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•Rafe Cameron•

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Rafe Cameron

       Entrei no quarto de hotel que mais parecia uma casa e bati a porta me inclinando para tranca-la com um pequeno cartão de acesso que ganhei na recepção. Me virei para a cozinha americana e os cabelos negros dela estavam no meu sofá, sua cabeça apoiada na almofada gigante com pequenas ondas formadas, como o mar na tempestade.

Ela sabe que eu entrei, eu sei que ela está aqui, ela sabe que eu sei, mas continua imóvel por algum motivo que não entendo.

Não sei o que falar. Não quero que ela saia, mas meu orgulho está ordenando que eu a mande sair imediatamente.

Conflito se dissemina pela minha mente e a única coisa que consigo fazer é buscar um copo de água da geladeira.

— o que queria lá?— perguntou com sua voz indiferente. Não estava brava comigo, nem feliz em me ver, nem sarcástica, nem curiosa e muito menos confusa.

Nada

— respostas— respondi e ela suspirou ainda encarando o vazio da sala ao invés de se virar e olhar para mim.

— as conseguiu?— perguntou

— posso dizer que sim

Ela se levantou e caminhou até mim, que segurava um copo vazio nas mãos perto o suficiente

— então fique longe da minha mãe. Ela é a única coisa que me sobrou e você não vai foder com ela como fez com o JJ e com a minha... a minha avó— ela se custou a dizer o fim da frase

— O JJ foi por que é um idiota de merda e sua avó se foi por que você era burra de mais para perceber os sinais— ela recuou um passo— minhas mãos estão limpas

— limpas?— perguntou sorrindo em escárnio igual a sua mãe

— você quem não percebeu a ligação da sua família com a minha. Por que a festa da Sara foi na boate, por que você foi ao solstício, por que o escritório da sua avó estava revirado? hm?—
Ela estava fraca como uma pena diante das minhas palavras, mas queria se manter o mais aparentemente forte possível em minha frente. Se ela soubesse que isso só me prova ainda mais o contrário.
— a questão é que você estava olhando apenas para você...

— e para você.

a rapidez e a eficiência de suas palavras vou como um soco em meu estômago. Estava surpreso por vê-la confessar.

Foi a minha vez de deixar escapar um pouco de fraqueza. Ela por um segundo poderia ser minha para sempre, só de imaginar que tudo poderia ter dado certo um dia, faz meu peito doer de raiva. Porra, era para ser nós dois.
Com que olhos eu poderia olhar para ela depois de sua sinceridade ser distribuída para mim. Ela confiou tanto em mim.

— eu não queria deixar o Ward livre. Não pense que eu o considero meu pai.

— considera sim.— ela disse.
— por que você ama ele e precisava que ele olhasse para você pelo menos uma única vez com orgulho e gratidão.

— não,— desviei o olhar para o chão— eu não...

— eu sempre fui sincera com você, eu confiei tanto em você. Sua família destruiu tudo o que eu tinha, e eu amava tanto a minha família.— ela disse fazendo minha cabeça voltar a doer como doeu antes de eu visitar a casa de Tabta.— mas eu também amava tanto você...

— Ali...

— eu deixei as ordens do meu irmão por você. Quando tudo desmoronou eu só tinha você, eu confiei tanto em você, e... talvez, só talvez, se você tivesse me contado a verdade, se tivesse confiado em mim e fosse sincero comigo, como eu fui sincera com você, eu poderia ter te perdoado, poderíamos seguir juntos e esquecer tudo.

me aproximei um passo e ela fechou os olhos. Era dor. Estamos sentindo o mesmo.

— como posso te pedir desculpa minha pequena?— a proximidade me deu um pouco do seu cheiro. Toquei seu rosto pela primeira vez depois de anos e o toque queimava.
— meu arrependimento não seria sincero. Eu sempre escolheria você ao invés dele, mas minha família estava contando comigo.

— eu nunca vou entender a necessidade de uma assassino em chegar em casa para seus filhos depois de tirar os pais de outra pessoa.

— não se trata de nenhum deles agora, se trata de nós dois— cortei a conversa indesejada que entraríamos novamente no ciclo vicioso do nosso rancor.

— nós...

Ela recuou um passo para trás afastando nossos corpos novamente e me deixando com frio por sua distância. Ela fungou com os olhos marejados e cílios molhados e grandes. Alice me olhou com mais clareza e menos dor. Ela limpou os olhos e caminhou até a porta da minha sala para abrir e sair de uma vez.

— Ali— ela se virou e me olhou— eu também te amava.

Seu corpo tremeu e sua boca se contorceu para um choro que foi segurado com toda a força que ela tinha dentro de si. Ela virou o rosto e saiu batendo a porta.
Despenquei na cadeira da sala de jantar e passei a mão pelo cabelo segurando minha nuca. Eu ainda a amo.

O vaso de plantas que enfeitava a mesa de jantar com vidro foi arremessado contra a parede se tornando vários no chão. As flores caíram formando uma poça de água no carpete.
Ela deveria ter sido minha.

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Alice Dlourents

      Usei todas as forças que eu tinha, mesmo estando totalmente esgotada e fui até o saguão do hotel caminhando até o bar. Tudo aqui era tão lindo, era enorme feito em prata e branco, trazia todo o litoral aflorado em suas paredes e eu me sentia dentro de uma caixa escura mesmo assim.
Não foi preciso pedir para que a bebida aparecesse na minha frente em um copo assustadoramente desejado.

A sensação do álcool entrando na minha boca e flamejando minha língua e queimando minha garganta era adrenalina, mas depois todo o meu corpo esquentava de uma forma pacifica, eu sentia aliviado instantâneo. Tenho tido poucas sensações boas ao longo desses anos, mas essa é a única que me acompanhou desde que eu me separei dos meus amigos, da minha família e de Rafe.
Não demorou para o meu copo se encher e eu o esvaziar no mesmo segundo. Continuei nesse ciclo por muito tempo

— Liz?— A voz de JJ fez meus olhos pesarem.

Não, não, não.

Eu não quero conversar, nem me explicar, muito menos receber um sermão ou algo do tipo. Eu só quero beber para esquecer esse kook maldito.

— O que você... ai meu Deus tem uísque na sua blusa?— revirei os olhos com a sua observação. Nossas camisetas sempre estavam sujas de álcool quando servíamos bebidas aos bebados do cut. Agora que estamos no Figure 8 não podemos nos sujar?

— grande coisa.

— você ta chapada?— perguntou sorrindo

— perdi meus traficantes faz tempo.— respondi e ele se sentou ao meu lado pedindo mais algumas doses da mesma coisa que eu bebia.

𖥸 Solstício de verão- Rafe Cameron 𖥸Onde histórias criam vida. Descubra agora