Tudo Que Deixei De Dizer [ODANGO]

IV- Mesmo a Terra insiste em se auto-destruir

"Amor nos deixa louco, ou nos impede de enlouquecer?"
》◆28/08◆《

Cheguei em casa mais cedo do que o esperado. Ainda eram dez horas da noite quando entrei pela porta da sala. Para minha felicidade, encontrei Ango no lugar de sempre, organizando sua papelada.

— Estou em casa! — Avisei, fazendo seus olhos saírem dos papéis por alguns segundos, coisa que não acontecia nos outros dias.

— Bem vindo de volta! — Ele respondeu, sorrindo. Eu sou particularmente ruim em ler as pessoas, mas Ango parecia até que... feliz em me ver.

E, obviamente, aquilo me deixou feliz.

— Você comeu a marmita que eu deixei na geladeira? Eu te deixei um bilhete do lado do travesseiro... — Perguntei. Me lembrar de que eu dormi ao seu lado foi um pouco constrangedor, mas eu não me importava.

— Sim, comi sim... — Ele respondeu, fazendo o que podia para esconder um sorriso.

— Que bom! — Afirmei, sem saber muito bem o que eu deveria responder.

Ficamos em um silêncio incômodo, cada um esperando a fala do outro. Não sabia se aquele era um bom momento para me confessar, então permaneci calado.

Me lembrei da conversa que tive com Mori, então pensei que seria bom avisar Ango.

— Ango, eu acho-

— Oda, eu acho que est-... — Nós acabamos falando ao mesmo tempo. Ango, que já não estava mais focado em sua papelada, limpou sua garganta em um gesto envergonhado — Hm... pode falar primeiro!

— Não, não, vá você! — Eu pedi, curioso sobre o que ele tinha a dizer.

— Eu insisto! — Ele afirmou, seu tom firme.

— Tá bom, ok... — Cedi, retomando minha fala. — Eu acho que não vou voltar para casa amanhã...

— Por que não? — Ele perguntou, parecendo até um pouco decepcionado.

— Eu tenho um trabalho a fazer, no porto... — Eu contei, coçando minha nuca. Seus olhos se arregalaram.

— Não vá! — Ele pediu... Na verdade, não parecia um pedido, mas sim um aviso. — Não vá lá amanhã.

— Por que não? — Perguntei, com o mesmo tom de voz que ele. Seus olhos se arregalaram mais ainda, mas ele não respondeu.

— Só... fique em casa — ele pediu, mas eu sabia que não era só isso.

— Por quê? — Eu repeti a pergunta. — O que você sabe?

Ele abaixou a cabeça. Eu não queria forçá-lo a responder, até porquê eu mesmo já sabia a resposta.

— Vai ser outra emboscada... — Ele contou. — Dessa vez, foi Mori quem a planejou...

Suspirei, cansado. Eu sabia!

— É... acho que não é surpresa... — Eu disse, me sentando ao lado de Ango no chão da sala. Eu não estava decepcionado, muito menos bravo, com Ango, então não havia motivo para tratá-lo de um jeito diferente do que o normal. Encostei minha cabeça em seu ombro, delicadamente. Mirei seus olhos ao me dirigir a ele. — O que você queria dizer?

Já não era a primeira vez que eu prestava atenção em seus olhos, mas naquele dia, eles pareciam brilhar com ainda mais cores. Ele abriu sua boca, com a intenção de falar, mas logo a fechou denovo, desviando seu olhar e voltando para sua papelada.