11. La Push

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Ainda estava escuro lá fora quando eu tropecei no tapete e caí de cara no chão. Era por isso que eu não fazia nada pela manhã antes das minhas duas xícaras de café. Eu fiz uma careta e resmunguei durante todo o processo de me vestir com jeans e suéteres. Eram 4 horas da manhã de um sábado, e o meu humor não era dos melhores.



- Você está pronta para ir, Kate? - Charlie perguntou enquanto estava parado na porta da frente, totalmente animado para a madrugada.



- Humm. - Eu resmunguei, enquanto entrava no carro.



A viagem até La Push foi silenciosa, o que pode ter acontecido porque eu adormeci quase assim que partimos. Charlie não pareceu se importar, apenas me cutucou assim que chegamos.



- É bom ver você de novo, Billy - Eu o cumprimentei enquanto ajudava Charlie com o equipamento. No mínimo, o ar frio da manhã serviu para me acordar.



- Bom dia, Kate. É bom te ver de novo. - Billy disse, pegando o balde com as iscas.



- Olá, Kate - Jacob bocejou.



- Bom dia, Jake.



Eu apenas sorri junto com a conversa fiada padrão enquanto acompanhava eles três até a praia.



- Não vou demorar - Charlie garantiu, enquanto ajudava Billy a entrar no barco.



- Não se preocupe com isso.



Um vento fresco soprava vindo das ondas, trazendo consigo uma sensação fria e salgada. Pelicanos flutuavam graciosamente nas águas, enquanto gaivotas e uma águia solitária pairavam acima deles. As nuvens ainda pairavam no céu, ameaçando invadir a qualquer momento, mas por enquanto o sol brilhava corajosamente em meio ao seu halo de céu azul. Era uma paisagem bonita.



- Você quer ficar aqui ou quer ir para a minha casa? - Jacob perguntou, erguendo uma sobrancelha.



- Gosto daqui.



- Eu também - ele começou a caminhar pela praia - Então, como anda a vida?



Eu rir enquanto o acompanhava.



- Um caos.



- Sério? - perguntou ele de brincadeira. - Não parece.



- As aparências enganam.



Ele abriu um sorriso brilhante.



- Aposto que sim.



Jacob caminhou até um tronco caído próximo dali, cujas raízes se estendiam para fora como as pernas frágeis de uma aranha gigante. Ele se apoiou suavemente em uma das raízes retorcidas, enquanto eu me sentei abaixo dele no tronco. Nós dois olhamos para a praia, o barco de Billy era um pontinho no horizonte.



- Você acredita em universos paralelos? - perguntei de repente - Ou vida após a morte?


- Fui criado para acreditar - ele deu de ombros.



- Como assim?



- Conhece alguma de nossas histórias antigas? - começou ele.



- Na verdade não - admiti.



- É muita coisa pra se falar, mas apenas digamos que essas terras são cercadas de magia ou algo assim. Todo quileute acredita nessas coisas. - Ele sorriu, para me mostrar como dava pouco crédito a essas histórias. - Existem lendas que falam sobre lobos, vampiros, maldições, portais para outros mundos...



Olhei para Jacob com os olhos arregalados.



- Portais para outros mundos? - sussurrei, incrédula. Todo esse tempo pesquisando. Todo esse tempo sem saber o que estava acontecendo e a minha resposta estava aqui. Bem aqui! - O que você quer dizer com isso?



- Epa. Não posso falar nada sobre as nossas lendas.


- Ah, eu não vou contar a ninguém, é só curiosidade minha. - Olhei para ele com seriedade, esperando disfarçar minha impaciência.



Ele mordeu o lábio inferior.



- Bom, não é grande coisa. - A voz dele ficou um pouco mais baixa. - Os meus antepassados acreditavam na existência de outros mundos. Não me refiro a outros planetas, uma vez que estes fazem parte do nosso próprio mundo... Estou falando de um mundo completamente diferente. Uma natureza distinta, um universo alternativo, um lugar inacessível mesmo que se viajasse infinitamente pelo espaço do nosso universo... Um mundo que só poderia ser alcançado através da magia...


- E como fazemos para viajar por esses mundos?



- As histórias dizem que existem portais ao redor do nosso mundo, mas não dizem como atravessá- los ou como encontrá-los. - Jacob sorriu - Me lembro que quando eu era criança corria pela floresta em busca deles.



- Talvez esses portais não sejam físicos - eu murmurei, a dor de cabeça já estava começando a aparecer - Talvez eles se abram por uma série de fatores.



- Como assim? - ele perguntou, me lançando um olhar intrigado.


- Imagine isso - eu me virei completamente para ele - Nós dois existimos neste mundo. Aqui, nós dois somos amigos. Mas em outro universo, existem outro Jacob e outra Kate. Nesse outro universo, é possível que a gente nem se conheça. Agora, imagine que, por uma coincidência do destino, uma versão minha acabe em um lugar onde suas terras são consideradas mágicas, ao mesmo tempo em que eu e durante um fenômeno natural...



- Sim. Isso seria... talvez não como atravessar um portal... - Jacob murmurou numa voz de dar calafrios. - mas seria mais como uma...



- Troca de corpos. - Eu disse, apavorada. Se eu estou aqui, então a Kate Swan, a verdadeira Kate desse universo está em coma no meu mundo.



- Você está arrepiada - Jacob comentou, pegando o meu braço.



- Acabei de ter uma revelação.



- Você acredita mesmo nisso?



- Você não?



- Não mais.



- Jake, imagine que eu não sou a sua Kate. Imagine que eu sou de outro mundo. Imagine que, durante uma lua de sangue, acabei me afogando em um rio e acordei no corpo da sua Kate, que, por coincidência do destino, também tinha caído em um lago no mesmo momento que eu.



Jacob ergueu uma sobrancelha.



- Hipoteticamente?



- Hipoteticamente - eu concordei.


- Hipoteticamente eu diria que isso é impossível. Primeiro porque a lua de sangue só vai acontecer daqui a quatro meses. Segundo porque, francamente, isso tudo é história para criança dormir.



- Como assim a lua de sangue só vai acontecer daqui a quatro meses?



- Você não está sabendo? Esse é o evento da década, Kate. Até o baile de formatura no final de ano vai ser com esse tema.



"Kate, você está me ouvindo não é? Eu preciso que você se lembre disso, Kate. O portal para a nossa realidade vai se abrir. O seu tempo está acabando. Se você não voltar durante o próximo eclipse da lua de sangue... você vai ficar presa nesse universo para sempre."



Eu tinha quatro meses. Era isso que a Lily queria dizer quando ela disse que o meu tempo estava acabando. O eclipse ainda não tinha acontecido nesse universo. O portal iria se abrir e, se eu tivesse sorte, poderia voltar para o meu corpo. Kate Swan também retornaria para a vida dela. Será que ela tinha saído do coma no meu universo? Talvez sim, eu tive a sensação de senti-la naqueles poucos segundos antes de retornar para cá.

lost in twilightOnde histórias criam vida. Descubra agora