanças. Uma vez que não existem mudanças, não existe a vida.

Guarde isso com carinho dentro de sua mente, porque a destruição não irá te poupar. Só é uma questão de tempo, pois isso com toda a certeza irá acontecer com você também.

Porém, o quão ruim uma destruição pode ser?

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A vida de Mina sempre fora baseada na mesmice monótona. O despertador tocava e a acordava, ela se trocava, e descia para o café da manhã. Seu pai a fazia ler o jornal para sua família, e depois permitia que comessem. Eles discutiam o trabalho do pai, e escutavam o velho Myoui resmungar sobre casos que nada mudariam em suas vidas, mas era quase obrigatório fingir que se importavam senão Akira perdia a cabeça e fazia com que todos pagassem por suas vergonhosas negligências. Então, Mina caminhava para a escola e, lá, encontrava suas amigas. Depois da aula, Mina ia para suas aulas de dança, e depois voltava para casa, esperava seu pai voltar do trabalho para jantar, estudava um pouco e dormia.

A história se repetia sempre, e nada mudava. Feito um filme rebobinado diariamente, suas engrenagens viviam dentro da cabeça dos Myoui. E não havia segunda fita, créditos finais ou diferentes temporadas. Era sempre a mesma mesmice.

A verdade é que não poderia se mexer em um time que estava ganhando. E para Akira Myoui, o velho policial japonês da cidade de Jeonju, o time não poderia perder, afinal ele era o técnico.

Mina poderia contar nos dedos as vezes em que resolveu fazer algo diferente. E todas vieram com consequências. Seja uma semana sem seu celular, ou uma bela marca roxa em seu traseiro que continha os buracos das fivelas do cinto do general. De qualquer maneira, quando a fita, sua vida, tinha de ser pausada ou mudada, as consequências não perpassavam o filme, ou método de vida. Pelo contrário, o resultado era sempre implicado nas engrenagens, ou a cabeça, dos Myoui. Não havia escapatória, o filme ainda havia de ser exibido.

Portanto, Mina preferia permanecer na monotonia do que ter que implorar pelo perdão ao sair da mesma. O preço de viver em completa mesmice era caro, mas as multas por quebrá-la eram ainda piores. O seguro parecia mais saboroso, e a cega submissão também.

"Mina!" Nayeon gritou do outro lado do corredor, balançando os braços alto, encostada nos armários vermelhos.

Mina mal havia saído de sua transe ao entrar na escola, e pulou ao ouvir seu nome sendo chamado tão cedo de forma tão estridente. A garota apertou a mochila contra os ombros, olhando ao seu redor.

Nayeon não tinha a menor noção. Todos estavam agora encarando a dupla com feições irritadiças. E o pior de tudo era que todos já estavam acostumados com a voz estridente e postura espalhafatosa da garota. O ódio já havia se diluído em irritação pela coreana do terceiro ano do ensino médio agir sempre de forma escandalosa.

HOPE NOT - MICHAENGOnde histórias criam vida. Descubra agora